A maldição do terceiro filme de Hellboy pode finalmente ter sido quebrada | JUDAO.com.br

A saída de Ed Skrein do elenco do reboot do personagem pode servir para algo muito importante

É justo dizer que, nos cinemas, Hellboy tem uma maldição. Sim, foram feitos dois bons filmes com o personagem, mas algo aconteceu pós 2008, quando foi lançado Hellboy II: O Exército Dourado. O terceiro longa da trilogia foi um grande sonho do diretor Guillermo del Toro, que chegou a usar o público da San Diego Comic-Con para tentar tirar o projeto do papel. Não deu certo e, de forma até que surpreendente, foi anunciado um reboot da franquia – dirigido por Neil Marshall e estrelado por David Habour (o xerife de Stranger Things).

Mas a maldição, que adiou por anos Hellboy 3 e tirou del Toro da jogada, ainda continua lá.

É que, recentemente, foi anunciado que Ed Skrein (inglês, rapper, ator e que atuou em Game of Thrones, série que teve episódios dirigidos por Marshall, além de vilão no filme do Deadpool) estaria no elenco de Hellboy: Rise of the Blood no papel do Major Ben Daimio, um dos integrantes do BIRÔ paranormal do qual o nosso herói vermelho faz parte.

Só que tem um probleminha aí: originalmente, Daimio é um americano de ascendência asiática. Obviamente, a escalação foi bastante criticada.

Alguém pode levantar a bandeira do “ah, que escolham o melhor ator, independente da cor da pele”. Justo, né? Pena que isso não funciona no mundo real. Elencos de grandes filmes de estúdio são mais montados tendo em mente a questão comercial do que diversidade – e, na cabeça de engravatados, um rapper inglês branco no papel de um operativo fodão “vende” mais que um japonês nesse mesmo papel.

É por isso que temos, por exemplo, um filme de Death Note com um deus da morte característico da cultura japonesa aparecendo em Seattle, EUA. Não é à toa que, como mostrou uma pesquisa recente, a diversidade pouco evoluiu em Hollywood nos últimos anos. Não foram à toa, também, as reclamações dos fãs.

A história poderia acabar aí, como tantas outras (beijo, Doutor Estranho) – mas, felizmente, não será assim, mostrando que a sorte do Garoto do Inferno pode estar mudando.

Ed Krein anunciou nesta segunda (28) que está largando o papel. Em um post no twitter, o ator afirmou que não sabia que o Daimio tinha origem japonesa – e que ele “sente que é importante” respeitar a “correta representação cultural” do personagem. “Representar a diversidade étnica é importante, especialmente pra mim, que tenho uma família de ascendência mista”, disse Krein, que completou: “Eu fico triste por deixar Hellboy, mas se esta decisão nos deixar mais próximo deste dia [de maior inclusão], vale a pena. Eu espero que faça a diferença”.

Os produtores Lloyd Levin e Larry Gordon também soltaram um comunicado oficial, apoiando a decisão do ator. “Vamos procurar um ator para o papel que seja mais consistente com o personagem e o material original”, informaram.

Isso é uma reviravolta importante em toda essa história de diversidade. Pela primeira vez, ao menos em um filme baseado em quadrinhos e com toda a atenção de fãs e da mídia especializada, um ator desistiu do papel ao saber (ao menos publicamente) que a escalação dele era um caso de whitewashing. Ed Skrein ganha muito com isso, mostrando que tem um posicionamento correto em relação ao que ele irá interpretar na tela grande, mas o cinema ganha AINDA mais, revelando que atores podem sim mudar o jogo da diversidade.

Os produtores do filme podem ter cometido o erro há algumas semanas, mas agora têm a obrigação moral, eu diria, de encontrar um ator que se encaixe com aquilo que estão adaptando. Independente da regra que algum engravatado queira cagar.

Até porque, vamos jogar a real: são eles, os engravatados, a maldição de Hellboy. Que este tenha sido o último feitiço necessário quebrá-la...