Em entrevista realizada em São Paulo, diretor revela que Guardiões da Galáxia Vol.2 é seu projeto mais pessoal até o momento
Ao longo do disputado painel de Guardiões da Galáxia Vol.2 que rolou na Comic Con de São Paulo, o diretor James Gunn parecia genuinamente surpreso com a acolhida dos milhares de fãs que berraram desesperadamente com a exibição de vídeos misturando a fofura do Baby Groot com a sensacional vergonha alheia causada pelo Drax. Mais do que surpreso, eu diria: James Gunn tava bem emocionado. “Vocês tocaram de verdade o meu coração no dia de hoje. Eu quase chorei no palco”, disse ele, horas mais tarde, no Twitter.
Compreensível. Gunn não é apenas o diretor do filme — há um pouco dele no meio de toda essa história, como ele explicou em entrevista realizada horas antes do painel. “[O Rocket] sou eu. Ele se sente completamente deslocado, ele é esquisito, ele é criado em laboratório como eu fui”, afirmou, aos risos.
Fazendo jus ao DNA do primeiro filme, misturando aventura espacial, momentos sensacionais de comédia e aquele peso emocional de fazer tanta gente chorar (#SomosTodosGroot), Guardiões da Galáxia Vol.2 é um filme sobre família. É sobre pais e filhos, com Peter Quill encontrando Ego, o pai verdadeiro, enquanto lida com a presença de Yondu, o sujeito pouco elogiável que o criou; é sobre Gamora e Nebula, duas irmãs que se odeiam e precisam aprender a lidar uma com a outra; e é sobre o Drax assumindo definitivamente o papel de “tiozão do pavê”, que não entende nada do que tá acontecendo e que sequer percebe o quanto está constrangendo todo mundo ao seu redor.
E aí temos o Rocket, que não tem mais o amigo Groot ao seu lado, mas sim um bebê para tomar conta, que se sente meio que à parte no meio de tudo isso, pequeno, peludo. Como diabos eles seriam sua família? “Eu acho que Guardiões da Galáxia é o meu projeto mais pessoal, em especial o Volume 2. Não consigo pensar em nada mais pessoal. É sobre mim, é sobre minha relação com o meu pai, sobre como estes caras se relacionam entre eles”, explica.
No fundo, o que eu queria mesmo era fazer o melhor filme que eu conseguisse. E sinto que foi isso que fiz com este segundo filme: contar a história mais poderosa, mais divertida e ao mesmo tempo triste que eu conseguir
James contou ainda que rolou uma conversa, entre os produtores, a respeito de como ele seria MESMO perfeito para o cargo de diretor deste filme. “’Cara, o James Gunn parece ter sido criado em laboratório especialmente para dirigir os Guardiões’”, diverte-se. “Eu cresci amando os gibis da Marvel, eu amo space operas como Star Wars, meu animal favorito quando eu era criança era o guaxinim, eu colecionava figurinhas de guaxinins. Isso é REALMENTE tudo que eu sempre quis fazer na vida”.
Mas, como fã, será que ele não sente um pouco desta pressão dos próprios leitores/espectadores, o cara que usa um cosplay de Senhor das Estrelas ou sai de um evento como este carregado de memorabilia do Groot? “Nem um pouco”, resume. “A única pressão que eu sinto vem de mim mesmo. Me sinto abençoado por ter feito, da primeira vez, um filme tão honesto, um filme que eu amo, que se conectou com as pessoas. Foi assim que eu fiz o primeiro e é assim que fiz o segundo. Eu queria que os fãs ficassem felizes? Claro. Mas no fundo, o que eu queria mesmo era fazer o melhor filme que eu conseguisse. E sinto que também foi isso que fiz com este segundo filme: tentar contar a história mais poderosa, mais divertida e ao mesmo tempo triste que eu conseguir”.
Por se tratar de um cara que veio do mundo do cinema independente, James Gunn diz que sabe perfeitamente que as pessoas não acreditam, por exemplo, quando ele conta que os engravatados e endinheirados da Marvel lhe deram ZERO direcionamento criativo. “Quando digo isso, as pessoas ficam surpresas, mas é verdade. Não me disseram que eu deveria colocar este ou aquele personagem, nada. Eu escrevi o primeiro, saiu, foi um sucesso, me tranquei no meu quarto e pensei: bom, e agora, como quero que o segundo seja?”. O que James Gunn tinha na cabeça, essencialmente, é que “meio” que queria que fosse uma história sobre Peter Quill e o pai dele. “Eu tinha esta linha narrativa. Mas quando fui escrever de verdade, foi pra pensar em como eu surpreenderia as pessoas, em como eu traria mais coração e mais emoção para um filme com esta pegada de espetáculo. E foi o que eu fiz. Levei pros caras da Marvel, eles podiam dizer ‘sim’ ou ‘não’. E disseram ‘sim’. E é isso”.
