Let’s Rock ’n’ Roll, Doctor Who! | JUDAO.com.br

Enquanto rola o Rock in Rio aqui no Brasil, o Doutor volta em grande estilo lá no Reino Unido – e fazendo um som de guitarra enquanto se prepara pra ficar frente a frente de seu maior inimigo

SPOILER! Já são mais de 50 anos de Doctor Who. Nesse período todo, foram incontáveis as vezes que ele ficou próximo da morte. Seja na ficção, com os perigos passados pelas diversas encarnações do personagem, seja na vida real, quando o herói inglês ficou 16 anos longe da TV.

E agora, quando a 9ª temporada desse retorno do herói finalmente abre as suas cortinas — o que rolou no último sábado (19) no episódio The Magician’s Apprentice — descobrimos que o Doutor está mais uma vez em risco. Ele vai morrer amanhã.

Dessa vez o assassino não será mais uma vez a baixa audiência, nem nenhum perigo do mundo ~real. O problema é que Davros, o líder dos Daleks, está a sua procura. O nosso herói aprontou algo no passado e, bom, está na hora de pagar por esse erro.

Davros era o cientista chefe dos Kaleds, que eram uma das raças que habitavam o planeta Skaro. Introduzido em 1975 na série de episódios Genesis of the Daleks, escrito por Terry Nation – o mesmo cara que, na década anterior, tinha criado os Daleks como uma alegoria aos nazistas. Seguindo essa linha de pensamento, Nation colocou Davros com fortes inspirações fascistas.

Depois de mil anos de guerra contra os outros habitantes de lá, os Thals, Davros percebe que o uso de armas nucleares e biológicas por tanto tempo estava fazendo com que o a raça Kaled estivesse em um processo de mutação – e ele então acelera esse processo, alcançando o que ele acha ser o processo evolutivo final. Só que o que surgem são criaturas que são, praticamente, um cérebro de um olho só e com tentáculos, que acham que vão morrer.

Como sempre dá pra dar um jeitinho, Davros então criou uma espécie de “tanque” pra proteger essas criaturas, feito com base em sua própria cadeira de rodas, além de retirar toda e qualquer emoção dos seres. Nasciam os Daleks, que em pouco tempo não só mataram todos os Thals, mas também os outros Kaleds.

O Quarto Doutor acompanhou tudo aquilo de perto, mas não evita o desastre — já que ele acredita que não é correto promover um genocídio, deve haver um “bem maior” ali. Eventualmente, Davros é aparentemente morto pelos próprios Daleks que, mesmo tendo sobrevivido ao encontro, tiveram a sua evolução enquanto raça destruidora de mundos adiada em alguns séculos.

Eventualmente, claro, Davros voltou, ATASANANDO a vida dos Doutores seguintes.

davros

Quando Doctor Who retornou, em 2005, descobrimos que os Senhores do Tempo haviam passado pela “Time War” contra os Daleks e, eventualmente, que Davros havia sido exterminado, assim como a própria raça do Doutor e dos vilões. Mas isso é ficção – e Doctor Who! – então Davros também foi livrado dessa, não só sobrevivendo ao conflito como também conseguindo, depois, criar toda uma nova geração de seres a partir de suas próprias células.

Só que, pelo visto, a vida de Davros está por um fio mais uma vez (e não, não vai ser definitivo) e ele finalmente lembrou de um fato do passado – talvez porque, na vida do Doutor, ele só tenha acontecido agora. É exatamente a cena que abre o episódio, quando vemos um garoto perdido no meio de uma grande guerra, que dura séculos e séculos. Em um campo cheio de “granadas de mão”, o 12º (e atual) Doutor surge, oferecendo ajuda. Só que ele muda de ideia ao descobrir o nome do garoto: Davros.

De forma covarde, o Doutor se nega a continuar ajudando e vai embora, meio que numa reversão da atitude que ele teve nos episódios dos anos 70. O que ele não imaginava é que fazer isso é justamente o primeiro fato que leva o futuro cientista a se engajar na criação dos Daleks. Um conceito, aliás, presente do paradoxo de predestinação, o mesmo está nos dois primeiros filmes de O Exterminador do Futuro.

Uma hora o Doutor se toca da besteira que fez, claro. O cara simplesmente aceita a morte, porque precisa pagar pelo seu erro. Ele passa então o que seria a sua última semana de vida numa festa em Essex, no ano de 1138, vivendo a sua verdadeira (e sensacional) “crise da meia idade”, tocando guitarra, usando óculos escuros e ensinando os medievais a falar “dude”. Um dia antes de morrer, entrega seu “disco de confissão”, que é tipo o testamento, pra Missy – a atual encarnação do Senhor do Tempo chamado Mestre, também um dos arqui-inimigos do Doutor.

Só que não dá pra fugir do destino. Com a ajuda involuntária de Missy e da Clara Oswald, Davros reencontra o Doutor, relevando também que o planeta natal dos Daleks, Skaro, está reconstruído em toda a sua glória.

No clímax do episódio, o próprio Davros joga na cara de todos nós aquilo que o próprio 4º Doutor disse a ele, no episódio de 1975: “Se alguém que conhece o futuro lhe aponta uma criança e diz a você que essa criança crescerá pra ser pura maldade, se tornando um ditador cruel que destruirá milhões de vida, você então mataria a criança?”.

No final, a história mostra que o Doutor, aquele que está enfrentando vilões criados e modelados a partir dos nazistas, também pode ter atos fascistas impensados. Só que nunca é tarde pra voltar atrás, como a última cena do episódio deixa no ar...

Quando acaba, com um bom cliffhanger, o que fica é uma grande história, um ponto alto pra iniciar uma temporada ainda melhor do que foi, por exemplo, o início da 8ª, com a introdução do Peter Capaldi como Doctor Who. Ok, esses conceitos de “tudo vai acabar”, o “Doutor vai morrer”, “vai dar merda com a Clara” podem sim já terem sido muito usados, mas, a essa altura, parece que já são parte importante da mitologia da série — como são o próprio Davros e os Daleks.

Só é uma pena que essa estreia tenha sido completamente ignorada na TV paga brasileira, depois da exibição de Doctor Who estar alinhado com o Reino Unido e os EUA nos últimos anos. Tudo porque o BBC HD (que tem sinal pan-regional pra toda a América Latina) virou o BBC Earth, com todas as séries de ficção (não só Doctor Who) migradas pro BBC Brit e o BBC First, que ainda não chegaram ao nosso País.

Será que colocar no Brasil um dos outros dois canais ao invés do BBC Earth não teria sido uma jogada mais interessante, em termos de audiência?

¯\_(ツ)_/¯