Jumanji continua sendo a melhor e mais divertida franquia de filmes baseado em joguinhos, além de conseguir trazer algumas mensagens bem legais.
Quando saíram as primeiras informações sobre o reboot de Jumanji, confesso que não estava o que podemos chamar de ANIMADA para assistir ao filme. Assim como um monte de gente da minha geração, a história original era tão fantástica e irretocável – talvez por culpa da nossa própria memória afetiva – que era difícil não pensar: “para que mexer em um clássico, Hollywood?”. Até que o Jumanji: Bem-vindo à Selva estreou e conseguiu fazer uma coisa que não imaginei possível: me divertir e não pensar no filme de 1995. Um feito e tanto!
Como tudo que dá certo em Hollywood, a Sony rapidamente foi atrás de desenvolver uma sequência e, então, Jumanji: Próxima Fase estreou com os mesmos elementos que deram certo no filme de 2017 — e que, olha só, dão certo em 2020. Novamente dirigido por Jake Kasdan, o filme acompanha Spencer (Alex Wolff) lidando com a difícil vida universitária em Nova York, longe da sua família e amigos. Ao retornar para casa nas férias de final de ano, ele não tem certeza se sua relação com Martha (Morgan Turner) é capaz de lidar com a distância.
Chegando em casa, o jovem descobre que precisará dividir o quarto com seu avô, Eddie (Danny DeVito), que está se recuperando de uma cirurgia no quadril e reclama constantemente da velhice. Sem conseguir se livrar totalmente das antigas inseguranças e mudanças na sua vida, Spencer deseja se sentir mais uma vez tão poderoso como seu avatar no jogo, o Dr. Smolder Bravestone (Dwayne Johnson)... e lá vamos nós.
Temendo pela segurança de Spencer, os amigos Martha, Bethany (Madison Iseman) e Fridge (Ser’darius Blain) seguem seu rastro para ajudá-lo, mas acabam levando sem querer Eddie e Milo (Danny Glover), seu ex-melhor amigo que tenta se reconectar com o antigo parceiro de trabalho. Com o videogame meio AVARIADO, eles não são capazes de escolher seus avatares e o próprio jogo escolhe aleatoriamente cada personagem – apenas Marta continua como Ruby Roundhouse (Karen Gillan). Aí, Eddie surpreendentemente se torna o Dr. Bravestone, Fridge assume a face do Dr. Shelly Oberon (Jack Black) e Spencer permanece desaparecido.
Com os personagens do primeiro filme personificando novos avatares, Jumanji: Próxima Fase oferece novas dinâmicas entre eles, principalmente em relação a forma como eles lidam com o jogo. No lugar da imprudência adolescente, entra a maturidade que a experiência anterior trouxe e uma atitude mais sábia sobre os perigos reais daquela aventura. Entretanto, o novo filme permanece colocando os velhos personagens em situações comicamente vulneráveis ao fazê-los aprender a lidar com as habilidades e fraquezas dos novos avatares. A partir desses avatares, os personagens são capazes de se tornarem mais honestos sobre si mesmos e entre si. Enquanto no primeiro filme os adolescentes foram capazes de conhecer suas próprias forças e capacidades de enfrentar situações difíceis em grupo, o segundo filme explora suas vulnerabilidades pessoais e como isso afeta suas relações.
Um primeiro filme sobre forças, um segundo filme sobre fraquezas.
Importante dizer, claro, que por se tratar de uma daquelas histórias hollywoodianas para toda a família, Jumanji: Próxima Fase aproveita esta vulnerabilidade dos personagens também como gatilho cômico, dando ao filme a possibilidade de usar a mudança de avatares para brincar com estereótipos sobre idade, raça, traços de caráter e sexo. Os melhores momentos do filme surgem dessas situações e o roteiro faz um bom trabalho em explorar esses elementos sem tornar o humor escrachado demais, ainda que, na hora de lidar com uma pessoa gorda o filme dê algumas grandes escorregadas.
Por ter retornado à Jumanji em um avatar conhecido e ter amadurecido fora do jogo, Martha acaba se colocando em posição de liderança no grupo ao direcionar os outros personagens, motivá-los quando eles precisam e constantemente explicar para Eddie e Milo as regras do jogo. É interessante ver Johnson fora desse papel por boa parte do filme (além de tudo ele ainda fica imitando, de maneira muito divertida, o personagem de Danny DeVitto), principalmente por Gillan assumir essa função. Durante sua passagem pelo Brasil, o JUDAO.com.br bateu um papo exclusivo com a atriz sobre como sua personagem parece mais madura no novo filme.
“No último filme, conhecemos Martha e ela era muito tímida e começou a trabalhar sua coragem na história anterior. É muito bom ver como ela se torna uma líder do grupo. Ela está tão mais confortável em sua própria pele agora e com quem ela realmente é”, afirmou Gillan, que também contou que gostou dessa evolução na sequência.
Assim como todo bom jogo, Jumanji: Próxima Fase apresenta dificuldades maiores de realização que o filme anterior. Além da aventura na floresta, que serve como uma espécie de introdução ao jogo no segundo filme, a nova produção também acrescenta ambientes desafiadoramente clássicos de histórias de aventura, como uma perigosa montanha gelada que deve ser escalada, um deserto com criaturas perigosas e animais cada vez mais assustadores. E como todo jogo de aventura clássico, o filme também tem um vilão com ambições de conquista (Rory McCann), que tem o poder de destruir Jumanji com sua ganância.
Além dos constantes momentos cômicos, Kasdan e os co-roteiristas Jeff Pinkner e Scott Rosenberg acrescentaram um ponto interessante para a história ao abordar mortalidade com a leveza necessária para um filme com foco em um público mais jovem. Quando perguntada sobre essa temática presente em um filme pipoca, Gillan comentou que é legal introduzir mensagens nesse tipo de filme. “O que gosto desses filmes é que eles são divertidos e você pode se divertir com eles. Mas eles também podem ter pequenas mensagens e falar sobre mortalidade, idade e a vida chegando ao fim, algo que todos precisamos lidar. Então é legal abordar isso em um filme divertido”, completou a atriz.
Entretanto, calma, sem exagero, tenha em mente que esse está longe de ser um filme INTROSPECTIVO com uma temática profunda como a morte. E, convenhamos, ninguém espera isso de Jumanji: Próxima Fase, né? Mas, apesar de não introduzir nada realmente original aos filmes de aventura para toda a família, a produção ainda diverte quem quer sentar na poltrona do cinema e simplesmente rir por pouco mais de duas horas de exibição. Já tá de bom tamanho.