É claro que podemos esperar muitos easter eggs neste segundo volume, conforme ele mesmo garante. “Na verdade, temos um time de gente desesperada pra espalhar estes easter eggs no filme todo. Meu assistente ficava: vamos lá, vamos colocar uns aí, pega umas imagens antigas da Marvel pra colocar no fundo desta cena”. Mas ele deixa claro que vai ser difícil que tenhamos algo como o museu do Colecionador, que era obviamente um lugar perfeito para dezenas de referências ocultas. “Talvez não tenhamos tantos em uma única cena como no primeiro filme. Ali, cada coisinha significava algo”.
Levei pros caras da Marvel, eles podiam dizer sim ou não. E disseram sim. E é isso
E por falar a respeito de easter eggs, não pude deixar de perguntar pro cara: afinal, que pergunta você não aguenta mais responder, aquela sobre o easter egg final do primeiro filme ou se os Guardiões vão estar em Avengers: Infinity War? “Eu nunca posso dizer nada sobre a segunda pergunta, sobre os Vingadores, então o que posso fazer? Acaba sendo a pergunta que não aguento mais responder porque não tenho resposta pra dar”. Mas ele relembra que, até o momento, os Guardiões não sabem o que está rolando na Terra. “Este segundo filme se passa poucos meses depois do primeiro, então ele rola cronologicamente antes de muita coisa que andou acontecendo com os personagens Marvel nos cinemas”.
“Só que me arrependo todos os dias por ter dito que existe este diabo de easter egg final”, dispara, antes de uma gargalhada. “Todos os dias, no meu Twitter, tem pelo menos vinte pessoas tentando adivinhar do que se trata. Tem gente que arrisca algo que todo mundo já viu um bilhão de vezes. E outros que apostam numas coisas tão obscuras e estranhas que nem seriam um easter egg. Eles ficam enxergando viradas na trama dentro de supostos easter eggs. Nesta cena, Rocket diz tal coisa, que é uma alusão ao personagem do Homem-Morsa, que no futuro estará aqui. Gente, isso nem é um easter egg!”, conta, arrancando risos de todo mundo presente.
Além das teorias dos fãs sobre este “segredo” muito bem guardado, uma coisa que rola direto no Twitter do cara são sugestões de faixas para a trilha do segundo filme, já que a música é algo que também está no DNA dos Guardiões da Galáxia. “A verdade é que a maior parte delas eu conheço, mas às vezes aparece uma que eu nunca ouvi. E uma destas que não conheço vai estar mesmo no filme. Queria encontrar a pessoa que me mandou esta dica no Twitter”, diz ele, evitando mais detalhes. Sobre as canções que vão EFETIVAMENTE estar no filme, bom, as pessoas já sabem que Come A Little Bit Closer, do Jay And The Americans, vai estar lá por conta das cenas mostradas na SDCC. E este segundo teaser tem Fox on the Run, do Sweet. “O resto, bom, vocês terão que esperar pra ver”.
Mas ele deixa uma pista aqui: no primeiro filme, as canções que Meredith Quill gravou para o filho eram aqueles pequenos “prazeres ocultos”, mais inocentes, porque eram para um menino de 9/10 anos de idade. “Já as músicas da segunda fita são para um jovem de seus 12/13 anos, o que significa que estamos falando de faixas um pouco mais maduras”.
De qualquer maneira, ele conta que participa ativa e diretamente do processo de seleção das faixas e explica que é tudo muito orgânico. “Começa com a seleção de um monte de músicas da época que eu quero abordar, uma lista de centenas de músicas dentro deste recorte. Aí, eu faço um segundo filtro apenas com as canções que eu amo, que acho que funcionariam bastante no filme, que se encaixam com os Guardiões”. E aí, então, ele vai lá e escreve o roteiro pra ver o que se encaixa de fato. “Algumas canções eu já penso que cabem como uma luva aqui ou ali na história, mas às vezes não tem nada que eu goste e aí tenho que voltar pra internet...”.
Ah, é, importante ressaltar uma parada aqui: James Gunn é louco por música (“Sou um fanático por música. Obsessivo. Compulsivo. Eu provavelmente sei mais sobre música do que sobre cinema”) mas não é Quentin Tarantino. E enquanto o cineasta de Cães de Aluguel constrói a identidade musical de suas obras sentado no meio de sua coleção de discos, ouvindo um por um, a parada do diretor de Guardiões da Galáxia é digital. “Eu baixo uma faixa da internet e a escuto sem parar durante muito tempo. E eu baixo bastante e tenho milhares de músicas na minha coleção”.
Mas tanto Tarantino quanto Gunn têm uma coisa em comum: as músicas selecionadas não são pensadas como composições de um bom disco de trilha sonora, mas sim como elementos que ajudam a contar uma história. “No primeiro filme, tivemos um momento mágico, porque as músicas funcionaram tanto pra contar a trama quanto como uma trilha sonora de verdade. Neste segundo, sei que elas funcionam para a história. Mas como trilha? Não sei ainda. Meu principal trabalho é pensar no filme, é pensar nas canções que funcionariam melhor naquele momento, naquela cena, emocionalmente falando”.
Guardiões da Galáxia Vol. 2 tem estreia prevista para 04 de Maio no Brasil.