Filme parece deslocado da realidade e, apesar de uma ou outra cena de ação interessante, a história escorre pelos dedos de Fede Alvarez, que tem uma direção bem insegura, como se ele estivesse tentando imitar alguém para entregar um tipo de material esperado para o gênero
Millennium: A Garota na Teia de Aranha é baseado no quarto livro da série, sendo o primeiro série escrito por David Lagercrantz, que recebeu da editora Norstedts a missão de continuar esse universo (Larsson morreu em 2004 e não chegou a ver o sucesso da sua trilogia, muito menos suas versões cinematográficas, já que os livros foram publicados postumamente), escrevendo ainda um quinto livro intitulado O Homem que Perseguia a sua Sombra.
Adaptado pelo diretor e co-roteirista Fede Alvarez com Steven Knight e Jay Basu, A Garota na Teia de Aranha acompanha uma Lisbeth mais velha e mais humana, que é contratada para recuperar um programa secreto chamado Firefall que dá ao usuário acesso aos armamentos de mísseis nucleares pelo mundo.
Isso parece familiar, certo? E é aí que está o grande problema de A Garota na Teia de Aranha, que tem uma história que acaba caindo em uma vala comum de enredos de ação ou espionagem. Assim como a franquia Missão: Impossível, James Bond e diversas outras do gênero, a protagonista precisa manter fora de mãos perigosas um dispositivo com a capacidade de dar determinados poderes ilimitados para um grupo criminoso. Adicione a necessidade da protagonista de enfrentar seu passado misterioso e sombrio e pronto, temos um enredo clássico prontinho.
Os primeiros minutos são muito promissores, quando vemos Lisbeth agredindo um homem que bateu na esposa. A sequência inteira é ótima, mas nada é REALMENTE desenvolvido a partir disso.
Abordando esse tipo de trama, o filme de Alvarez parece deslocado da realidade e, apesar de uma ou outra cena de ação interessante, a história escorre pelos seus dedos. E, pior, a direção é bem insegura, como se ele estivesse tentando imitar alguém para entregar um tipo de material esperado para o gênero — o que deve ter a ver com o fato de ele, em entrevista ao JUDAO.com.br, dizer que prefere dirigir somente seu próprio material, o que faz mais sentido com o seu processo criativo.
E sim, essa sequência da abertura lembra muito o trabalho de David Fincher.
Sem dúvida alguma, Claire Foy é um camaleão e consegue assumir papéis bem diferentes em pouco tempo. Sua Lisbeth é esperta, tem uma óbvia referência às mulheres e, apesar do seu jeito gélido, é apaixonada e sensível. Não é difícil adivinhar seus pensamentos a partir das suas expressões, diferente da concepção original ou das interpretações de Rooney Mara e Noomi Rapace. Enquanto as duas versões anteriores dependiam do mistério sobre seu passado, a Lisbeth de Foy não esconde absolutamente nada.
Durante todo o filme, somos lembrados sobre Lisbeth ser uma sobrevivente de agressão sexual, mas isso é usado apenas como uma forma de ligar a protagonista ao passado que ela ignorou. O enredo se encaminha para Lisbeth encarar esse passado, mas não cria uma história que vá além do óbvio.
Diferente do filme dirigido por Fincher, aqui Mikael Blomkvist perdeu bastante espaço na trama e seu papel está mais para um observador das ações de Lisbeth do que um personagem necessariamente ativo. As ações de Mikael acabam sendo um reflexo de como nos sentimos vendo esse filme: apenas um espectador, que observa algo se desenrolar em um mundo onde não podemos entrar ou nos relacionar. Somos convidados a seguir a protagonista, mas não entendemos realmente porque sua luta é tão importante como o filme faz parecer.