Jovens cineastas são a esperança de países africanos no Oscar | JUDAO.com.br

A edição de 2020 já nos apresenta uma geração de jovens africanos que querem fazer cinema apesar de todos os problemas dos seus países de origem. Sem nunca terem recebido uma indicação, países como Quênia, Etiópia e Uganda selecionaram filmes que refletem a jovem indústria cinematográfica local

Um dos temas recorrentes aqui no JUDAO.com.br é a constante necessidade de pluralidade de pessoas, ideias, opiniões e culturas. Quanto maior o espaço para visões diferentes, menor a chance de histórias com ideias pré-concebidas sobre lugares e pessoas existirem. Uma chance de conhecermos enredos autênticos sobre diferentes lugares é através das escolhas de cada país para representante no Oscar de Melhor Filme Internacional.

Apesar de não ser historicamente a premiação mais diversificada que existe — mesmo que esse histórico esteja lentamente mudando nos últimos anos –, essa categoria específico entrega histórias que falam sobre diferentes povos, suas culturas, sonhos, conflitos políticos e sociais, e a edição de 2020 já nos apresenta uma geração de jovens africanos que querem fazer cinema apesar de todos os problemas dos seus países de origem. Sem nunca terem recebido uma indicação, países como Quênia, Etiópia e Uganda selecionaram filmes que refletem a jovem indústria cinematográfica local.

Filmado na própria Etiópia, o país escolheu Running Against the Wind, de Jan Philipp Weyl, uma coprodução etíope-alemã que segue a história de dois irmãos cujas vidas tomam caminhos muito diferentes quando decidem seguir seus sonhos — um para se tornar um corredor olímpico e outro um fotógrafo.

Em entrevista para a Variety, o diretor comentou que seu objetivo era “mostrar ao mundo o país, as pessoas, a cultura, a ética e os valores tradicionais através dos olhos de dois jovens que estão dispostos a lutar por seus sonhos e objetivos”. Weyl completa que quer que Running Against the Wind inspire as gerações atuais à tentarem alcançar seus objetivos e desejos, independente das circunstâncias da vida.

Em outra narrativa sobre realizar sonhos, o Quênia selecionou Subira, um drama sobre o amadurecimento de uma jovem muçulmana que desafia os estereótipos de tradição e gênero para perseguir seu maior desejo de nadar no oceano. Escrito e dirigido pela indiana estreante Ravneet Chadha, a história é baseada em um curta homônimo lançado em 2007 e é a quarta vez que o país envia uma candidatura desde 2012.

Já Uganda enviou pela primeira vez um candidato ao Oscar com Kony: Order From Above, dirigido por R. Steve Ayeny. Inspirado em fatos reais, o filme conta a história de dois adolescentes, Otti e Aguti, que se apaixonaram em meio à violenta insurgência do líder rebelde Joseph Kony e seu Lord’s Resistance Army (lembra daquele KONY 2012?). Depois de Otti ser sequestrado, os dois se reencontram anos depois, quando ele se tornou um dos soldados mais confiáveis do líder e ela a esposa de Kony. Encarregado de cuidar da segurança de Aguti, Otti fica dividido entre seu antigo amor e sua lealdade.

Produzido inteiramente em Uganda, Kony: Order From Above estreou no Festival Internacional de Cinema de Zanzibar, na Tanzânia, onde Ayeny recebeu o prêmio de Melhor Talento da África Oriental.

Desde a criação da categoria em 1947, apenas três filmes do continente africano levaram a estatueta: o thriller político argelino Z, dirigido por Costa-Gavras lançado em 1969; Preto e Branco em Cores, de Jean-Jacques Annaud em 1976; e o drama Infância Roubada – primeiro vencedor africano falado em uma língua não francesa a vencer -, dirigido por Gavin Hood em 2005. A última indicação de uma produção africana foi Timbuktu, da Mauritânia, em 2015, mas independente de uma indicação ou uma vitória, o enorme continente com 54 países tem múltiplas histórias e culturas para explorar, só falta oportunidade para esses jovens transformarem suas vozes singulares em arte.