Revelação feita no segundo número da nova mega saga da editora levou ao anúncio do novo título estrelado pela personagem — uma ideia justa e bem interessante mas que por outro lado meio que confirma uma coisa que já falamos por aqui…
Um dos principais anúncios dos gibis da Marvel na última C2E2 (Chicago Comic & Entertainment Expo), há cerca de um mês, foi a série solo da Valquíria, coescrita por Jason Aaron & Al Ewing.
Com tudo que Aaron fez com o Deus do Trovão nos últimos anos, toda a guerra do elfo negro Malekith contra os Nove Reinos, concluindo agora numa mega saga que envolve a maior parte dos heróis da editora, era de se esperar que algo estivesse reservado para a heroína — ainda mais, claro, considerando a reinvenção maravilhosa que ela passou nos cinemas, em Thor: Ragnarok. No entanto, não se sabia muito mais detalhes de COMO seria este gibi e, principalmente, QUEM seria a Valquíria, um título que algumas personagens já carregaram nas páginas da Marvel Comics.
A revelação oficial veio na edição 2 da série oficial War of The Realms, seguida do anúncio de que teremos um gibi da moça, Valkyrie, a partir de julho — e com arte do espanhol Carlos Alberto Fernandez Urbano, que atende pela sigla de CAFU, o cara que até bem pouco tempo era exclusivo da Valiant mas que tá chegando pra seu primeiro título oficial na Casa das Ideiais.
E quem vai ser a nova Valquíria é a mulher que até bem pouco tempo erguia o Mjolnir enquanto o filho de Odin não era considerado digno pela arma ancestral, ninguém menos do que Jane Foster. A informação é pública e notória mas o COMO a parada aconteceu, seguido inclusive de uma discussão do impacto desta decisão, vai rolar abaixo.
Pra quem acompanha os gibis gringos e ainda não leu ou mesmo pra quem se mantém informado pelas publicações brasileiras, tem um avisinho de SPOILER ali embaixo... E aí você sabe o que isso significa, né?
SPOILER! Em War of The Realms #2, o que rola é que o exércitos amaldiçoados de Malekith exterminam totalmente as Valquírias e, portanto, o Valhalla não existe mais. Caso você não seja lá muito familiarizado com a mitologia nórdica que inspirou os gibis do Thor, as Valquírias são um exército de mulheres que escolhem quem vive e quem morre no campo de guerra. Caso o guerreiro tenha tombado com honra em batalha, como um herói, então ele é levado por elas até o Valhalla, o majestoso salão paradisíaco onde viverão a vida eterna em regojizo sob comando de Odin. “Sem pelo menos uma guerreira assumindo o papel e o nome de Valquíria, não pode existir o Valhalla. E, obviamente, já que teremos um gibi chamado Valkyrie, significa que alguém assumiu o manto”, explica Ewing, em entrevista pro site da Marvel.
“Ela não será como as antigas Valquírias. A Brunhilde [antiga dona do nome] está disponível para consultas eventuais, mas não pertence mais ao mundo dos vivos, então basicamente Jane está por conta própria”. Ele conta ainda que existe uma fala, no primeiro número, que define bem o quão diferente será para ela o papel de Deusa do Trovão, que assumiu durante um dos momentos mais incríveis da Marvel nos últimos anos, e esta nova função. “Thor é um deus. Valquíria é um trabalho”.
EITA.
O roteirista explica que Jane Foster sabe como ser Thor, inclusive alternando os turnos entre ser heroína e lutar contra um câncer pra lá de agressivo, mas que vai descobrir que ser uma Valquíria, a guerreira que luta pelos vivos e pelos mortos, ficando entre ambos, é bem diferente, com habilidades e responsabilidades únicas. Ela será a primeira de uma nova geração, então tem que decidir por conta própria exatamente o que significa esta função ancestral a partir de agora. Novos tempos pedem novas regras.
E, para quem acompanhou o encerramento de sua trajetória como portadora do Mjolnir em Thor #705, recém-publicada aqui no Brasil dentro de Marvel Legado: A Morte de Thor, já deu pra sacar que a destruição do martelo sagrado risca esta da lista de armas que ela poderá usar. Mas tudo bem, porque em suas mãos está uma arma que nunca foi vista antes pelos guerreiros asgardianos: Undrjarn. Enquanto você fica aí tentando descobrir como se pronuncia esta porra de nome, a gente pode te contar que é uma arma que pode mudar de forma para o que diabos o seu portador precisar. Pode ser um martelo, um machado... e até um par de asas. Portanto, o lance do cavalo voador que a predecessora dela usava já não se faz mais necessário. “Mas não necessariamente eles não vão aparecer mais”, solta o escritor, sem dar mais pistas.
