Malévola: uma vilã que não é tão malvada assim... | JUDAO.com.br

Um conto de fadas. Apenas um conto de fadas. E isso é bom.

É assim: você conhece a série de TV Once Upon a Time? Exibido pelo canal americano ABC (não por acaso, parte do conglomerado Disney), o programa faz uma espécie de atualização dos personagens clássicos dos contos de fadas – trazendo–os, então, para um cenário urbano-contemporâneo. No entanto, é tudo re-imaginado com relação ao original. Na ambientação da série, não é incomum descobrir que a Chapeuzinho Vermelho é uma licantropa e que se torna ela mesma no Lobo Mau. Na Terra do Nunca, o Peter Pan é um moleque miserável, com planos de dominação e táticas brutais para usar crianças inocentes para conseguir o que quer, chantageando até mesmo o coitado do Capitão Gancho.

Entendendo isso, dá para tentar sacar o que rola com Malévola, estrelado pela atriz Angelina Jolie no papel da vilã-mor da animação A Bela Adormecida. Esqueça o clima sombrio, dark, quase macabro, que os trailers e os vídeos promocionais tentaram vender. Não, você NÃO vai ver Jolie sendo uma über-bitch durante duas horas, sem interrupção. Sinto se lhes decepciono, mas ela nem vai ser essencialmente uma vilã na maior parte do tempo. O que temos aqui é o conto de fadas recontado, algo como “a história como você não imaginava que realmente fosse”, a la Once Upon a Time, mas sem trazer para o nosso mundo, para a nossa realidade. Temos um outro antagonista, a relação entre Aurora (no caso, o nome verdadeira da Bela Adormecida, aqui vivida docemente por Elle Fanning, irmã da Dakota) e Malévola muda completamente, o príncipe encantado perde totalmente a importância e relevância.

Ou seja: Malévola continua sendo um conto de fadas. Recortado e embaralhado, absolutamente feminista – as duas mulheres principais estão longe de ser donzelas em perigo e provam, de diferentes formas, que sabem se virar muito bem sozinhas.

Mas, ainda assim, um conto de fadas.

Malévola

A trama é simples e facilmente reconhecível. Existe o reino dos homens. E seu reino vizinho, o reino das fadas. O reino dos homens é permeado pela maldade, pela ganância, pela ânsia de poder. O rei quer, a qualquer custo, tomar o reino das fadas, que não têm um monarca porque todas as criaturas mágicas confiam umas nas outras. O caso é que uma das fadas é uma menina fofa chamada Malévola – que, depois de uma situação envolvendo o roubo de uma pedra preciosa, acaba ficando amiga de um jovem humano. Apesar do estranhamento inicial (afinal, Malévola tem enormes e belas asas e um imenso par de chifres), a amizade entre os dois cresce a ponto de se tornar um doce amor juvenil…

(Pausa para uma filosofada: sei que parece estranho que uma menina graciosa, por mais que tenha asas e um par de chifres, tenha o pouco sutil nome de Malévola. Ela poderia ter qualquer outro nome e ter adotado a alcunha depois de crescer, sei lá. Mas pense no seguinte: se os Guardiões de Oa foram capazes de dar um sujeito chamado Sinestro um de seus mais poderosos artefatos de poder, o anel do Lanterna Verde, tudo é possível. Sem falar que, em inglês, Maleficent não é um nome tão facilmente ligado a algo maligno, apesar da origem latina pro nome estar ligada a isso).

O caso é que, conforme os dois crescem, acabam se separando – em especial porque o humano se torna ganancioso o bastante para, passo a passo, ir se aproximando do castelo real. Até que, depois de uma fracassada batalha contra as fadas, ele acaba traindo Malévola para ganhar a confiança do rei e, de quebra, a mão da princesa e a possibilidade de se tornar o sucessor do trono. Se você já ligou dois + dois, sacou que o antigo amor da futura feiticeira maligna é o tal novo regente que, algum tempo depois, será pai de uma menina chamada Aurora. A mesma Aurora que será amaldiçoada por Malévola a cair em sono profundo depois que completar 16 anos, ao espetar o dedo na agulha de uma roca de costura, e só será despertada pelo beijo de um amor verdadeiro.

Esta parte da história, pelo menos, você já conhece. Mas o que se desenrola a partir daí, a sua interação direta com Malévola – que, inicialmente, acaba conhecendo como uma espécie de fada-madrinha – e especialmente a sequência final, aquela da luta do príncipe contra a bruxa que se transforma em dragão, tudo foi absolutamente reconstruído. Tenha em mente que você vai se pegar torcendo por aquela que deveria ser a vilã e contra o “bondoso” papai da personagem principal.

Aurora

Elle faz, no filme, o que faz de melhor: ser uma gracinha. Tá ótimo pra ela. Vamos ser honestos: como era de se esperar, o filme é mesmo de Angelina Jolie, goste você dela ou não. É tudo costurado ao redor da atriz, para que ela brilhe não apenas ao adentrar a sala do trono, deixando os súditos boquiabertos enquanto lança sua maldição cheia de estilo, mas também quando vai lentamente se afeiçoando a Aurora, desde pequenina. Sua maldade vai se quebrando – e naquela que talvez seja a cena mais fofa da película, a pequena Aurora, com cinco aninhos de idade, foge da tutela das três fadas atrapalhadas que a estão criando e encontra Malévola na floresta. Ela se aproxima, sorrindo, pede para subir nos braços da soturna mulher, que acha tudo aquilo muito estranho mas, mesmo a contragosto, acaba cedendo. A cena fica ainda mais graciosa quando você sabe que quem interpreta a personagem ainda criança é ninguém menos do que Vivienne, filha da própria Jolie com Brad Pitt.

Malévola é um filme bonitinho, num resumo bastante simplório. Com um final apoteótico, explosivo e bastante apropriado. Uma espécie de versão live-action dos últimos contos de fadas animados da Disney (leia-se Enrolados, A Princesa e o Sapo, Frozen), com personagens femininas fortes e independentes para servirem de bom exemplo para as meninas de hoje. E deu. Não espere nada além disso. E nem precisa.

Fui, levei a minha filhota de 10 anos, ela amou. Pronto. Malévola cumpriu o seu papel. Próximo! :)