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Mortal Kombat X ainda é Mortal Kombat. Só que um Mortal Kombat PADRÃO FIFA…

“Ódio eterno ao futebol moderno” é um dos cânticos que podem ser ouvidos na gloriosa Rua Javari, nos domingos de manhã, quando o Juventus joga com algum time da terceira divisão do Campeonato Paulista. Um estádio sem iluminação, um time tradicional... É, como se diz, o “verdadeiro futebol”, longe daquelas cadeiras, arenas, camarotes, preços absurdos.

LA GRAN graça de Mortal Kombat, o de 2011, é a sua volta aos básicos da franquia, que teve pelo menos dois jogos sensacionais na década de 90 — justamente os primeiros. Não tinha aquele mimimi de ir pra frente e prá trás no cenário, só esquerda e direita; a violência era absurdamente divertida, com aquela quantidade obscena de sangue jorrando, Fatalities, Babalities, Friendships; e o principal: o fato de não se levar a sério. “É divertido voltar ao que fez Mortal Kombat ficar conhecido” nos disse, na época, Hector Sanchez, então produtor da NetherRealm.

Bom... Parece que as coisas mudaram bastante por lá com esse Mortal Kombat X.

“Queríamos buscar algo que fosse um pouco mais realista”, contou Ed Boon, o criador do jogo, ao JUDÃO. “Os novos gráficos que o PS4 e o XONE nos concedem funcionam perfeitamente com fazer algo mais escuro, com menos cores brilhosas, de aparência amigável. Então, esse é um novo visual que queremos adotar”.

E eu me pergunto... Por quê? Pra que?

De tão escuro — e com movimentos tão rápidos de alguns dos personagens — me peguei mais de uma vez perdido procurando o meu personagem na tela, seja confundido-o com o adversário ou não percebendo que ele tinha saído daquele ponto da tela. E o sangue que, apesar de te dar achievements pela quantidade derramada, não é mais aquele vermelho vermelhasco vermelhusco vermelhante vermelhão, dominando a tela?

Mas o que mais me chateou, mesmo, foi o fim daquele esquema de dano nos personagens, que expunha carne, ossos, deixava todo mundo lavado de sangue e sem uns tecos da roupa. Em MKX, ao fim de uma luta, o máximo que se vê são uns arranhões na cara e no peito... E suor — ou o que eu imagino que seja suor, já que, no final de cada luta, os personagens aparecem brilhando pra caralho.

Tudo isso em nome de que? Realismo? O mesmo realismo que permite aqueles golpes do raio X e o prosseguimento da luta? :/

Em Mortal Kombat X, lavô tá novo

Em Mortal Kombat X, lavô tá novo

Jogos de luta tem formatos engessados, sabemos disso. Mortal Kombat, em 2011, conseguiu mudar um pouco essa brincadeira com o modo história e a Krypta, onde você pode destravar skins, golpes e mais uma porrada de coisa com as moedas que ganha durante as lutas — e ambos continuam em Mortal Kombat X, que ainda traz algumas outras brincadeiras interessantes, como as diversas “Torres”, o modo pra um jogador mais tradicional, e as variações de luta de cada personagem (três, pra ser mais exato), focado em um tipo de habilidade ou estilo, o que ajuda na hora de jogar contra alguém que não o computador.

Claro, isso não vai te ajudar muito se você jogar online, porque você vai perder NO MATTER WHAT (e, se ganhar, significa que algo deu errado... Ou você é um grandessíssimo filho da puta e é por sua causa que acho que os tais Easy Fatalities deveriam ser de graça, eternos e expandidos pra Easy Qualquergolpe), mas com a tal de “Guerra de Facções”, pelo menos, todo o seu trabalho offline e/ou solitário conta naqueles leaderboards e na possibilidade de ganhar uns bônus caso a sua facção seja a vencedora (eu fiz o teste e a minha deu Lin Kuei, que segue na frente no momento em que escrevo).

Mortal Kombat XIndependente de tudo isso, Mortal Kombat é um jogo absurdo. Desde o início, a violência nunca foi algo chocante, mas sim parte da diversão. Arrancar uma cabeça com a coluna junto, arrancar coração com a mão, arrancar uma máscara e fazer um churrasco... Transformar o adversário em um bebê, dar um presente. Porque caralhos preferiria esse realismo, essa padrãofifação, essa CHRISTOPHERNOLANIZAÇÃO de Mortal Kombat, em detrimento ao “EmeKa” de raiz, gente?

Só dou um desconto pra seriedade quando se trata da localização do jogo pro Brasil. Mas, antes, vamos deixar uma coisa bem clara: a dublagem não chega nem perto do que o Luciano Huck fez com Enrolados; e ela é ruim como um todo, especialmente porque o texto é que é ruim.

Já a Pitty, bom... Ela não é dubladora, ela também não é atriz. É só uma “star talent” que o pessoal da WB Games aqui no Brasil achou que seria uma boa ter no jogo — e que poderia ser, mesmo... Se tivessem tomado o mínimo de cuidado com o produto final, exigindo mais da baiana do que a leitura de textos.

Um exemplo claro disso é o resultado do trabalho da Marimoon em Detona Ralph — essencialmente, a versão em português da voz que a Sarah Silverman inventou pra personagem. E de propósito, já que tudo deveria ser aprovado pelo pessoal dos EUA, o que, aliás, acontece mesmo com quem já dubla há 15 anos o mesmo personagem. “Controle de qualidade”, alguns chamam. É o mesmo que permitiu algumas ATROCIDADES com o português no jogo de 2011...

O fato, porém, é que não atrapalha em nada. Especialmente no modo história, onde as coisas fluem melhor. A não ser que aquelas conversinhas de merda no começo das lutas sejam importantes pra você por algum motivo — o que provavelmente significa que você é daqueles que ganham lutas online e, portanto, é um grandessíssimo filho da puta.

E se alguém tem culpa, acredite, não é a Pitty.

Ouch!

Ouch!

Eu sei que sou tipo o Mauro Cezar Pereira dessa franquia, preferindo a precariedade e naturalidade da brincadeira, ao invés de toda a técnica aplicada no jogo (tanto por quem desenvolveu quanto por quem joga).

No fim das contas, Mortal Kombat ainda é Mortal Kombat e vou me divertir bastante jogando com amigos... Em casa. Qualquer coisa é só dar aquele tapa no controle dele, gritar pra distrair... Como se fazia lá em 1993. Ou em 2011.

Bons tempos... ;)