Aos poucos e sem alarde, serviço de streaming vai diminuindo as barreiras entre os países e disponibilizando conteúdos no maior número possível de línguas
País por país. É assim que o Netflix tem, nos últimos anos, expandindo as operações em todo o globo. No Brasil, por exemplo, eles chegaram em setembro de 2011, enquanto estão atracando na Espanha e em Portugal agora em outubro de 2015. Um trabalho de jogador de War, mas que está mudando. A ideia agora é ser GLOBAL – um processo que já está acontecendo neste instante.
No final do ano passado, em carta aberta aos investidores, o Netflix informou que “o progresso [da nossa expansão] tem sido tão forte que agora nós acreditamos que podemos completar a nossa expansão global nos próximos dois anos”. Hoje, o serviço está presente em mais de 50 países, enquanto no mundo existem cerca de 200. “Acelerar pros 200 países é largamente possível pelo tremendo crescimento da internet em geral, incluindo celulares, tablets, e smart TVs”, continua a comunicado.
Um desafio grande aí é a China, claro. “Nós ainda estamos explorando as opções”, afirmavam há alguns meses, acreditando que um dos caminhos seria manter uma modesta operação no país, centrada em conteúdos originais e em outros produtos licenciados. Na prática, esse seria um modelo mais para os estrangeiros, que poderiam acompanhar alguma coisa ao visitar o país, do que necessariamente pra saciar a curiosidade dos chineses, já que as diferenças culturais e políticas são uma MURALHA (viu o que eu fiz aqui?). É um modelo parecido, por exemplo, com o que fizeram em Cuba – afinal, lá você precisa ter um cartão de crédito internacional pra assinar, o que na prática limita o acesso a apenas aos estrangeiros que estão passando ou vivendo na ilha.
Só que essa expansão global não é apenas abrir uma lojinha em cada país, não. Passa por uma padronização de conteúdo e de opções aos clientes, principalmente nesses casos quando o turista também é uma figura importante — afinal, estamos falando de um serviço que vende justamente a possibilidade de ver o que quiser onde quiser. Por isso, aos poucos, a empresa tem disponibilizado a plataforma em diversas línguas, mesmo em outros países. Se você for olhar agora no seu Netflix vai reparar que Narcos tem opção de dublagem em espanhol e francês. Com Orange is The New Black eles vão ainda mais longe: há opções de áudio em alemão, além de legendas em holandês.
Quem viajava há alguns anos e tentava usar a plataforma fora do Brasil se via num site completamente na língua do país no qual estava, seja nas descrições, categorias ou até mesmo nas opções de dublagem e legenda. Resumindo: não importa se você assina Netflix BR, vai ver Netflix US caso esteja na terra do Tio Sam. Isso mudou nos últimos meses.
Na última semana, por exemplo, estive na Cidade do México e, lá, o Netflix em meu computador, celular e tablet estava com sinopses, categorias e até artes em português. Muitas séries e alguns filmes traziam opções de legendas e até dublagem na nossa língua, algo impensável há algum tempo.
Em maior ou menor grau, isso está acontecendo em outros territórios. Se você, brasileiro, acessar Netflix de qualquer parte do mundo, encontrará um site em português com algumas produções com opção na sua língua. O oposto também é verdadeiro: um alemão usando a plataforma no Brasil ou nos EUA não vai ficar tão perdido.
Porém, de nada adianta tentar padronizar opções de língua se os conteúdos forem drasticamente diferentes – o que impede continuar vendo a sua série preferida enquanto viaja, ou vai te instigar a usar um VPN apenas pra ver algo que só tem nos EUA. Isso já é uma segunda batalha lá pro pessoal do Netflix.
Como já falamos aqui no JUDÃO, existem as barreiras regionais e a segmentação do mundo em verdadeiros feudos do entretenimento. Normalmente, uma distribuidora negocia seus contratos por território ou região. A HBO, por exemplo, exibe os filmes da Disney para o resto da América Latina na TV paga, algo que cabe ao Telecine por aqui. Isso quando uma produção não é distribuída por empresas completamente diferentes nos EUA e no resto do mundo, como é o caso de Watchmen, por exemplo.
Dessa forma, nem sempre o contrato de aquisição feito pelo Netflix nos EUA vai abranger o Brasil, por exemplo. Ou o contrário: eles podem chegar com um acordo com quem distribui esse conteúdo por aqui, mas o cara não tem como liberar pra outros territórios. E aí, o que acontece? Pois é.
“A solução básica para o Netflix ficar global é ter o mesmo conteúdo em todo o mundo, assim não teria incentivo pra usar o VPN”, explicou o CEO da empresa, Reed Rastings, numa entrevista ao Independent, do Reino Unido. Pra ele, isso ainda seria uma solução pra uma parte da pirataria, aquela provocada quando você é obrigado a baixar um filme simplesmente por não ter acesso ao conteúdo. “Uma outra parte da pirataria é porque as pessoas não querem pagar. Essa é a mais difícil”, comenta Rastings, sabendo que não há solução fácil pra tudo nessa vida.
“A transição para os direitos globais vai ser algo que ainda vai demorar alguns anos para realmente fluir, de forma semelhante ao nosso movimento em direção à exclusividade”, explicou David Wells, CFO do Netflix, em recente entrevista após o anúncio dos lucros da empresa. Basicamente, ele compara a virada de jogo nas barreiras de conteúdo a virada de jogo no próprio conteúdo da plataforma, com cada vez mais foco no que é exclusivo. Enquanto isso, a empresa vai comendo pelas beiradas, licenciando em mais territórios principalmente produções menores e independentes. Um exemplo são os filmes mexicanos La Dictadura Perfecta e La Hija de Moctezuma, que estão disponíveis tanto no Netflix MX como no BR com legendas e dublagens em português.
De qualquer forma, mesmo ainda faltando muito trabalho, o Netflix está quase pronto para se tornar global em breve. E, enquanto isso, a HBO ainda está preocupada em vender assinatura do HBO Go só pra clientes de certas operadoras de internet aqui na América Latina...
Entramos em contato com o Netflix no Brasil pra entender como estão estes planos de internacionalização e como isso irá funcionar para os brasileiro, mas não tivemos retorno até o fechamento desta matéria. Se e quando eles responderem, atualizaremos.