Kill la Kill: a zueira não tem limites | JUDAO.com.br

Anime é pura diversão, mas seus tons exagerados podem ser demais para muitas pessoas

Não sou fã de animes, é muito difícil algum me agradar e muitas vezes eu simplesmente não entendo o alarde em cima de alguns títulos. Por exemplo, achei Attack On  Titan um saco. Um mangá e anime que sempre tive curiosidade de ver foi One Piece, devido ao enorme séquito de fãs que ele arrasta. Quando perguntei pra um amigo o que tinha de legal, ele disse: o nonsense. Como assim o nonsense? “Sabe a zueira?” respondeu meu amigo, “então, One Piece é igual: não tem limites”.

Ainda não vi One Piece, mas o conceito dado pelo meu amigo resume perfeitamente Kill la Kill, o anime que conquistou o coração dos órfãos de Attack On Titan neste primeiro semestre de 2014, baseado no mangá de mesmo nome que ainda está sendo publicado. Como todo bom anime, ele não faz o menor sentido: em uma sociedade distópica, colégios fascistas controlam a humanidade dividida por castas e uniformes que podem ou não conferir super-poderes aos seus usuários. Quem está no topo da cadeia usa seu enorme poder para oprimir e conquistar. Em termos de anime, não deve ser a coisa mais ridícula que você ouviu, mas chega perto. Afinal de contas, Attack On Titan tem homens peladões comedores de gente e Neon Genesis Evangelion, um dos animes mais bem-sucedidos que eu conheço, mistura fanservice, colegiais, depressão, apocalipse cristão, aliens e robôs gigantes, então...

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No meio desta trama, a estudante Ryuko Matoi vai atrás dos assassinos de seu pai, um cientista que desenvolvia os tais uniformes, e no caminho ela encontra sua própria roupa, o Senketsu, que vai usar para travar lutas verdadeiramente épicas. É basicamente isso, mas pode inserir TONELADAS de humor nonsense e fanservice além de várias paródias com clichês de anime, desde a protagonista órfã, passando pela sidekick insuportável e muito mais.

O humor e a ação são os principais fatores positivos do anime e levam ao extremo o exagero e absurdo de ambos os aspectos, causando um  nível de destruição similar à Dragon Ball. O humor é forte principalmente no exagero e na paródia. O programa é uma sátira do gênero magical girl de animes como Card Captors Sakura, Sailor Moon  e Madoka Magica. Todos os estereótipos do gênero são extrapolados, principalmente o fanservice: como estamos falando de garotas e roupas mágicas, geralmente quanto menos roupa, mais poder.

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Se você falar japonês, também é mais divertido: muitos nomes e conceitos são trocadilhos com a fonética da língua. Por exemplo, Kill la Kill brinca com a pronúncia semelhante de se vestir e matar/cortar, ou seja, em tradução livre, o anime poderia se chamar ~Vestida para Matar, o que é bem legal. Toda a ideia da série vem de trocadilhos semelhantes, como a proximidade da pronúncia de fashion com fascismo e uniforme com conquista. Olhando por aí, até que faz sentido... né?

Mas nem tudo são flores, ainda mais se você não tem paciência pra bobagens e odeia fanservice. A pegada estúpida da série e suas piadas bestas pode fazer muita gente virar os olhos de frustração, mas o fanservice é o verdadeiro problema. Embora ele seja usado como uma crítica ao próprio fanservice e à objetificação e forma como as mulheres são tratadas nos animes – em alguns momentos existem até referências claras e óbvias de empoderamento e feminismo, além do fato da maioria dos personagens relevantes serem femininos – estes elementos se perdem no exagero.

De fato, muito adolescente onanista vai ver essa série só pra ficar de olho nas garotas peladas e não vai pegar nada da crítica. Por isso, a série como um todo pode passar como boba e seus esforços satíricos como tendo sido feitos em vão. E para os barbudos de plantão, calma: embora em um dado momento o elenco inteiro de homens, mulheres e cachorros acabe pelado, não há genitais, mamilos nem pelos em lugar nenhum, pois aqui o fanservice é um instrumento da insanidade total que é Kill la Kill, e não um objetivo.

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Outra crítica é que é uma bela animação, com uma excelente dublagem, personagens envolventes, ótima trilha sonora e cenas de ação incríveis – que acabam perdidos no universo nonsense do desenho. Parece que tudo isso poderia ter sido muito melhor aproveitado em um anime de ação e aventura realmente épico que se tornaria tão memorável como foi Dragon Ball, Ghost in the Shell ou o interminável Naruto. Todas as qualidades de Kill la Kill parecem desperdiçadas em um anime tão despretensioso, que embora seja pura diversão, vai acabar sendo esquecido. A sensação de que é potencial demais sendo jogado fora é o que mais incomoda.

Enfim, Kill la Kill é um anime divertidíssimo, mas que nem de longe é pra todos. Seu universo insano e seu exagero levado ao extremo – especialmente quanto ao fanservice – pode ser demais para muitas pessoas, principalmente pra quem não está acostumado com animes. Mas se você acha essa ideia divertida e adora ver cenas incríveis de ação, destruição e caos, essa é definitivamente sua praia.

A quem interessar possa: o anime completo já está disponível no Netflix.