Marvel está se repetindo nessa aí…
Nesta sexta-feira (14), a Marvel anunciou que irá publicar nos EUA entre maio e setembro a minissérie The Amazing Spider-Man, Year One: Learning to Crawl, situada na cronologia principal da editora. O objetivo está no título: recontar a origem e o primeiro ano de atuação do Homem-Aranha, só que com mais detalhes. Mas, será que isso não é apenas mais do mesmo? Afinal, de origens, o Escalador de Paredes está cheio.
Via Twitter, o roteirista Dan Slott disse que não irá “recontar nada que já lemos”, mas sim que tem uma nova história “respeitando o passado” e que “nada será invalidado”. Como Slott já mentiu antes, não dá pra confiar muito agora. Vamos aguardar pra ver...
O motivo do lançamento é fácil de entender, claro. Primeiro, temos o filme O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro estreando em maio. Timing perfeito para a minissérie pegar o público que curtir o filme nos cinemas. Além disso, será logo após o fim de Superior Spider-Man, com Peter Parker voltando a ser o Aranha, o que vai rolar em abril.
Para a Associated Press, o roteirista Dan Slott contou que a minissérie pagará tributo a Amazing Fantasy #15, com a primeira aparição do herói pelas mãos de Stan Lee e Steve Ditko, mas que se baseará mais nas primeiras edições de Amazing Spider-Man, pela mesma dupla. “Quando você lê essas edições, pensa meio que: ‘Peraê! Como isso aconteceu? Como ele pegou isso? De onde isso veio? Por que a Tia May não se ligou nisso?’”, disse o roteirista.
“Você começará a olhar cada vez mais próximo durante o caminho. Há uma história onde você não estava olhando. Uma história importante e crucial que respeita amavelmente tudo aquilo que toca, mas diz muito, muito sobre o Homem-Aranha e muito sobre o Peter Parker”, continua o roteirista. Pelo que dá pra entender, a ideia é mostrar sim acontecimentos que já foram revelados no passado, mas também construir uma história ao lado disso, preenchendo lacunas das edições dos anos 60 e, quem sabe, com elementos que devem ser usados em futuras edições de Amazing Spider-Man.
Acontece que isso, de certa maneira, já foi feito no passado.
[one-half]Meio que paralelo a isso, a Marvel publicou entre 1995 e 1997 a revista Untold Tales of Spider-Man, com histórias inéditas que justamente se passavam entre as primeiras edições de Amazing Spider-Man.
Tem mais. Em 1998 a Casa das Ideias chamou John Byrne para “atualizar” a origem do Escalador de Paredes. A partir daí saiu a polâmica Spider-Man: Chapter One, chamada no Brasil de Homem-Aranha: Gênese. Além de se alongar mais onde Lee e Ditko foram rápidos, Byrne atualizou a história do herói. Tudo para atrair novos leitores.
A intenção original não era colocar Chapter One como canônico, mas isso mudou no meio do caminho. Aquela origem, para o desespero de muitos leitores, passou a ser a oficial. Com o tempo, claro, tudo aquilo foi ignorado.[/one-half]
Já nos anos 2000, a Casa das Ideias jogou a responsabilidade de recontar histórias para atrair novos leitores para outros selos da editora. Veio o ótimo Homem-Aranha Ultimate da linha Ultimate Marvel, ou ainda o Marvel Age Spider-Man, entre outras coisas. No caso particular do Ultimate, o roteirista Brian Michael Bendis conseguiu estabelecer uma mitologia própria, que se desprende da original e, inclusive, está influenciando a franquia O Espetacular Homem-Aranha nos cinemas.
No final da década veio a minissérie Spider-Man: With Great Power..., que também mandou muito bem.
A iniciativa do tipo mais recente foi a linha Season One, com graphic novels que também recontam as primeiras aventuras dos heróis, mas agora em graphic novels para livrarias e comic shops. Como os lançamentos da década passada, Season One também se passa fora da cronologia principal.
Dan Slott e a Marvel tinham uma saída bem mais interessante para atrair novos leitores ao Universo Marvel 616. Como você já viu, Peter Parker vai voltar a ser o Cabeça-de-Teia em Amazing Spider-Man #1, que será publicado nos EUA em abril. E, pelo que sabemos, Peter voltará sem memória.
Seria muito mais inteligente aproveitar o chavão da “perda de memória” para fazer com que Peter Parker buscasse seu passado, que, assim, seria recontado no primeiro arco do gibi. Ao mesmo tempo, daria espaço para introduzir os elementos novos que o Slott quer.
Seria um formato de “série dentro da série” parecido com Zero Year, saga que está recontando a origem do Homem-Morcego na revista Batman, da DC. Um formato que jogaria os novos leitores saídos do cinema em uma edição #1, com arco de origem, e depois daria uma continuidade nos arcos seguintes, já no presente.
Talvez, ao tentar lançar um monte de coisa ao mesmo tempo, a Marvel esteja se excedendo. Nesse caso, menos seria mais.
Que The Amazing Spider-Man, Year One: Learning to Crawl valha, ao menos, pelas capas do Alex Ross…