Cinco jornadas definem o que é o WrestleMania e, de certa forma, o que é pro wrestling
Mais um WrestleMania se aproxima, aquela sensação de que todos nós vamos passar raiva com alguns resultados se faz presente... mas o clima de Copa do Mundo toma conta e é quase impossível não se render à empolgação. Veja só, eu até voltei pra escrever algo no JUDAO.com.br!
WrestleMania É ESSA ALEGRIA TODA, CARA!
O algo, nesse caso, não é sobre cada feud e como realmente cada lutador chegou até esse que é o “show dos shows”, óbvio — ninguém vai me fazer escrever mais de um parágrafo sobre Bobby Roode vs Randy Orton vs Jinder Mahal vs Rusev. Talvez só o Rusev. #RusevDay — mas, analisando o card, foi possível chegar à conclusão que o WrestleMania 34, que acontece nesse domingo (08) em Nova Orleans, deve ser lembrado como o Mania da Jornada, graças às cinco lutas que podem definir o que veremos no futuro da WWE.
Eu gostaria MUITO de ter incluído aqui uma luta individual das minas. Mas depois de um ano em que elas conseguiram finalmente firmar a ideia de que são iguais aos lutadores da WWE — com o Royal Rumble, por exemplo, que até ganhou um documentário na WWE Network — parece que ninguém se preocupou em dar ao WrestleMania algo tão ou mais emocionante nesse quesito pra elas... Mas Asuka vs. Charlotte pode ser REALMENTE louco!
Desde 2014, a WWE parece ter um objetivo: fazer Roman Reigns a nova cara da empresa. Do jeito mais manco possível, eles deixaram o cara em uma posição à qual ele ainda não estava preparado, só pro público se voltar contra qualquer coisa que ele fizesse, o que não impediu que ele fosse o main event de todos os WrestleMania desde então.
Geralmente, o WrestleMania serve como a coroação de novas estrelas, mais ou menos o final da novela, praquela galera que não tá muito aí e só assiste ao último capítulo pra ver quem morre, quem casa, quem fica pobre e quem fica rico. Nesse caso, todo main event tinha como objetivo ver o Roman finamente ser bem quisto pelo público, o que só aconteceu (quase) uma vez, no WrestleMania 31, quando ele lutou contra Brock Lesnar.
Mas aí Seth Rollins usou a maleta do Money in the Bank e roubou a coisa toda.
Novamente, no que provavelmente será o Main Event do WrestleMania 34, Roman Reigns lutará mais contra Brock Lesnar, mas tem algo diferente. De alguma forma, o público não está mais vaiando tanto o Reigns. E existe um motivo que provavelmente não fazia parte dos planos da WWE.
Todo mundo não suporta mais o Brock Lesnar como campeão. Apesar de ser um monstro, ter uma aura só dele, é possível ver que o cara tá numa má vontade de caramba ali, aparecendo pouco e fazendo umas lutas que são basicamente a mesma coisa. Ninguém consegue ganhar dele, o cinturão do Universal Championship fica perdido e nada acontece.
Aí entra Roman Reigns que, sem querer, é a esperança de todo mundo ver a WWE andar pra frente. Há quatro anos, esses desgraçados estão nessa tarefa cretina de fazer do Reigns o Superman e pararam todo o resto. Com o Reigns finalmente virando isso e derrotando o seu Doomsday, é possível ver outros lutadores subirem para aquele nível e tentarem destronar o cara. Algo novo. Finalmente.
Durante anos, Shinsuke Nakamura e AJ Styles foram grandes estrelas dentro de suas respectivas empresas. Nakamura brilhava no NJPW, enquanto AJ Styles fazia milagre na TNA. Eventualmente, os dois se encontraram e tiveram sua luta no Wrestle Kingdom 10, espécie de WrestleMania do NJPW, poucos dias antes de Styles assinar com a WWE.
Desde então, AJ Styles mostrou que é um dos, se não o melhor, wrestler em atividade hoje em dia. Nakamura acabou assinando com a WWE, tendo uma luta de estreia MARAVILHOSA contra o Sami Zayn, mas ainda não é o mesmo lutador da época da NJPW.
Eis que, depois de algumas provocações, o rematch do Wrestle Kingdom 10 vai acontecer no que, se der uma louca no Vince McMahon, pode acabar sendo o main event. E é a chance do AJ Styles se firmar como lenda da WWE (só dois anos após entrar na empresa) e Shinsuke Nakamura mostrar tudo aquilo que ele era no NJPW, mas para um público maior.
