Jogos Vorazes: A Esperança de que um ano passe rápido | JUDAO.com.br

A Parte 1 do último capítulo da história de Katniss Everdeen faz jus a tudo o que se viu até agora. Mas esperar um ano pela Parte 2 machuca. :)

Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 tem um problema: não é um filme. Não dá, nem com esforço, pra tratá-lo assim.

Não que o fato tenha me pegado de surpresa, mas eu confesso que imaginei que fosse possível alguém criar um começo, um meio e um fim pra essa primeira parte da história. Mas é impossível — e isso não é culpa nem de quem dirige, nem de quem escreve ou de quem atua mas, sim, de quem banca.

Com tanta discussão sobre a criatividade em Hollywood, talvez seja o caso de a gente começar a pensar no quão isso é bom ou ruim pras histórias, já que, em relação ao marketing, isso funciona perfeitamente bem: saí do cinema MALUCO pra assistir à próxima parte. :)

Jogos Vorazes

É uma pena que tenhamos que esperar outro ano pra saber como essa história termina, porque, como “começo e meio” de um filme, a parte 1 de Jogos Vorazes: A Esperança é exatamente o que podia se esperar dela. Pesada, política e recheada de críticas ao mundo nada distópico em que eu e você vivemos hoje.

Seguindo os eventos de Em Chamas — e o início da Revolução — Katniss (Jennifer Lawrence) continua com a mente perturbada, mas agora no até outro dia inexistente Distrito 13, que se tornou uma sociedade, militarizada, que vive num bunker gigante embaixo da Terra e que, ao mesmo tempo em que lidera os rebeldes contra o maldito Presidente Snow (Donald Sutherland) e sua Capital, tem em sua líder, Presidente Coin, a sempre sensacional Julianne Moore, uma visão um tanto fascista, com todo mundo sendo obrigado a usar exatamente a mesma roupa (coitada da Effie), onde o indivíduo não tem voz, e onde a propaganda dita todos os rumos — não só da revolução.

Lembra quando o Obama anunciou a morte do Osama e a câmera se manteve ligada enquanto ele caminhava, LIKE A BOSS, até uma outra sala? A Esperança – Parte 1 é praticamente todo sobre esse tipo de coisa, e o quanto as pessoas são influenciadas pelo que veem, especialmente na TV.

Plutarch e Presidente Coin

Plutarch e Presidente Coin

Apesar de não se empolgar tanto com as ideias de Plutarch (Saudades, Philip Seymour Hoffman!) como fez o Presidente Snow no outro filme, que inclusive as leva em frente, a Presidente Coin não evita usar Katniss Everdeen e sua imagem pra “unir os outros Distritos” e, claro, levantar a moral do próprio Distrito 13. Enquanto isso, Peeta Mellarck serve para o exato mesmo propósito, do outro lado da guerra.

De um lado Katniss mostra os horrores da guerra; de outro, Peeta, que nessa franquia meio que representa exatamente como as mulheres são tratadas em outras histórias, pede, por amor, que tudo aquilo acabe; Katniss se irrita, chora e, ao lado de Gale, derruba duas naves da Capital; Peeta continua pedindo, por amor, que aquilo tudo acabe.

É assim, sendo a “O Tordo” (que se fosse traduzido como “A Esperança”, como no título, funcionaria melhor, mas esse sou eu divagando), que Katniss consegue unir os outros Distritos e, de certa maneira, ser levada a sério por Snow. No Distrito 13, porém, ela cada vez mais parece ser um simples objeto de propaganda — que, inicialmente, tinha que fazer coreografia e decorar texto, criando até um paralelo com a vida da própria Jennifer Lawrence.

Todos nós a amamos por ser essa pessoa normal, que ri, fala merda, conta piada, faz careta e cai na hora de receber um Oscar; ao mesmo tempo, é só dar uma escorregada no que as pessoas enxergam como o caminho correto que recebe diversos tipos de ataque e se torna simplesmente mais uma celebridade, como qualquer outra. Deve ser um caralho jogar esses jogos todos (e esse não foi um trocadilho, juro).

Jennifer Lawrence na premiere de A Esperança - Parte 1. Qualquer semelhança... Já sabe.

Jennifer Lawrence na premiere de A Esperança – Parte 1. Qualquer semelhança... Já sabe.

Eu já disse isso na época de Em Chamas e repito aqui: Jogos Vorazes é isso. Muito mais do que “shippar” Hayffie ou Peeniss, muito além do sacrifício pela irmã, passando longe de fandom, a franquia tem uma política MUITO forte, com paralelos claríssimos sobre o que acontece no nosso universo.

Fico feliz que a molecada leia os livros e assista aos filmes (ainda que o primeiro seja extremamente fraco nesse sentido), e espero de verdade que eles consigam enxergar muito além do triângulo Katniss, Gale e Peeta. Que enxerguem o papel da mulher nessa história, da merda que é uma guerra, do absurdo que é pensar com o que a mídia te propõe, de nenhum indivíduo poder querer alguma coisa.

Não consigo me imaginar comprando Blu-ray ou sequer assistindo à Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 novamente, sem que a Parte 2 esteja engatilhada pra começar na sequência. Isso é realmente algo que incomoda, porque deixa de ser uma experiência cinematográfica e se torna algo muito parecido como uma série. Mas, apesar disso, a Parte 1 faz jus ao poder de toda essa franquia e, muito provavelmente, daqui um ano o mundo vai comentar sobre “os quatro filmes” como um só, exatamente como a Rebelião quer Panem. Uma só. :)