Mais Sweet do que Lynch | JUDAO.com.br
21 de janeiro de 2015
Música

Mais Sweet do que Lynch

No álbum em parceria Only to Rise, a voz do Stryper se sobressai à guitarra do Dokken

A expectativa gerada em torno de um projeto conjunto reunindo Michael Sweet (a voz do Stryper) e George Lynch (guitarrista de bandas como Dokken e Lynch Mob) foi das maiores dos últimos tempos para os fãs de hard rock.

Rato de Facebook como ele só, Sweet vinha postando diariamente, há uns bons meses, enchendo a bola deste Only to Rise, do Sweet & Lynch, que finalmente chega às lojas físicas e virtuais agora em janeiro.

À primeira ouvida, o Strykken — como eu gosto de chamar — permite comparações com outros dois supergrupos que o novo milênio despejou sobre nós: Chickenfoot e The Winery Dogs. O motivo disso, entretanto, pode provocar a ira dos que elevam Lynch ao topo de um pedestal que outrora conquistou com legitimidade: não há luz de centro de palco para o guitarrista, tal como no Chickenfoot, onde outro mestre das seis cordas, Joe Satriani, é relegado ao posto de integrante gourmet e só. Por conta disso, o Sweet & Lynch é quase um Winery Dogs que, a despeito de reunir aquela que é talvez a melhor cozinha do rock — Billy Sheehan no baixo e Mike Portnoy na batera — ainda soa mais Richie Kotzen que qualquer outra coisa.

The Wish, aquela que ganhou um clipe a jato e genérico no padrão daqueles lançados pela Frontiers Records, abre o trabalho com o sabor de um picolé de gelo. Mas a temperatura não tarda a subir. Depois de queimar a largada, a dupla incendeia com Dying Rose, que é como Heaven Sent (Dokken) e Tangled in the Web (Lynch Mob) soariam se misturadas e batidas numa coqueteleira com ingredientes do século XXI. Love Stays começa a preencher a cota de baladas com um refrão que é uma PUTA chupação de Love Bites, do Def Leppard, e Time Will Tell é Stryper puro, sem tirar nem pôr — deve ser, inclusive, algum tipo de sobra do armário de Mr.Michael.

Na sequência, Rescue Me comprova o que desde o início eu vinha notando: bateria altíssima, duelando com a voz, sobrepondo-se às guitarras de base e aos teclados que você eventualmente sente fazerem cócegas se colocar os fones de ouvidos. Aí na hora do solo você imagina a guitarra plugada no amplificador do Spinal Tap, com Malmsteen e Vinnie Vincent como engenheiros de som (entendedores entenderão).

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Outra balada — “a” balada, eu diria — Me Without You é clone dos mid-tempos que o rock nos ofereceu entre 2002 e 2006 via bandas como Three Doors Down e semelhantes, com a exceção de que aqui temos um vocalista que vale por quatro ou cinco destes caras cantando. Sempre lembrarei de Richard Marx sozinho engolindo o N’Sync em This I Promise You. O solo de Lynch é coisa de deus também; para quem manja de música enquanto teoria e aprecia esse caráter técnico, a escolha das notas é incomum e interessante.

Recover é outra que carrega no peito as cores preto e amarelo das abelhas prediletas de Jesus. Deliver é o tipo de som que nasce a partir de uma jam e aqui Lynch se impõe mais do que em todo o álbum, respondendo cada verso com um fraseado mais insano que o outro, abusando da pobre alavanca de sua ESP. September teve lyric video, promoção básica no YouTube mas, assim como The Wish, come poeira em relação aos melhores sons daqui. E esqueça o que falei a respeito dos teclados logo acima: em Strength in Numbers, eles são o que mais se ouve.

A dobradinha final vem ao jogo quando os ouvidos já estão saturados: Hero Zero, talvez a pior do repertório, e a faixa título, da qual sempre se espera algo grandioso, acima da média... Louvado seja o Senhor, Only to Rise encerra bem o seu álbum homônimo não apenas por ser uma boa música, mas por promover a justiça e permitir a Lynch o que ele faz de melhor: um solo absurdo, monstruoso e longo diante do padrão ouvido nas onze faixas anteriores.

Mesmo na proporção de 60/40 — às vezes 70/30 — em favor de Sweet, a parceria funciona. No frigir dos ovos, pode não remeter aos clássicos que Dokken e Lynch Mob registraram um dia (apesar de este último volta e meia acertar na trave) e passa longe do soco na cara em nome de Deus que é No More Hell to Pay, o mais recente do Stryper, mas possui carisma e potencial para permanecer um bom tempo sincronizado no seu Deezer ou Spotify...eu é que não pago o que as lojas vão cobrar por este CD, no entanto.