Conhecido pelo belíssimo trabalho de cores em ilustrações de livros infantojuvenis, Rogério Coelho foi um caso à parte nas Graphic MSP.

Foi ele mesmo quem se ofereceu para escrever e desenhar um volume. E já tinha até o personagem em mente: o Louco. Chegou inclusive a mandar algumas artes para apreciação, com um esboço da história começando a ser construído. Quando Mauricio de Sousa se convenceu de que Rogério seria o cara pra dar uma outra pegada ao mais maluco dos integrantes de sua galeria, a única recomendação que deu para lidar com a criação original de seu irmão (o falecido Marcio Araujo) foi manter o nonsense.

Bom, depois de ler a lindíssima Louco – Fuga, dá pra dizer que Rogério seguiu o toque do mestre à risca. Não fugiu do nonsense. Mas foi além. E transformou o nonsense em poesia visual. Brincando com os limites dos próprios quadros narrativos, ele extrapolou os principais elementos das histórias do Louco: as gags visuais que se seguem a trocadilhos textuais e, obviamente, a metalinguagem.

Mais do que qualquer outro personagem da Turma da Mônica, o Louco é aquele que mais tem consciência de que vive num gibi. E se comporta como a gente esperaria que um maluco querendo pular pra fora das páginas das HQs se comportasse. Ele é o Deadpool do Mauricio de Sousa – sem o sangue, o sexo e os palavrões, mas mantendo o bom humor e a lisergia.

Fuga é, na falta de uma definição melhor, uma história de origem para Licurgo Orival Umbelino Cafiaspirino de Oliveira, o Louco. Saltando de história em história, pulando de quadrinho em quadrinho, ele está fugindo dos chamados Guardiões do Silêncio, seres robóticos que parecem não ter alma. Nosso herói está em busca de um pássaro amarelo que tem um canto diferente, lindo e surpreendente, que desperta algo em cada um de nós. Um pássaro que o acompanha desde a infância, que ele mesmo ajudou a libertar quando era só um moleque.

No meio destes saltos, o Louco acaba caindo em lugar bem familiar – e que acaba se tornando uma casa para ele. O Bairro do Limoeiro. Ele conhece quatro crianças, que não entendem muito bem o que ele diz mas se afeiçoam ao sujeito esquisito imediatamente, em especial aquele menino de cabelo espetado e que troca o R pelo L. O tal do Cenourinha.

E então o Louco parece estar pronto não apenas para libertar o pássaro, mas também para entendê-lo.

Fuga acaba fazendo uso da metalinguagem para servir como uma espécie de conexão não apenas entre todas as Graphic MSP, mas também entre os muitos momentos da produção em quadrinhos do Mauricio. Passado, presente e futuro. Gibis infantis e até mesmo a Turma da Mônica Jovem.

O mais legal de tudo é que Rogério Coelho não trata o leitor como um idiota. Conforme a história caminha, você vai sacando imediatamente quem diabos é aquele pássaro amarelo e o que ele representa. Mas em nenhum momento o autor diz “é isso”. A história vai acabar, você vai entender e tudo bem. Ele não precisa esfregar isso na sua cara, não é mesmo? E nem eu vou fazer isso aqui, para acabar estragando a experiência. Tire suas próprias conclusões. ;)

Louco – Fuga é, na falta de um adjetivo melhor, LINDA. Uma história pra ficar admirando cada página, para ficar curtindo as dezenas de pequenos detalhes, as soluções narrativas inteligentes e criativas, a história sendo construída em páginas horizontais. É o tipo de trabalho que Scott McCloud estudaria. E que Will Eisner aplaudiria.

Uma excelente forma de terminar o ano – e que coloca a barra de qualidade lá em cima pra 2016. Vamos ver o que as próximas Graphic MSPs nos reservam.