James O'Barr e os detalhes do novo filme do Corvo | JUDAO.com.br

Outrora afastado da nova versão, criador do personagem agora se envolve diretamente e fala com empolgação do projeto

Neste sábado (15), o quadrinista norte-americano James O’Barr foi um dos destaques da programação da Brasil Comic Con – e, no palco principal do evento, que aconteceu em São Paulo, deu uma série de detalhes sobre como anda a nova adaptação para os cinemas de O Corvo, sua grande criação. Quem teve a honra de conduzir o papo, representando o JUDÃO, foi pessoalmente este que vos escreve – leia-se “eu”. :)

“No primeiro filme, eu me envolvi com tudo, diretamente, com todos os aspectos da produção”, conta O’Barr. A produção, de 1994, ficou marcada por uma tragédia envolvendo o protagonista, Brandon Lee, filho da lenda das artes marciais Bruce Lee. O ator acabou sendo alvejado por uma arma cenográfica com a quantidade inapropriada de pólvora, matando-o na hora. “Eu me tornei amigo pessoal de Brandon. Ele era um jovem bastante comprometido com o trabalho. Ele mesmo fez a coreografia de suas lutas e entrou de cabeça em pelo menos 85% das cenas perigosas, sem dublê. Brandon era um apaixonado”, revela o autor, que costumava acompanhar as filmagens no set.

Assim que soube, há cerca de cinco anos, que a Relativity Media, que tem os direitos autorais para a adaptação d’O Corvo, estava pensando em fazer uma refilmagem, James O’Barr se manifestou. Com sua rotina tranquila sem computador, redes sociais ou mesmo televisão, ele simplesmente poderia ter ficado em silêncio, recebendo os cheques pelos direitos de sua criação. Mas não aguentou. “Vi que eles estavam pensando em atores como Jason Statham, Bradley Cooper ou Marky Mark para o papel. Pra mim, Mark Wahlberg vai ser pra sempre o Marky Mark”, brinca com a carreira pregressa do ator, para depois emendar: “Em resumo, eles queriam fazer um filme de ação. E O Corvo é essencialmente uma história de amor – na qual, em dados momentos, a violência se justifica”.

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James O’Barr

A oposição de O’Barr começou a cair por terra há cerca de um ano, quando foi contratado para a cadeira de diretor o espanhol Francisco Javier Gutiérrez, um elogiado cineasta de filmes de fantasia em seu país natal – em especial o curta Brasil (2002), sobre a macabra vingança de um homem traído. “Ele me ligou, pedindo para conversar comigo. E acabou pegando um avião da Espanha para o Texas, onde moro atualmente, pagando do próprio bolso”, revela O’Barr. A intenção do quadrinista era apenas fazer uma palestra de 1 hora sobre o personagem e depois enfiar o gringo no avião de volta. “E, na verdade, foi o que eu fiz. Mas me surpreendi com a conversa”. Segundo ele, Gutiérrez entendeu perfeitamente quando O’Barr quis deixar claro que o remake/reboot poderia arruinar a sua carreira profissional ao devastar o legado da memória de Brandon Lee.

“Mas eu não quero fazer uma refilmagem do filme com Brandon Lee. Quero adaptar a sua história em quadrinhos”, teria dito Gutiérrez. E foi aí que ele transformou O’Barr em aliado. Os dois trabalharam juntos, então, em uma proposta para o estúdio – com a intenção de fazer parte das cenas coloridas e parte delas em P&B, como na HQ original, além de um direcionamento claro para a história que pretendem: adaptar, desde a página 1, o primeiro arco de O Corvo, com o personagem Eric Draven. “Eric sou eu. É um pouco da minha história adaptada para aquelas páginas”, conta O’Barr, relembrando que a trama surgiu misturando a violência das ruas de Detroit, sua cidade-natal, com uma espécie de catarse pela perda de seu noiva, em 1978, morta no trânsito por um motorista bêbado. “Queremos ter plena fidelidade com a história. Adoro o filme com Brandon, mas ali está apenas 40% da história original. O restante é liberdade poética”.

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Brandon Lee

Logo, O’Barr e Gutiérrez deixariam toda aquela lista de atores de lado para buscar um sujeito galês que começava a ser reconhecido, bem devagarinho, pela indústria de Hollywood: Luke Evans. Apesar dos papéis de Apollo em Fúria de Titãs e de Aramis na recente versão de Os Três Mosqueteiros, Evans só viria a explodir bem mais recentemente, ao viver o vilão em Velozes & Furiosos 6 e, logo depois, o arqueiro humano Bard em O Hobbit. Atualmente em cartaz como o vampirão de Drácula – A História Não Contada, Evans aceitou o convite para ser o novo Eric Draven na hora. “Mas ele deixou claro que precisava da minha benção – e lá veio ele para o Texas, com passagem de avião paga do próprio bolso”, brinca.

O’Barr, Evans e Gutiérrez logo se tornariam “os três mosqueteiros”, deixando claro para o estúdio que só tocariam o projeto se estivessem juntos nesta. “E o Luke está empolgado, não para de falar nisso e diz que, em todas as entrevistas que tem dado a respeito do filme do Drácula, todo mundo só pergunta sobre isso”.

O acordo de O’Barr com o estúdio prevê ainda que ele tenha que aprovar o restante dos atores escolhidos para o elenco e também os artistas escolhidos para a trilha sonora – um dos pontos mais altos do filme de 1994 (“O único com o qual tive envolvimento. Nada tive a ver com os outros três e tampouco com a série de TV”, faz questão de deixar claro o autor).

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Luke Evans

Ex-músico de uma banda de metal industrial e ex-crítico de música para a revista Spin, o quadrinista tem muitos contatos no meio musical e percebe que já tem gente empolgada para fazer parte do novo projeto, embora evite citar nomes. Na trilha anterior, estavam reunidos medalhões como Rage Against The Machine, Helmet, The Jesus and Mary Chain, Nine Inch Nails, Stone Temple Pilots, Pantera – além de The Cure e Joy Division, duas de suas bandas favoritas. E quanto ao expediente de Eric fazer referência, em suas falas, à letras de música (como Disorder, do Joy Division)? O’Barr não descarta a ideia. “Música é um elemento muito importante para mim. Por que não?”.