O design do uniforme, criado por Russell Dauterman, tem muito de sua fase como Thor, incluindo o desenho do elmo, aliás. E as asas, fato, realmente dão um toque ainda mais especial.
Criada pela dupla Roy Thomas e John Buscema em 1970, a heroína original apareceu pela primeira vez na edição 83 da revista dos Vingadores. No mundo Marvel, a Valquíria tinha basicamente a mesma função de sua contraparte mitológica, mas ficou meio deprimida quando parou de buscar guerreiros na Terra e teve que se restringir ao território asgardiano depois que Odin fez um acordo com outros panteões de deuses que giram em torno de Midgard.
No fim, ela surgiu como alguém manipulada pela sedutora Amora, a Encantor, uma feiticeira que chegou até a usar a aparência física e os poderes da guerreira escolhida pelo onipotente Pai Celestial para tentar derrotar os Vingadores. Logo depois, iniciou-se um verdadeiro troca-troca de hospedeiras humanas que acolheram a essência e as memórias da Valquíria: Barbara Denton-Norriss, Samantha Parrington, Sian Bowen e Annabelle Riggs. Na Terra, com sua força e resistência acima do normal (comparáveis, talvez, só às da Sif), empunhando a espada encantada Presa de Dragão (presente do Doutor Estranho) e cavalgando o cavalo alado Aragorn (presente do Cavaleiro Negro), ela chegou a lutar ao lado do grupo conhecido como Defensores.
Depois de ter sido recriada no panteão de coadjuvantes do Thor como alguém que não era mais a eterna donzela em perigo, Jane Foster realmente não merecia a morte do jeito que foi sugerida ao final de sua cruzada, ainda que tenha sido escrita da maneira mais sutil e delicada possível por Aaron. Mantenho o que escrevi há cerca de 2 anos: desculpa, Odinson, mas ela merece mais ser Thor do que você. Gosto dela ter tido uma segunda chance como heroína depois de toda a luta contra o maldito do câncer, ainda mais com o próprio Jason Aaron envolvido com a HQ. Isso de fato é uma boa notícia, ainda mais porque a Marvel sacou que uma fatia de seu público, em especial aquele conquistado nos últimos anos, desenvolveu um carinho por aquela Thor tão especial.
O foda disso é que esta é apenas mais uma prova do processo de emcimadomurização da Marvel. Criaram todos estes personagens “legado” para tentar evoluir os títulos de seus medalhões. Entra Jane Foster e sai Odinson, vem Riri Williams no lugar de Tony Stark, Sam Wilson assume o escudo de Steve Rogers, Kate Bishop prova que é um Gavião melhor do que o Clint Barton, Miles Morales pinta pra dar aula pro Peter Parker. Era a tal da evolução, crescimento, amadurecimento. Vamos entrar numa próxima fase, tava na hora de passar o bastão. Só que aí voltamos atrás.
A Jane merece um título próprio? Claro que sim. Vou apoiar, vou ler, obviamente. O Falcão também, a Riri, a Kate, o Miles, porra, o Miles, bicho? Obviamente que todos eles sim, têm que ter o brilho próprio, sabe? Mas digamos que é BEM mais fácil pra editora fazer eles brilharem pra lá, em outro canto, enquanto se rende às reclamações de seu séquito de leitores barbados de mais de 40 anos na cara e que querem as mesmas histórias de sempre, sem mudanças, no eterno novelão sem crescimento, mantendo os heróis brancos sempre trintões no auge da forma (e o Peter, coitado, quase sempre um adolescente irresponsável preso no corpo de um adulto).
A Jane existe, ela uma heroína, lá no gibi dela. Mas o Thor, sabe, O THOR, este é único e insubstituível, lindo, loiro, barbado, elmo de asinhas na cabeça. A Jane agora pode brilhar no gibi da Valquíria? Pode E VAI, não tenho dúvida. Mas a Marvel seria muito mais corajosa se admitisse como DEFINITIVA a mudança, com uma mina no papel de Thor e o Odinson de coadjuvante, singrando pelo espaço com seus bodes voadores.
Acho, no entanto, que aí já ia ser pedir demais, não é mesmo? Vai que os tiozinhos chorões resolvem fazer uma manifestação com tochas e faixas do tipo “devolvam a minha infância” lá na frente do prédio da editora...