Mais ódio, por favor | JUDAO.com.br

No final das contas, o problema são mesmo os outros.

Você é a favor ou contra o PT? Tucano? E o PMDB? Quem lembra do Democratas? É cristão ou ateu? Macumbeiro? Judeu? Muçulmano? Gay? Hétero? Trans? Assexuado? Marchou indignado com a camisa da selecinha brasileña? Acha os que marchou quadrúpedes incapazes de entender o que se passa no país, quiçá no mundo?

O que a gente têm na cabeça?

Entre no perfil do Facebook de alguém que você conhece, qualquer um. Dá uma lida nos cinco últimos posts dessa pessoa e me responde uma coisa: você encontrou ou não algo qualquer de autoria de alguém ou sobre algo que ela diz que odeia ou parece odiar?

Pois é.

Por muito tempo, acreditamos na TV e nas revistas semanais, pensávamos ser um país de todas as cores, credos, cheios de paixões em comum com nossos vizinhos. As novelas mostravam o vilão se dando mal no final, acompanhado por dezenas de grávidas que simbolizavam “vida nova” após os maus-tratos daquela gente má. Como no Lost, lembra? Os outros, o problema é sempre com eles.

Lost

Você sabia que, proporcionalmente à população de cada período, nunca antes na história deste planeta houve tanta gente encarcerada quanto hoje? Aliás, você conhece alguém que esteve ou está preso? Quantas pessoas?

Exatamente, são os outros de quem eu estava falando. Creio que você já está pronto para conhecê-los melhor. Tem cinco minutinhos? Dá play aí embaixo.

O Stanford Prison Experiment estabeleceu um novo paradigma comportamental sobre a repressão. Em teoria, se alguém estiver em posição inferior à nossa, ou seja, na base da pirâmide social, ou mesmo ameaçar diminuir ou eliminar nossos privilégios, sejam eles conquistas ou não, existe uma tendência a calar essas pessoas.

Em resumo, a covardia tem base científica e, sim, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Aproveitando, em breve estreia um filme, que parece ser sensacional, sobre o experimento. Saca o trailer.

Isto posto, sigamos.

Olha bem essas fotos da Lady Gaga de férias nas Bahamas, que rolaram essa semana.

Lady Gaga

Lady Gaga

Sabe qual é o título da matéria de onde eu tirei essas imagens?

De biquíni, Lady Gaga exibe BARRIGUINHA SALIENTE nas Bahamas

Você concorda com este título?

Com quantos gordos você convive? E obesos? Mórbidos? Musculosos? Magrelos? Como é o seu corpo? Você se definiria de qual forma, fisicamente falando?

Nos enxergamos de forma deformada ou superestimada, de acordo com nosso enquadramento aos padrões estabelecidos. Mas qual o interesse da mídia ao estimular esse tipo de coisa?

Oras, o mesmo de qualquer religião ou ideologia, em termos práticos: manter a gente VOLTANDO, buscando expiar nossos pecados, nossas falhas, nosso insucesso, nossa banha. No entanto, a eficiência disso é questionável. De outra forma, teríamos enfrentado bem menos guerras e debates inócuos ao longo da história ou mesmo desde as últimas eleições.

¯\_(ツ)_/¯

Me conta mais: você conhece muitos carecas? E loiros? Índios? Negros? Algum imigrante?

O que você sente quando assiste ao clipe abaixo?

Coisa boa esses moleques não devem ter feito, na certa. Estavam até se escondendo. O clipe dá a ideia de que os pirralhos estavam sendo perseguidos apenas por serem ruivos. Os que fizeram esse vídeo são todos canalhas manipuladores, direitos humanos são para humanos direitos. Daqui a pouco inventam um monte de cotas pra essa gente, pode crer.

;)

Brincadeiras à parte, o clipe é pesado, dá pra sentir a perseguição na pele, seja lá de qual cor for a sua.

Última pergunta: qual a diferença entre os acontecimentos do clipe da M.I.A e as matérias exibidas nos programas do Datena, do Rezende ou mesmo no falecido Polícia 24h?

Enquanto pensa, dá uma conferida no vídeo da Carolina.

Em tempo, indico um filme infalível sobre o tema deste post. O nome dele é O Ódio (La Haine, no original), um filme francês de 1995, a época maldita nas “cohabs” francesas, onde os filhos de imigrantes, dos cidadãos sem escolaridade, dos aposentados, enfim, dos esquecidos em geral, viviam sem expectativa de emprego, universidade, um plano qualquer, ou mesmo futuro. O tédio impera, a vontade de desmontar a hipocrisia da sociedade aos murros/tiros é uma tentação e a tensão é uma constante no filme. Vale o quanto pesa e honra o título.

Não se engane: qualquer relação com a situação atual mundo adentro, 20 anos depois, não é mera coincidência. Até semana que vem.