Pelo menos é o que diz um estudo publicado recentemente pela Higher School of Economics, lá da Rússia…
Senor Abravanel, aquele que outrora fez muito mas que agora anda importando bem pouco e tava bem na hora de ser cancelado de vez, costuma dizer desde sempre em sua ATRAÇÃO DOMINICAL que barras de ouro valem mais do que dinheiro. Olha, pras pesquisadoras Victoria Dobrynskaya e Julia Kishilova, que publicaram um recente estudo pela universidade russa Higher School of Economics, talvez o pai da Patricia, da Rebeca, da Silvia, da Cintia e da Renata deva repensar suas opções de investimentos aí. Porque talvez umas pequenas pecinhas de metal é que acabem valendo mais do ouro, isso isso.
Em LEGO – The Toy of Smart Investors, apresentado academicamente em Abril do ano passado mas só liberado ao público para download integral agora em Janeiro, as duas autoras defendem que os investimentos em LEGO superam as grandes ações da Bolsa, títulos, ouro e até outros investimentos alternativos.
Sim, sim, elas REALMENTE estão falando dos blocos plásticos de montar interligados — e não necessariamente de suas bem-sucedidas versões cinematográficas e/ou da gigantesca franquia de adaptações da cultura pop para os videogames que eles se tornaram. Ou mesmo das ações da empresa LEGO. O lance aqui é LEGO, o produto, o colecionável.
O jornal britânico Telegraph já tinha feito uma afirmação semelhante em 2015, mas é a primeira vez que temos um estudo acadêmico focado no assunto, com uma análise mais aprofundada e detalhada sobre o tema.
No período analisado pelas estudiosas, de 1987 até 2015, as pessoas que investiram sua grana em adquirir blocos de LEGO tiveram um retorno médio de 11%. Em termos comparativos, por exemplo, a variação das ações do Facebook no último ano foi de -7,42%. Sacou? “Os retornos em LEGO não estão expostos a fatores de risco de mercado, valor, momentum [indicador para visualização dos momentos de tendência de mercado] e volatilidade”, afirma o texto do estudo. “Uma baixa exposição a fatores de risco padrão faz do brinquedo LEGO um atraente investimento alternativo com um bom potencial de diversificação”.
As duas autoras partiram do princípio de que os colecionáveis como um todo (também chamados por elas “investimentos emocionais” ou “investimentos de paixão”) são uma parte importante dos portfólios de investimento de alguns dos maiores investidores em todo o mundo — começando pelo que se convencionou chamar de “arte” de uma maneira mais erudita (pinturas, esculturas e afins) e partindo então para uma acepção bem mais pop da palavra.
Logo, por que não estudar algo que é extremamente popular, não está intrinsecamente ligado ao mercado de luxo e ainda por cima tem preços que, de alguma forma, os fazem ser um investimento mais “acessível” ao investidor comum? Ora, vamos ao LEGO, portanto.
Embora a LEGO, a empresa dinamarquesa, obviamente faça suas vendas no chamado “mercado primário”, o que inclui não apenas lojas próprias mas também uma série de revendedores (aka a loja de brinquedos mais próxima da sua casa), o foco do estudo russo foi no chamado “mercado secundário”. Sets de LEGO usados ou mesmo novos sendo comercializados num esquema em que o preço é determinado por oferta e demanda, no melhor esquema do mercado de ações. Por exemplo: uma vez que um conjunto específico de LEGO é retirado de circulação e/ou não mais produzido pela companhia, bingo, ele se torna cada vez mais raro e passa a valer cada vez mais. Simples de entender.
Elas analisaram nada menos do que os preços de 2.322 sets de LEGO dos temas mais populares, indo de Star Wars a Harry Potter e passando por Marvel, DC, Doctor Who... Desde que, claro, fossem novos e não usados, até para que elas pudessem comparar com os preços de venda recentes, do mercado primário. E também porque não queriam distorcer a análise com itens usados daquele tipo incrivelmente raro, que pode chegar a valer, segundo elas, mais de 600% do seu valor original, quando ainda era aquela caixinha novinha nas prateleiras cujo principal objetivo era despertar a atenção de uma criança e não de um adulto.
O foco de ambas para obter estes preços de referência foi no site Brickpicker.com, uma das maiores comunidades globais de colecionadores de LEGO fundada em 2011, e o livro The Ultimate Guide to Collectible LEGO Sets, um guia de preços que, não por acaso, foi escrito pelos FUNDADORES do Brickpicker.com, os irmãos Ed e Jeff Maciorowski. Os dois são considerados autoridades no mercado quando o assunto é “investimento em LEGO”.
Donos de algo em torno de 7.000 sets de LEGO, espalhados entre suas casas e o escritório (“compre estantes de qualidade e mantenha longe do sol e do mofo”, advertem), os dois dizem, em uma entrevista para a BBC concedida em 2015, que as pessoas que realmente enxergam este papo de LEGO enquanto commodity costumam ser homens de até 50 anos de idade, dispostos a pagar US$ 3.569 por uma Milennium Falcon de 2007 que foi originalmente lançada por US$ 499. “Já existem até companhias de seguro que podem cuidar da sua coleção de LEGO”, explicam.
Jedis e super-heróis, além dos grandes filmes do tipo blockbuster, geralmente estão entre os favoritos dos colecionadores, que também gostam de reproduções de monumentos tipo um Taj Mahal da vida, mas quanto maiores e mais exclusivos forem os sets, melhor. E, claro, é importante que estejam em ótimo estado e, se possível, dentro da caixa original. “Leva algum tempo para atingir altos valores”, eles afirmam, no entanto, reforçando que pode demorar de dois a três anos até que valha REALMENTE a pena pensar em vender a parada. É preciso, portanto, ter paciência.
“As pessoas podem fazer lucros mínimos ou ganhar dezenas de milhares de dólares por ano investindo em conjuntos de LEGO”, afirmam. “Depende de escolher os conjuntos certos para investir, do montante investido, do timing e também de um pouco de sorte”.