Completamente baseado na teoria de Einstein, o diretor parece que se perdeu no espaço-tempo… mas fez um filme lindo
Tudo é uma questão de ponto de vista. Um bastião das frases feitas, provavelmente encontrado em um daqueles @frases_mensagens_insta que se vê por aí, mas que também carrega uma verdade universal — provada, matematicamente, por Albert Einstein em 1905.
Segundo a teoria, nada é absoluto — e, olha só você, tudo depende do ponto de vista. É aquela coisa das aulas de física: se eu tou num carro a 88km e você tomando um picolé na calçada e me olha, eu tou em movimento; se sou eu que te olho, você tá em movimento; e estamos os dois certos. As leis da física funcionam em ambos os casos, então tá tudo bem.
Dessa brincadeira toda, surgiu o que os ingleses chamam de “conundrum” e que o pessoal lá de Alentejo resolveu definir apenas como “enigma”: o paradoxo de gêmeos. No tal paradoxo, se você pegar dois irmãos gêmeos, deixar um na Terra, de boa, e colocar o outro pra viajar na velocidade da luz, quando retornar, o gêmeo que viajou vai encontrar o que ficou por aqui mais velho.
Você já deve ter visto isso em Planeta dos Macacos, quando Charlton Heston sai em uma missão espacial e, enfim, acaba retornando para a Terra, toda zoneada e dominada por Macacos. Você sabe o que tou falando, né? :D
A explicação pra esse paradoxo, que envolve aceleração, dilatação de tempo, gravidade, velocidade, enfim, é uma treta matemática na qual os fracos não tem vez, mas acredite, é fato. É possível passar 40 anos viajando pelo espaço e, quando voltar (o retorno é sempre importante!) encontrar a Terra 59000 anos mais velha — e isso é só um exemplo. É nessas horas que eu digo que a matemática não faz nenhum sentido... ;D
A mesma Teoria da Relatividade de Einstein ajuda a explicar os buracos negros ou, pelo menos, do que são formados. O que acontece quando alguém CAI dentro de um buraco negro, bom, isso ninguém sabe. Ainda. Mas há muitas teorias, desde as simples “você é esmagado”, como a “espaguetificação”, da própria teoria do Einstein, a outras como a da ponte Einstein-Rosen, que faria com que você caísse num universo paralelo... E por aí vai.
Uma outra coisa que a Teoria da Relatividade ajuda a explicar, também, é Interestelar, de Christopher Nolan, o diretor de Batman: O Cavaleiro das Trevas e Inception (não dá pra chamar de A Origem, né?), dois filmes sensacionais que o ajudaram com essa coisa de “In Nolan in Trust”. Mas, é também o diretor de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge.
Christopher Nolan, o diretor obcecado por seriedade, que conseguiu criar uma oposição direta ao Batman de Adam West e cujos dedos deram o mesmo tipo de ar ao Superman de Zack Snyder, é também o diretor que não consegue parar pra respirar e simplesmente admirar alguma coisa — e, no caso de Interestelar, estamos falando do espaço e tantas coisas que, pelo menos por enquanto, pouquíssimas pessoas têm a chance de enxergar.
No filme, que se passa num futuro bem próximo e plausível, o Mundo praticamente acabou. O oxigênio já era, a sociedade se alimenta basicamente de milho, não existem exércitos, o homem ter pisado na Lua é oficialmente uma mentira. Mas Cooper, intepretado por Matthew McConaughey, que pegou o finzinho da exploração espacial da humanidade, não se conforma com a falta absoluta do senso de aventura que fez com que fôssemos onde ninguém jamais esteve.
E é nesse personagem e, principalmente, na atuação de McConaughey que enxergamos outra relatividade no filme. Nolan insistiu em transformar tudo em uma grande equação, explicada matematicamente — ATÉ O AMOR. Por outro lado, o Cooper é o personagem que faz tudo pelo coração, mesmo quando a decisão precisa ser a mais racional possível.
Essas “equações”, porém, ajudam o filme de outra maneira — especialmente a visual. Foi por conta de Nolan que, hoje, temos a melhor representação visual possível de um buraco negro, feita a partir das informações do físico Kip Thorne (leia mais sobre isso aqui, em inglês), que serviu também como consultor. Com as tomadas em IMAX, Nolan ainda consegue mostrar a grandiosidade do espaço, mas, olha só, falha ao mostrar sua beleza.
Não, a ideia não é que ele fizesse um 2001 – Uma Odisséia no Espaço, que passa muito mais tempo contemplando a porra toda. E, aliás, Interestelar tem quase três horas de filme que passam rapidinho. Só que, com essa mania de ser sério, de se levar a sério, de ir direto ao ponto, sem nenhuma cena pós-créditos — que funciona e muito em Incepction e Cavaleiro das Trevas — Nolan se perde no que deveria ser a grande coisa desse filme: que a ciência nunca é só pela ciência. Quando a personagem de Jessica Chastain consegue entender o que acontecia no seu quarto (e, já que falei de 2001, consegue também entender o que acontece no quarto do filme do Kubrick), a sua comemoração é deprimente. “Eureka!”, joga os papeis pro ar... E ninguém fala nada. Ninguém diz nada. Não há um sorriso, sequer uma expressão de espanto.
É pra ficar na cabeça o fato de que, inicialmente, esse era um projeto de Steven Spielberg. Christopher Nolan assumiu e colocou outras ideias no roteiro, transformando mais em um filme seu. Mas acho que não existe ninguém melhor no Universo pra contemplar e ser objetivo que Spielberg — ESPECIALMENTE quando o assunto é o espaço.
Interestelar é um filme lindo, que eu penso que deve ser assistido por todos. Em IMAX. Fiquei mais de uma semana pensando nele e cheguei a perder o sono por isso — eu fiquei mesmo um tanto obcecado pela parte científica, que comentei lá no começo. Porque ele é TODO baseado na teoria da relatividade — até mesmo em coisas muito mais simples, como a nave que gira no seu eixo, que tem dois bons momentos durante o filme.
A questão é que a história, as relações humanas, elas não pegam. Elas não funcionam como poderiam e, sinceramente, deveriam. Tirando Matthew McConaughey, que consegue extrapolar Christopher Nolan, só Romilly, vivido por David Gyasi, consegue passar um pouco mais de humanidade nessa história que trata sobre pais e filhos, sobre o fim do mundo, mas que me faz perder o sono maravilhado com as questões científicas levantadas e mostradas. Infelizmente, fica claro que são duas coisas distintas e, ora poxa vida, não deveria ser assim.
In Nolan we Trust. Mas... Depende do ponto de vista. ;)