Lana Wachowski vai assumir sozinha a cadeira de diretora, 20 anos depois, com os retornos de Keanu Reeves e Carrie Anne-Moss. Seja lá o que eles estiverem pensando, a gente só espera.
Já tem um tempo que rumores circulam por aí sobre o desejo da Warner Bros. tem de reiniciar Matrix, uma das suas mais bem sucedidas franquias e uma das mais importantes da história do cinema e da cultura pop como um todo. Quem não se lembra dos “óculos Neo”?
O que se dizia é que que o estúdio estava em negociações com o roteirista Zak Penn (Jogador #1, Os Vingadores) para encontrarem uma forma de trabalhar esse reinício e até o nome de Michael B. Jordan foi citado como potencial protagonista. Nessa época, a Warner esperava uma benção das irmãs Lana e Lilly Wachowski para a nova produção — que demorou, mas chegou.
De acordo com a Variety, Lana Wachowski vai escrever e dirigir o quarto filme da franquia Matrix, que também contará com os retornos de Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss reprisando seus papéis como Neo e Trinity, o que é, definitivamente, uma surpresa.
Pra quem não se lembra (e nós não vamos te culpar por isso), Neo e Trinity passaram dessa para uma melhor em Matrix Revolutions e, até segunda ordem, eles estão mortos até o presente momento. Não faria muito sentido anunciar o filme com os dois nomes se fosse tudo uma questão de flashback, então... podemos afirmar que isso significa que Lana precisará encontrar uma justificativa para o retorno dos dois. Talvez os humanos e as máquinas entrando em guerra novamente e alguém dá um jeito de ressuscitá-los? Talvez.
E se tivéssemos uma sequência direta do primeiro, o melhor (e, pra muitos, único) filme da trilogia?
Essa opção gera automaticamente um conflito com os relatos de algumas fontes sobre Morpheus, nesse novo filme, seria bem mais jovem — pode ser aí onde Michael B. Jordan entre. O que importa, porém, é que o universo de Matrix permite uma solução que pode ser simples e convincente ou muito mais metafórica e filosófica, que é o que a gente espera que aconteça.
O caminho narrativo que o novo filme tomará também está ligando à outra reviravolta surpreendente: o retorno de Lana sem sua irmã Lilly. Frequentemente trabalhando juntas, é difícil saber o que cada uma contribuiu para suas histórias e definir exatamente que visão Lana dará ao novo filme. A única experiência dessa separação é Sense8, que talvez a gente não devesse trazer pra mesa nesse momento.
Em comunicado oficial, Lana afirmou que está muito grata por ter outra chance de trabalhar com seus amigos e com esses personagens, além de afirmar que “muitas das idéias que a Lilly e eu exploramos há 20 anos sobre a nossa realidade são ainda mais relevantes agora”. Ela dá a entender que Matrix 4 se alimentará da sua própria mitologia, além de explorar a nossa sociedade atual, exatamente como uma boa ficção científica deve fazer.
Nos tempos em que vivemos, material é o que não falta pra Lana se inspirar.
Escrito e dirigido pelas irmãs Wachowski, Matrix foi lançado em 1999 e até hoje é visto como uma história revolucionária sobre ideias de realidade e metáforas anti-autoridade, mesmo sendo inspirada em conceitos e obras já existentes. Além de uma narrativa recheada de camadas, o filme também é reconhecido por suas cenas de ação impressionantes que definitivamente mudaram o ritmo do cinema — “bullet time”, e por aí vai. Inegável sucesso de crítica e público, a Warner resolveu produzir duas sequências, Matrix Reloaded e Matrix Revolutions que, apesar de também arrecadarem muito, não são tão FORMIDÁVEIS quanto o filme original. Mas a franquia ainda reverbera na cultura pop — só ver a reação do universo à notícia.
Com o início da produção programada para o início de 2020, Toby Emmerich, presidente da Warner Bros. Pictures Group, afirmou em comunicado que está muito feliz com o retorno de Lana, afirmando que ela “é uma verdadeira visionária – uma cineasta criativa, singular e original – e estamos entusiasmados por ela estar escrevendo, dirigindo e produzindo este novo capítulo do universo Matrix”. Sem Lilly, Lana trabalhará com Aleksander Hemon e David Mitchel no novo roteiro, mas o nome de Penn não foi citado novamente e o próprio roteirista publicou na sua conta do Twitter que está animado com a notícia e nada além disso (quer dizer, na sua bio ele diz que não está REBOOTANDO Matrix. Mas vai saber sobre uma sequência, né?)
Por enquanto, Matrix 4 ainda é uma incógnita. Os retornos dos dois personagens centrais e de uma das cineastas originais aumentam a expectativa para escolhermos a pílula vermelha novamente. Mas é sempre curioso como Hollywood gasta energia e dinheiro recontando histórias ou retornando para enredos já estabelecidos. Claro que boa parte disso é culpa nossa, porque continuamos consumindo esses filmes por pura nostalgia, gosto ou até curiosidade.
Das dez maiores bilheterias dos EUA no primeiro semestre de 2019, nove filmes fazem parte de uma franquia conhecida, são sequências ou refilmagens de outras histórias. Apenas Nós, do Jordan Peele, é uma história independente e 100% original. Já entre as bilheterias mundiais, apenas dois filmes chineses não estão em alguma dessas categorias citadas acima.
Claro que é reconfortante vermos algo que já conhecemos, mas nada substitui nos apaixonarmos por uma história e um mundo completamente novo pela primeira vez — exatamente, aliás, como foi com Matrix vinte anos atrás.
No fim, acaba sendo frustrante como a indústria cinematográfica está vivendo uma monocultura motivada por bilheteria e marketing agressivo. Isso não quer dizer que nenhum filme diferente está sendo feito, mas significa que a mídia está focada demais em um mesmo tipo de filme. Enquanto diversas dessas produções eram interessantes por serem originais, as sequências e refilmagens nem sempre tem o fator inovador que é tão importante para o cinema.
Por isso que nosso papel como imprensa é motivar o público a conhecer histórias novas e diferentes... Mas cá estamos nós falamos sobre Matrix 4. Será que um dia muda?
Só espero que o retorno de Matrix seja à la Mad Max: Estrada da Fúria: algo tão bom e inovador quanto o original.