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Não bastasse ser uma ideia ruim por si só, Mad Max: Fury Road – Furiosa foge completamente daquilo que fez com que gostássemos do filme

As vezes é chato, tedioso e tudo mais, mas conversar com quem faz filme, sobre os filmes que faz, ajuda a gente a compreender melhor a visão dele — e até mesmo a mudar a maneira como assistimos ao seu trabalho.

Uma das coisas que eu mais gostei de Mad Max: Estrada da Fúria é que são poucos diálogos e praticamente nenhum tempo pra explicar quem são aquelas pessoas e porque eles fazem aquilo. Você, naturalmente, embarca naquela onda toda — porque o filme é ASSIM TÃO BOM.

Mas quando você descobre que George Miller (ao lado do roteirista do filme, Nico Lathouris) criou histórias pra cada um daqueles personagens, o filme fica ainda mais sensacional. É algo que pouca gente consegue fazer e, ainda bem, vivemos no tempo em que um senhor de 70 anos faz como ninguém.

Ao contrário de muita gente, porém, eu não acho que seja interessante e/ou importante conhecer essas tais histórias. O fato de elas existirem, pra mim, já basta. Saber que nada daquilo é aleatório e que tudo ajuda a contar a história, porra, foda-se o passado deles. Não há necessidade nenhuma de explicar cada coisinha do que se vê em um filme (viu, Nolan?), basta que elas tenham razão de estar lá, independente de qual seja.

Furiosa, por exemplo. A gente percebe que ela tá tentando salvar aquelas cinco meninas pra evitar que elas acabem como ela, com ódio naquele olhar quase morto, QUEBRADA por anos de abuso de Immortan Joe — o que, por sua vez, nos ajuda a perceber o quão escroto é aquele cara. Um filho da puta que usa aquelas meninas como depósitos de porra (se você fizer uma busca, vai perceber que essa ideia é, infelizmente, real), na tentativa de conseguir um filho perfeito, capaz de seguir sua linhagem de escrotidão.

Ainda assim, George Miller achou que seria uma boa ideia voltar alguns meses no tempo, mais precisamente para a ovulação de Angharad, e estragar um pouco a imagem que temos do senhor que sabe contar uma história como ninguém.

Charlize Theron e George Miller

Charlize Theron e George Miller

Em Mad Max: Fury Road – Furiosa, a primeira das prequências em quadrinhos, temos o exato oposto daquilo que faz o filme ser tipo uma obra prima do cinema. Uma história mastigada, explícita demais (aqui o estupro é, inclusive, desenhado), que serve apenas e tão somente pra colocar, em uma puta arte sensacional (responsabilidade de Tristan Jones, Szymon Kudranski e Mike Spicer), tudo aquilo que a gente já imaginava, até chegar no momento em que o filme começa.

Não havia a menor necessidade disso.

Mad Max: Fury Road - FuriosaSe era pra contar alguma história da Furiosa, que contassem, por exemplo, como era a vida dela no tal do Green Place. É algo que ela fala especificamente no filme e que talvez fosse mais interessante do que “ela é badass, Immortan Joe precisava evitar que o Rictus atacasse suas meninas e ele a colocou de guarda”. Porque essa é a única novidade da história: como e quando Furiosa passou a conviver com elas e porque resolveu tirá-las de lá. ¯\_(ツ)_/¯

E ainda tem a lição de moral sobre “assassinato” numa tentativa de aborto, uma tentativa de piada ao discutir as preferências sexuais de Immortan Joe e os tantos de clichês e estereótipos que o filme fez o favor de ignorar.

George Miller e Nico Lathouris acertaram de uma maneira que muito pouca gente acreditava que fosse possível, com Estrada da Fúria. Se quiserem contar essas histórias, mesmo, não tiver jeito, nenhum, que faça como um filme. Porque, como quadrinistas, eles são ótimos cineastas.

Esse artigo do Mad Max Wiki conta toda a história da Furiosa. Se tiver curiosidade, vale mais a pena. Não tem a arte, mas você também não gasta US$4,50.

E que deixem o Doof Warrior fora dessa.