Banda alemã que plantou as sementes do power metal completa 30 anos de carreira lançando My God-Given Right, disco que não traz rigorosamente nada de novo no front.
Com 30 anos de carreira e discos clássicos no currículo, incluindo no pacote a criação e desenvolvimento de todo um estilo musical – no caso, o power metal -, o Helloween chega ao seu décimo-quinto álbum com My God-Given Right. Lançado em 29 de maio, o disco tem produção de Charlie Bauerfeind, parceiro de longa data dos alemães, e sucede o bom Straight Out of Hell (2013).
A questão é que o quinteto liderado pelo guitarrista Michael Weikath já viveu o seu auge e hoje está na prorrogação de sua carreira. Ainda que bem executado e bem produzido, My God-Given Right não apenas não traz nada de novo (e tá, eu entendo os fãs que não querem ouvir as suas bandas preferidas inovando, ainda mais em um gênero com admiradores tão conservadores quanto o heavy metal) como também não coloca nada de relevante na mesa.
É o Helloween de sempre, alternando canções mais alegres com outras mais pesadas, tendo sempre a voz de Andi Deris como destaque principal. Mais do mesmo, seguindo o que o grupo tem feito desde 2003, com Rabbit Don’t Come Easy.
A banda inovadora de outrora, que apresentou o seu último, revigorante e impressionante documento criativo no distante ano 2000 com o excelente The Dark Ride, não existe mais. O que temos hoje em dia são cinco músicos rodados e experientes, que conhecem na palma das mãos os gostos de seus fãs e trabalham em função disso.
Em um mercado onde a venda de discos não possui mais a importância que tinha e a fonte de receitas migrou para a venda de ingressos e merchandising, o Helloween trabalha apenas para tornar a marca da banda presente na mídia, entregando de tempos em tempos um novo disco para matar a fome de sua enorme legião de fãs espalhada pelo mundo.
Uma estratégia válida e que até pode ser questionada, mas que inegavelmente funciona, vide o burburinho que My God-Given Right vem fazendo na mídia especializada europeia e brasileira, os principais mercados dos alemães.
E tome canções com melodias levadas pelas guitarras, que desembocam em refrãos também repletos de melodia, deixando tudo pasteurizado e com cara de que já foi feito milhares de vezes antes – e realmente foi, e pelo próprio Helloween. E, claro, há também os trechos instrumentais na parte central das composições, onde o andamento acelera e a dupla de guitarras formada por Weikath e Sascha Gerstner executa melodias gêmeas.
Se tudo isso não fosse suficiente, há um agravante: o disco é muito longo, o que torna a audição cansativa. Com canções muito semelhantes entre si, a sensação é de que estamos ouvindo uma suíte enorme com mais de uma hora e dez minutos de duração.
No final, o resultado é um disco genérico e que não acrescenta nada à trajetória da banda alemã, com faixas que se aproximam de maneira violenta do pop – casos de Heroes, Battle’s Won e Lost in America – e trazem melodias, linhas vocais e arranjos que beiram o constrangimento – ouça If God Loves Rock ’n’ Roll e entenda o que estou dizendo.
Muito pouco para uma banda que gravou não apenas dois dos álbuns mais aclamados do metal dos anos 1980 – os dois Keepers, é claro – mas que, sobretudo, soube se reinventar e redescobrir a sua música durante os anos 1990 com discos ótimos como Master of the Rings (1994), The Time of the Oath (1996) e Better Than Raw (1998).
Muito, mas muito pouco mesmo.