Marvel NOW! será a QUARTA iniciativa do tipo em menos de quatro anos , e a segunda em cerca de um ano… Já deu, né?
Do nada, a Marvel Comics anunciou que fará um relançamento da sua linha de gibis. Chamada Marvel NOW!, a iniciativa promete “títulos blockbusters”, “novos status quo”, “novas revistas mensais” e “uma excitante nova era” que começará no outono dos EUA – ou seja, provavelmente a partir de setembro.
Não, essa notícia não é de 2012. É um anúncio desta semana, um relançamento programado para acontecer logo após o fim de Civil War II, o atual grande crossover da Casa das Ideias. Os novos títulos serão anunciados no dia 13 de julho, com o lançamento de uma edição gratuita da revista Previews – sim, será uma semana antes da San Diego Comic-Con.
“Estamos empolgados de prover aos fãs um panorama das coisas bem antes da SDCC. Os fãs podem esperar para ouvir sobre os novos títulos, o retorno de favoritos e algumas mudanças chocantes de status quo vão manter os fãs tentando adivinhar o que vai acontecer em Civil War II. Nunca houve uma melhor época para ser um leitor da Marvel”, disse o editor-chefe Axel Alonso no comunicado oficial.
Este será nada menos que o QUARTO relançamento da editora em quatro anos – no final de 2012 rolou o Marvel NOW! (sim, o mesmo nome), no comecinho de 2014 veio o All-New Marvel NOW! e, no segundo semestre do ano passado, foi a vez da All-New, All-Different Marvel. Em todos os casos, boa parte das publicações da editora foi relançada a partir do número um, enquanto outros títulos foram lançados. Isso criou diversas anomalias, como o primeiro volume de A-Force com apenas cinco edições – e um segundo volume que, pelo jeito, deve ficar com algo como nove ou 10 números. Teve também Spider-Gwen, que teve dois números 1 no ano passado.
Um ponto em comum é que todas essas iniciativas surgiram para trazer novos leitores ou reaproximar os antigos, mostrando que, a partir de um novo número 1, dava para recomeçar a leitura. E, dessa vez, a Marvel tá precisando.
Depois de um 2015 incrível – o mercado de comic shops como um todo movimentou US$ 579 milhões, 7,17% a mais que o ano anterior – as coisas não estão bem em 2016. Em abril, as vendas pela distribuidora Diamond, que tem o monopólio das comic shops, caíram 18,05% em relação ao mesmo mês do ano passado, enquanto o geral do ano nos quatro primeiros meses tá 7,84% menor. Esses números do ComiChron revelam que ainda se vende MUITO mais do que há cinco anos, dez ou até 15 anos, mas o mercado de HQs dos EUA demonstra que está voltando uns 2, 3 anos no tempo. E isso é preocupante.
O que a Casa das Ideias quer fazer com o Marvel NOW! é tentar reverter esse quadro, como os relançamentos anteriores fizeram, chamando a atenção na mídia e atraindo os novatinhos. No entanto, será que a diminuição das vendas agora não é exatamente um reflexo de tantos (re)lançamentos?
Veja bem: tudo que é feito em excesso, cansa. Fora que, qual é o ânimo de alguém em colecionar alguma coisa se ele sabe que, daqui alguns meses, tudo será cancelado e relançado “com um novo status quo”? No final, os leitores tradicionais deixam de acompanhar e os em potencial já não são mais atingidos pelas notícias de relançamento, pois se torna algo banal.
O que a Marvel precisa fazer é encontrar uma nova fórmula, talvez inspirada um pouco no que a DC está fazendo, editorialmente falando. Podiam escolher quatro, cinco títulos famosos (Avengers, Amazing Spider-Man, Uncanny X-Men, coisas assim) e voltar pra numeração original – como a Distinta Concorrência está fazendo com Action Comics e Detective Comics. Seria um ponto de ligação com o legado do passado, um aceno pra quem é mais purista e cansou de tantos números 1.
Ao mesmo tempo, a editora poderia avisar, desde o começo, que os “chocantes novos títulos” são minisséries. Afinal, uma das grandes reclamações de quem não curte HQs americanas é que elas não possuem começo, meio e fim. Então, se é pra relançar anualmente, que avisem desde o começo que são histórias de começo, meio e fim. Um exemplo? Uma minissérie de 12 edições de Spider-Man com Miles Morales estrelando – pode ser mais de um arco, mas com contexto que caiba em si mesma. Depois de terminada, lancem uma nova minissérie, com um novo título. “Spider-Man: Miles Morales”, ou seja lá o que for. Só que, mais uma vez, com começo, meio e fim.
Certeza que, se tivessem feito isso com os dois volumes de A-Force, as vendas teriam sido melhores que a média de 30 mil exemplares que tem rolado agora em 2016.
Outra iniciativa que a Marvel poteria retornar é com as edições “Point One”. Especiais pra serem lançados uma vez por ano, no lugar dos relançamentos, ou até semestralmente, mostrando como cada personagem chegou ali e o que é importante para o próximo arco ou minissérie.
São ideias. Mas, mais importante do que isso, a Marvel precisa entender que não adianta repetir sempre a mesma estratégia e esperar o mesmo resultado. Entretenimento não é, infelizmente, uma simples equação matemática. E cansa.