Quando tudo que conhecemos tomou forma!
Stan “The Man” Lee poderia esperar muitas coisas de sua mais nova cria, mas talvez o sucesso não estivesse entre elas. Criado em uma revista que estava para falir e, num golpe de sorte, catapultado para seu próprio título, o Homem-Aranha nascia fraco. Não por seu potencial, mas pela falta de credibilidade dada a ele.
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The Amazing Spider-Man #1 é bem o retrato do que acabou de ser dito. O Homem-Aranha, maior sucesso comercial da Marvel Comics, começou sua carreira tentando se filiar ao Quarteto Fantástico. Na primeira edição da revista, o Cabeça-de-Teia procurou a família super-heroica, que era o maior sucesso da editora naqueles tempos, em uma clara tentativa de Lee em trazer os leitores da revista estabelecida para a nova. Para se ter uma ideia de como os tempos mudaram, a entrada do Homem-Aranha na Fundação Futuro (equipe que substituiu o Quarteto Fantástico por algum tempo) foi considerada uma tentativa de aumentar as vendas do grupo, não o contrário.
É claro que o Quarteto não se transformou em Quinteto, como todos sabem, mas o Homem-Aranha aproveitou um pouco do sucesso dos companheiros para se estabelecer. E, é claro, esta não foi a única vez que isto foi feito na fase inicial do personagem. Além do encontro com o Quarteto Fantástico, o Homem-Aranha enfrentaria o Dr. Destino na quinta edição da revista, conheceria o Demolidor na edição 16 e faria a famosa amizade com o Tocha Humana na revista de número 17.
[one-half]É claro que nada disso teria validade se não fossem os bons enredos de Stan Lee. E nesse início de carreira temos o Peter Parker clássico, sempre com problemas com dinheiro e com os valentões da escola, mas sem nunca perder o bom humor e a vontade de ajudar os outros como o herói encapuzado. Também devemos dar créditos a Ditko, que ajudava na construção dos roteiros, apesar de nunca ter sido creditado como um dos escritores da revista. [/one-half]
Em The Amazing Spider-Man #28 (Set. de 1965), Parker finalmente se forma no segundo grau e na edição #31 entra para a Empire State University. É lá que ele conhece Gwen Stacy e Harry Osborn, personagens que serão centrais para a vida do herói nos anos seguintes. Porém, a principal mudança nesta época não foi a introdução dos novos personagens, mas sim a saída de Ditko do título.
[one-half]Quem ocupou a vaga de desenhista do título foi John Romita. Até hoje a fase Lee-Romita é considerada clássica para a história do Aranha, influenciando quase tudo que foi feito com o personagem depois, seja em roteiros ou em desenhos. Para a Marvel foi por muito tempo a expressão definitiva do que deveria ser feito com o Homem-Aranha, obrigando que muitos artistas seguissem o mesmo estilo nas décadas seguintes. A fase também inspirou outras mídias, principalmente o filme O Espetacular Homem-Aranha, de 2012.[/one-half][one-half last=”true”]A partir dessa época, o Homem-Aranha foi se tornando mais seguro e convicto de si mesmo, finalmente percebendo o que poderia fazer com os poderes que tinha conseguido. Para começar essa nova fase, a primeira história foi bombástica: Norman Osborn, o Duende Verde, finalmente descobre a identidade secreta do herói. Depois de uma violenta batalha entre ele e o Aranha, Norman acaba derrotado e esquece tudo que havia acontecido durante a confusão mental que gerou o Duende. Apesar do final que hoje parece um pouco óbvio, a história foi muito bem conduzida e suas pontas soltas seriam aproveitadas para uma das mais controversas e famosas histórias do Homem-Aranha.
Foi também na fase Lee-Romita que a presença feminina se tornou mais marcante. O relacionamento amoroso entre Peter e Gwen começou a acontecer, além do personagem ter sido apresentado à Mary Jane depois de dois anos de expectativa, nos quais a personagem era apenas comentada ou aparecia de costas. Tem muito fã que cita o primeiro encontro dos dois como uma das passagens mais marcantes do Aranha. “Veja bem Tigrão, você tirou a sorte grande”, que é a fala da MJ quando ela vê o Peter pela primeira vez, é uma das frases mais famosas da história dos quadrinhos.
A chamada Era Lee-Romita durou até 1971, época na qual o Homem-Aranha conseguiu um grande sucesso. Há quem considere que houve também uma queda na qualidade das histórias, principalmente por causa do maior foco dado a vida social de Peter Parker. Porém foi nessa época que vilões como o Rhino, Rei do Crime, Shocker e Cabelo-de-Prata apareceram pela primeira vez e que também pudemos acompanhar a história “Spider-Man No More!”, que foi reverenciada até no filme Homem-Aranha 2.
No começo da década de 70, o Homem-Aranha ganhou duas novas revistas: Marvel Team-Up, na qual se reuniria com um herói Marvel diferente em cada edição, e The Spectacular Spider-Man. Foi também nessa década que as histórias passaram a ficar mais controversas, começando pela morte do pai de Gwen, o Capitão George Stacy, em The Amazing Spider-Man #90, mas ainda era pouco perto do que estava por vir.
No arco de histórias que se estendeu pelas edições 96, 97 e 98 de The Amazing, os leitores foram apresentados a um Harry Osborn drogado e hospitalizado após uma overdose de LSD. A história foi escrita a pedido do próprio governo dos EUA, que estava preocupado com o avanço das drogas, mas acabou não aprovada pelo Comics Code Authority, que “zelava” pela “boa” qualidade das revistas na época. Mesmo com o veto, a história foi publicada, mas sem o selo de aprovação.
Em seguida veio outra história conhecida por muitos fãs, a Saga dos Seis Braços, publicada entre as edições 100 e 102 de The Amazing. A edição 100 também foi a última da primeira fase de Stan Lee a frente dos roteiros da revista, voltando apenas para escrever da edição 105 até a 110, além de um ou outro gibi através dos anos. Quem substituiu Lee primeiramente foi Roy Thomas, mas quem ficou mesmo do lugar do criador do personagem foi Gerry Conway, que tinha apenas 19 anos na época.
John Romita deixou os desenhos do Homem-Aranha logo em seguida. A partir da edição 113, datada de Novembro de 1972, quem passou a desenhar The Amazing Spider-Man foi o artista Gil Kane. Romita continuou a fazer a arte-final da revista por um tempo, para aí sim deixar o personagem de vez.
Esse era o fim da fase clássica do Homem-Aranha e o início de tempos bem mais controversos…
Artigo publicado originalmente em 24 de Abril de 2007