Constantine e a magia de Arrow | JUDAO.com.br

Na série do Arqueiro Verde, Constantine ajudou a conectar ainda mais as pontas do Universo DC da TV

SPOILER! Tudo deu errado pra Constantine, a série. O episódio piloto vazou (e ninguém gostou), a estreia foi num canal aberto (com menos liberdade e um público muito amplo), os produtores tiveram que mudar os rumos do enredo mais uma vez por conta da pressão dos números de audiência, foram apenas 13 episódios numa primeira temporada planejada pra 20 ou mais e, no meio da história, a série foi cancelada.

Já falamos mais especificamente disso aqui no JUDÃO, mas foi uma pena. Sim, a série começou errado. Claro, um canal como a NBC nunca daria todas as liberdades minimamente necessárias pra se usar bem o personagem, mas, na leva final dos 13 episódios, Constantine havia encontrando o seu tom – e era um bom tom. Esqueça Hellblazer, o gibi original do personagem, afinal aquilo só poderia ser visto numa HBO ou Netflix da vida. E, ainda assim, devidamente adaptado. De resto, Matt Ryan era o Constantine que a televisão poderia nos dar.

Quando o cancelamento da série se tornou óbvio, no fim do ano passado, surgiu a campanha #SaveConstantine. Apesar de ter sido uma das séries mais massacradas que eu tenha visto, já tinha sido construída uma base de fãs. E um desses caras empenhados no resgate era ninguém menos que Stephen Amell, o Arqueiro Verde em pessoa (que pode aparecer na Comic Con Experience, em Dezembro).

Ryan e Amell provavelmente se tornaram amigos. Melhores amigos. Pra vida toda. BFF, mesmo. Com o Arqueiro se colocando até à disposição dos produtores de Constantine, caso a série tivesse sobrevivido, para uma participação especial, a galera que produz Arrow se empolgou em contar com a presença do detetive do oculto. Assim chegamos ao episódio Haunted da série de Oliver Queen, exibido esta semana lá nos EUA.

Arrow

Lá atrás, quando foi introduzida, Arrow era uma série mais “pé-no-chão” (ou o “mais pé-no-chão possível quando falamos de caras que vestem máscaras e combatem o crime”). A influência dos filmes do Batman do Christopher Nolan era forte e a ambientação bebia dessa mesma inspiração. Aos poucos, os roteiristas e produtores foram se dando mais liberdade, introduzindo coisas como o Mirakuru e, por fim, os meta-humanos de The Flash. Só que a maior guinada foi na parte final da última temporada: com Ra’s Al Ghul veio também o Poço de Lázaro e a sua propriedade de restaurar a saúde aos feridos e doentes. Era a magia, aos poucos, dando as caras.

De certa forma, a presença de Constantine foi usada pra polir as arestas dessa mudança de rumo. São duas as contribuições. Na primeira, ele surge nos flashbacks que rolam cinco anos no passado, com Oliver Queen ainda perdido na ilha deserta (mas não tão deserta, nem tão perdido). Quando John Constantine aparece, não só ouvimos o tema da sua própria série tocando ao fundo — meio que dizendo “sim, é o mesmo personagem e tudo que você viu na outra série conta pra essa” — como também percebemos que ele está introduzindo a magia e o oculto retroativamente no Arrowverse. É tudo uma coisa só.

Sempre foi possível reviver mortos, falar com anjos, ter contato com espíritos e enfrentar demônios. Apenas Oliver Queen e Barry Allen não sabiam disso.

A segunda contribuição é no presente. Oliver convoca o velho amigo para ajudar Sara Lance, a antiga Canário e revivida pelo Poço de Lázaro, a retomar a sua alma. Afinal, trazer alguém de volta do mundo dos mortos não pode ser algo fácil, caso contrário pode virar recurso batido e cansativo.

Tudo isso embalado pela ótima atuação de Matt Ryan como o inglês sacana. Mesmo quando Constantine, a série, ainda se arrastava com os roteiros meia-boca nos primeiros episódios, ele já se destacava. Em Arrow, o sarcasmo e as tiradas casaram com o resto do elenco e a história, mesmo que tudo tenha sido um pouco corrido pra caber em menos de uma hora de episódio.

Em pontos, “Haunted” teve a segunda maior audiência desta temporada de Arrow

O crossover funcionou não apenas para a série, mas também para a audiência: para a galera que importa, entre 18 e 49 anos de idade, Arrow teve um crescimento de mais de 10% do público nessa última quarta (4), enquanto quase que todas as outras séries do mesmo dia tiveram uma queda. Foi 1.1 ponto de audiência, contra 0.9 da semana anterior (e 1.1 da estreia da quarta temporada), com 2,6 milhões de telespectadores. E olha que rolou um vazamento desse episódio um ou dois dias antes da exibição.

Em pontos – e não em público, já que isso varia de acordo com o número de TVs ligadas – a audiência foi maior que o Season Finale da terceira temporada.

Arrow Constantine

Resta, agora, torcer para que John Constantine faça outras aparições – The Flash, Supergirl e Legends of Tomorrow são produzidas pelo mesmo grupo e pela Berlanti Productions, mas tem toda aquela questão de saber se é hora de tocar em um assunto tão complicado quanto a magia em cada uma delas. A da Supergirl pode até ser – afinal, magia é uma das fraquezas da personagem – mas é difícil imaginar o Corredor Escarlate dando um tempo em viagens interdimensionais pra se preocupar com coisas como almas penadas e seres das trevas.

O ideal mesmo seria se toda essa atenção e audiência do crossover em Arrow fizesse algum outro canal se interessar por Constantine. Precedentes disso não faltam, começando pelo cancelamento da Mulher-Maravilha pela ABC e a continuação pela CBS ainda no final dos anos 1970.

Constantine nunca será Hellblazer mas, com dedicação, carinho e o canal certo, pode funcionar. Tá aí Haunted pra não me deixar mentir. ;)