Agora é a hora da verdade pros dois.
A hora da verdade chega também para duas lendas e futuros membros do Hall da Fama da WWE: John Cena e Undertaker. Um está cada vez mais “garantindo o seu”, participando de filmes, apresentando programas de TV e querendo virar o Duke Nukem no cinema. O outro, parecia ter se aposentado de vez no último WrestleMania (pra, olha só, fazer Roman Reigns parecer forte).
A preparação desse feud foi basicamente John Cena perdendo várias oportunidades de ir ao WrestleMania desde metade do ano passado, só pra começar a chamar o Taker pra porrada porque não tinha ninguém pra lutar com ele. Até aí tudo bem, já teve luta com menos história que isso, mas o fato do Taker não ter respondido e estarmos às vésperas do evento, tornou tudo ainda mais estranho.
O Deadman já deveria ter se aposentado em 2014, quando o Streak acabou. Cada nova luta dele é mais triste de ver porque Mark Calloway tá bem destruído pelos anos como Undertaker, mas ver ele lutando contra o Cena no WrestleMania é algo que todo mundo queria ver.
...anos atrás.
E aí chegamos no ponto em que os dois estão firmando seus legados no mundo do Wrestling, já garantiram seu lugar na história. Mas como será essa reta final?
Ronda Rousey tomou um cacete quando lutou contra quem sabia lutar. Em duas lutas em que ela foi destruída (a segunda contra a brasileira Amanda Nunes chega a dar dó), Ronda mostrou que, mesmo tendo um bom histórico e habilidade, toda a sua presença não foi o suficiente para parar de tomar soco na cara.
Um ano parada fez ela mudar de vida e aquilo que todo mundo já esperava aconteceu: Ronda Rowdy Rousey agora é uma estrela da WWE. Ela nunca escondeu ser fã de pro Wrestling e essa mudança faz sentido, mas existe um perigo absurdo em todo esse processo.
Ronda vem de duas derrotas DOÍDAS, uma que fez ela declarar ter pensado em suicídio. Felizmente, ela parece estar com a cabeça e espírito em outro momento da vida, mas apesar de pro-wrestling ser predeterminado, ela ainda tem chance de fracassar ali.
A WWE tá claramente blindando-a o quanto pode, colocando-a em uma luta com dois lutadores veteranos (Triple H e Kurt Angle) e uma pessoa com quem ela parece se sentir confortável (Stephanie McMahon). É a chance de ela mostrar que pertence àquele lugar, que pode fazer parte daquilo tudo. E essa primeira luta é imprescindível, já que uma bobeira pode fazer ela ter que enfrentar, semanalmente, arenas vaiando e esculachando tudo o que ela pode fazer.
É a segunda chance de, mesmo que meio de mentira, Ronda Rousey mostre que é a mulher mais perigosa do mundo (segunda, já que a Cyborg tá viva).
Daniel Bryan é, provavelmente, o lutador mais carismático da WWE desde os tempos de Stone Cold Steve Austin. O cara, meio que por acaso do destino, acabou tendo um WrestleMania inteiro montado em torno de sua história. Todos acompanharam o seu drama com lesões e concussões nos anos que se seguiram e que, no início de 2017, levaram à sua aposentadoria.
Era doloroso pra todos vê-lo na TV sem fazer aquilo que ele mais amava. Mas o cara não desistiu quando todos falaram que ele deveria. Durante todo o ano que se seguiu, Bryan Danielson passou por testes, tratamentos e médicos de todo o mundo falando que ele estava saudável e apto para lutar.
Durante meses, ele declarou que se a WWE não o liberasse para lutar, esperaria acabar o seu contrato e lutaria em outro lugar, como Ring of Honor ou Japão. Faltando poucas semanas para o WrestleMania, ele foi enfim liberado e, no mesmo dia, acabou por finalmente dar sentido à feud que já era cansativa entre Shane McMahon, Kevin Owens e Sami Zayn.
Com certeza, a luta — uma tag team com o filho do dono da WWE, contra dois excelentes lutadores e que o Bryan conhece de tempos antes da WWE — será legal e provavelmente é a mais aguardada por muitos fãs.
E mesmo tendo a coroação final da nova cara da WWE, dois lutadores finalmente tendo o reconhecimento mundial que merecem, lendas se encontrando no ringue e alguém tentando se firmar em uma nova indústria, existe uma chance enorme de o WrestleMania 34 ser lembrado como aquele com a jornada até o retorno do Yes Movement!