Depois do desastre que foi o segundo filme e da retomada no terceiro, Missão: Impossível – Nação Secreta mostra que a franquia fica melhor com o passar dos anos (e com o Tom Cruise no topo!)
Era 1997. Ou começo de 1998? Enfim, não importa. Faz tempo. Foi quando o primeiro filme da série Missão: Impossível estava estreando na TV paga. Já havia visto, um tempo antes, no cinema e tinha adorado. Eu estava na casa de um conhecido e, em certo momento, passou na TV a chamada pra estreia do filme, incluindo aquela já clássica cena do Tom Cruise com um helicóptero, um túnel, um salto e uma explosão. “Mas isso não existe”, ouvi.
Justamente. Essa não é a “Missão: Vai que dá”. Essa é a “Missão: Impossível”.
Nessa quinta (13), estreia Missão: Impossível – Nação Secreta aqui no Brasil (DUAS semanas depois dos EUA, sacanagem!) e tal diálogo não sai da minha cabeça. A essa altura, já no quinto filme dessa nova versão da franquia (a original é da TV dos anos 60), todo mundo sabe o que esperar de Ethan Hunt / Tom Cruise: se meter nos trabalhos mais improváveis e impossíveis dos filmes de ação.
Nação Secreta entrega exatamente isso, mas com um adicional: vem junto de uma boa história de espionagem, talvez até no mesmo nível daquele primeiro filme, que leva a assinatura de um certo Brian De Palma, com um enredo sobre realmente quem é quem e como pegar os VILÕES, com todas aquelas já tradicionais cenas impossíveis entre Londres, Marrocos, Washington, Viena...
Aliás, é na Áustria que rola aquela que é a melhor cena do filme, com Hunt e Benji (Simon Pegg) tretando com os inimigos na incrível Wiener Staatsoper, a Ópera Estatal de Viena. O diretor Christopher McQuarrie faz um ótimo trabalho juntando a ação, o suspense e a própria ópera naquela que já é uma das minhas cenas preferidas de 2015. Tem espaço até pra uma piadinha sobre o Tom Cruise ser baixinho. Quem diria, hein?
Sim, tem piadinhas, até pra aliviar o tom do longa como um todo. Missão: Impossível, nesses últimos filmes, se estabeleceu com um tom mais leve do que se espera de um filme de espionagem, então, elas eram meio que necessárias — mas funcionam e, bom, é isso o que importa.
A “Nação Secreta” do título é um tal de Sindicato (um título “Missão: Impossível – Sindicato Secreto” não ia funcionar tão bem) e vem tirando o sono de Hunt há um bom tempo. Só que as coisas não vão muito bem no âmbito político pra IMF, aquela agência maluca o suficiente pra ter Impossible no nome: os erros que vimos nos dois últimos filmes chamaram a atenção da CIA, motivando o presidente da agência, Alan Hunley (Alec Baldwin), a pedir o fim da organização. E ele consegue.
A IMF é desativada justamente quando Hunt tá em campo, numa emboscada armada pelo Sindicato. Como a CIA nem acredita que tal organização exista, o agente então resolve sair pelo mundo, tentando resolver a treta sozinho, enquanto é perseguido como renegado pelos próprios americanos. Até uma barba ele deixar crescer em certa parte da história.
Nessa trajetória, Hunt encontra Ilsa Faust (Rebecca Ferguson), que opera junto do Sindicato e atira pra todos os lados, literalmente. Uma personagem forte, que te deixa em diversos momentos sem saber pra quem ela realmente tá trabalhando, fazendo um bom contraponto ao Hunt — e, num filme estrelado por Tom Cruise, você consegue ter a noção do trabalho sensacional que ela faz só por isso.
Tom Cruise continua mandando bem, também passados quase 20 anos daquele primeiro filme. Ele se joga nas cenas de ação como poucos e consegue transmitir como aquilo tudo é difícil — ou impossível. Esse filme, especificamente, não tem tantos dilemas pessoais pro Ethan Hunt, mas isso já rolou lá em Missão: Impossível III. O legal aqui é vê-lo, em certo momento, agindo sozinho, sem apoio, sem time, mas com amigos. Quase um 007.
Também, a essa altura, já é meio difícil separar quem é Ethan Hunt, quem é Tom Cruise e o que é Missão: Impossível. É algo que pode ser um problema no futuro, quando eventualmente a franquia tiver que continuar sem ele, mas isso no momento parece estar bem longe de acontecer. O ator tem gás pra mais uns bons anos de cenas de ação e, se você levar em consideração seus 53 anos e o tanto de histórias bizarras que envolvem seu nome, chega a ser impressionante o que e como ele faz essa coisa de “blockbuster”.
Daria, aliás, um estudo bem extenso... :)
Outro personagem de Nação Secreta que merece destaque é a trilha sonora. Joe Kraemer faz um trabalho incrível na composição, misturando as já esperadas reinvenções do tema original da série com músicas novas. Sem falar que, em certos momentos, o filme dá espaço pro próprio som ambiente, como na tal cena da ópera ou numa com Hunt trocando arquivos de um servidor debaixo d’água. É meio que angustiante você ouvir a respiração e o coração do cara, naquela situação... :D
Por isso, uma dica: na hora de escolher o cinema, vai naquele com um som foda. Se a sala MAIS PERTO DE VOCÊ é famosa pela acústica zoada, melhor não ir lá.
Tá, se você procurar defeitos, vai encontrar uma coisa ali e outra aqui. Poderiam ter explorado um pouco mais os objetivos do Sindicato (ou, pelo menos, colocar objetivos tangíveis pros caras), Soloman Lane acaba não cumprindo no final do filme toda a força em cena que ele demonstra ter no começo, tem os clichês que todo mundo espera da franquia (o que não é, necessariamente, ruim), William Brandt (Jeremy Renner) tá mais pra um burocrata do que pra um agente de campo, Luther Stickell (Ving Rhames) precisa maneirar no hambúrguer, os trailers entregam quase todas as cenas de ação e por aí vai. Porém, o que importa é que o roteiro tem boas reviravoltas e vai tentando te enganar sobre elas, por mais que todos os elementos estejam na sua cara. E isso também é bem divertido.
No final, Missão: Impossível – Nação Secreta demonstra que o mundo, dentro do filme ou na poltrona do cinema, ainda vai precisar de Ethan Hunt e da IMF por muitos e muitos anos.
Quem diria, hein, Tom Cruise? :)