Showruner anunciou que não entrou em acordo com Netflix e Amazon, mas justamente um contrato com a segunda pode ter melado as negociações com as DUAS empresas
Hannibal foi cancelada pela NBC de forma até que surpreendente para os produtores (pra você ter uma ideia, entrevistas sobre a quarta temporada estavam sendo programadas para durante a San Diego Comic-Con). Ainda assim, não foi tão inesperado: a audiência da segunda temporada já havia sido menor que a de outras produções canceladas pelo canal na época, como Crisis, Dracula e Welcome Family — com a terceira já sem demonstrar um ganho nesse sentido. Ainda assim, com o anúncio do cancelamento começou aquela velha corrida: encontrar uma nova casa pra garantir um futuro para a série.
Mas isso não vai acontecer. Não, ao menos, pra Hannibal.
O criador e showruner Bryan Fuller anunciou no Twitter que não conseguiu entrar em acordo com Netflix e Amazon, mas que ainda está “investigando possibilidades” (por mais que o elenco já tenha sido liberado de seus contratos). Porém, digamos que essas duas empresas eram as maiores e principais apostas – e que a negativa de uma pode ter relação direta com a outra.
Hannibal, que, como você sabe, conta a origem do famoso personagem, possui um contrato de exclusividade com o Amazon Instant Video nos EUA, fazendo com que as três primeiras temporadas da série só possam ser vistas na ~América via streaming por lá, depois da exibição na TV. É um acordo parecido, por exemplo, com que o Netflix tem com Gotham.
Por isso, faria sentido que Hannibal fosse retomada pela Amazon, principalmente porque, se diz, teria uma “audiência sólida” por lá. Mas não faz. Tudo porque a empresa investe pouco em séries originais. Até hoje, apenas um drama de uma hora, Bosch, foi produzido exclusivamente pro serviço. De resto, temos uma série de pilotos que, até agora, não resultaram em mais nenhuma temporada completa.
Existem poucas informações de como essas negociações de novas séries acontecem nos bastidores, mas é possível imaginar que a Amazon seja muito mais agressiva financeiramente com os produtores do que o Netflix, principalmente tendo em mente o quanto eles diminuem as margens de lucro das editoras e autores independentes quando vendem livros digitais. Fora que o ~gigante do e-commerce tem bem menos assinantes no Instant Video do que o concorrente e está presente em apenas 5 países, algo que deve diminuir ainda mais os investimentos nesse sentido.
É provável que, fazendo todas as contas, o que a Amazon poderia oferecer simplesmente não pagaria as contas de Hannibal. Ou que o interesse das temporadas já disponíveis não seja o suficiente pra bancar todo esse esforço...
A segunda e óbvia opção é Netflix, que é conhecida por ser mais ambiciosa em suas produções originais. Até agora já são algumas dezenas de séries e filmes e a ideia deles é alcançar um lançamento por semana, sabendo que esse tipo de coisa é o diferencial na disputa contra os concorrentes. Inclusive já deram continuidade a séries canceladas por outros canais, como The Killing e Arrested Development. Pra ajudar, a empresa tem um relacionamento muito próximo com a Gaumont International Television, que produz Hannibal e já emplacou Narcos e Hemlock Grove como séries originais do Netflix.
Mas sempre tem um MAS aí, que é justamente o contrato com a Amazon... Algo que provavelmente fez Fuller ir até o escritório da Netfix em Beverly Hills já esperando um belo e sonoro “não”.
Todas as séries continuadas pelo Netflix já estavam no serviço ou foi possível adicioná-las antes da estreia da temporada inédita. É de se imaginar que a própria audiência dos episódios antigos tenha influenciado nas decisões dos executivos na hora de assumir as produções.
(Pois é, o Netflix usa dados do que os assinantes assistem pra saber o que pode ser relevante ter no streaming, inclusive quando falamos de séries originais. Foi assim que eles chegaram em House of Cards, por exemplo. Sim, o feeling e a vontade dos executivos também contam, mas ninguém ali quer rasgar dinheiro, por mais que não esteja faltando...).
Pense, agora, no caso de Hannibal: o Netflix não tem as temporadas anteriores em seu principal mercado e não sabe como seria a atenção desses assinantes à série, pra saber se o investimento é válido. Pra piorar: provavelmente teriam que pagar uma multa pra Amazon pra ter esses episódios anteriores, ou estrear a quarta temporada sem ter tudo o que foi visto antes. E “o que foi visto antes” estaria no concorrente... Seria uma estratégia tão ruim que nunca foi feita: até hoje, todas as séries continuadas pelo Netflix como originais estão disponíveis na íntegra no streaming, incluindo temporadas exibidas inicialmente em outros lugares.
Ou pode ser ainda pior: exibir a quarta temporada, mesmo que sendo uma produção original, poderia implicar em uma multa a ser paga.
Uma série como Hannibal já não é barata. Entre aumentar esses custos ainda mais com alguma multa pra ter uma série que eles nem sabem se os assinantes vão ~querer ou simplesmente levantar a bola pro concorrente também ter mais audiência, o Netflix pode ter resolvido “deixar passar”.
Outro problema, apontado pelo Slashfilm, é que a Gaumont já licenciou a série para terceiros em outros territórios, o que teria atrapalhado o acordo. Porém, é difícil imaginar que isso tenha sido determinante pro “não”, inclusive porque o Netflix já exibiu séries originais que não eram exclusividade dela para todo o mundo, como os casos de Better Call Saul e a própria House of Cards. As novas temporadas de Fargo e Penny Dreadful também seguirão o mesmo formato, entrando no Netflix em alguns países europeus como série original.
É, dá pra botar a culpa da Amazon. Ou, sendo mais específico, em quem assinou o contrato de exclusividade com eles. Afinal, ligando aqui a bola de cristal e imaginando que a audiência de Hannibal no streaming seja realmente “sólida”, a produção teria tudo pra continuar se JÁ estivesse com o Netflix...
Quem sabe algum canal pago ainda se interessa, não é? Só é bom ser rápido, porque o tempo está correndo...