Mônica Sousa é a responsável pela MSP não ter virado um museu de algo que um dia já foi legal. Ela é uma pessoa que tem plena noção do contexto cultural e do entretenimento atual e tá com vontade de ressignificar o que há de ultrapassado e criar novas maneiras de manter a turminha relevante SEMPRE. E ela consegue bem. Afinal, pra ser a Dona da Rua original precisa ter fibra e isso ela tem de sobra. <3
“Oi, Bia. Tá por perto do estande da MSP? A Mônica tá pronta pra falar, mas tem que ser agora.” Foi com essas palavras, no telefone, que eu soube que era hora de conversar com Mônica Sousa. Estava meio longe na hora e tive que pular por cima de cosplayers, artistas e outros visitantes no dia mais lotado da Comic Con Experience, o sábado. Alguns minutos (e muitos tropeções) depois, estava lá.
Mônica me recebeu com um sorriso largo e muito animada. “Oi, Bia! Sou a Mônica, muito prazer!”, ela disse, como se PRECISASSE se apresentar. E eu só sorri de volta.
No dia anterior, no painel realizado pela Maurício de Sousa Produções, definitivamente, a “cultura pop Brasileira que deu certo”, foram anunciadas diversas novidades e, principalmente, parcerias. Teve coisa sobre Laços – O Filme, o anúncio da coleção da LAB Fantasma exclusiva com o Jeremias como protagonista e a produção da série animada do Astronauta pela HBO, baseada nas Graphic MSP de Danilo Beyruth que até ganhou seu primeiro teaser — mas, claro, o que não é mais tão novidade assim, como o jogo Mônica e a Guarda dos Coelhos (que você pode conferir mais sobre nesse vídeo) e o crossover entre a Turma da Mônica e a Liga da Justiça, também tiveram seu destaque durante o painel. E foi por aí que começamos.
Então quer dizer que, agora que é todo mundo amiguinho e parte do mesmo universo, Superomão, Batimão e outros trocadilhos feat. corruptelas seriam aposentados? “Imagina! A gente nunca vai parar de falar Superomão! Viraram palavras da turminha, é o jeito que eles falam e nós adoramos”, contou, rindo.
Ufa.
Gelo devidamente obliterado, passamos então a falar um pouco sobre as tais novidades apresentadas nos paineis, começando com Astronauta: Propulsão, a série animada da HBO. Comentei que o Astronauta – Magnetar ainda era a minha favorita de todas as Graphic MSP, e por isso eu estava tão animada com a série. Mônica disse que aquela graphic novel era a mais vendido até pouco tempo, mas Laços, sobre a turminha principal, e Pele, sobre o Jeremias, passaram sua marca neste ano. “Até estão nos procurando pra fazer um filme do Pele!”, contou, sem dar mais detalhes, mas levantando todas as nossas orelhas pro que pode surgir no futuro.
Propulsão será a primeira série animada adulta com um personagem Mauricio de Sousa. “Ele vai ser distribuído pela América Latina inteira, mas outros países também podem comprar. E é isso que a gente quer mesmo, que passe no mundo todo”, disse uma empolgadíssima Mônica. Pra ela, o céu é o limite. “Quanto mais a Turma estiver nos lares das pessoas, passando nossa brasilidade, melhor”. Mas qual é essa brasilidade, afinal? “Queremos, antes de tudo, contar sobre a força das mulheres brasileiras”, disse, o que me fez erguer minha mão para darmos um high-five, porque não aguentei. “A Mônica nasceu nas tiras do cebolinha e se fortificou, ganhou os fãs… e é essa força que queremos mostrar pra todo mundo!”
Mônica ainda afirmou que não acredita que a Turma tenha passos pra dar em relação a diversidade. “Não é algo que se pode mais parar. Vamos cada vez mais falar sobre tudo o que existe e como são as pessoas que moram nesse mundo”, afirmou. E seguiu: “O Chico Bento, por exemplo, era proibido no começo porque falava ‘caipirês’. O Mauricio brigava bastante pra defender isso, assim como brigou pra ter uma personagem que é uma menina, dona da rua e que não tem medo de brigar com um menino pra ter seu espaço. Queremos estar sempre andando junto com o que acontece no mundo.”
Mônica – Força, de Bianca Pinheiro, é a sua favorita. “Fala sobre uma briga dos pais e esse é um assunto que nunca tínhamos abordado. Os pais nas nossas historinhas estão, assim como eram na minha infância, muito distantes. Mas hoje sinto que é uma relação mais próxima… eu acho que é importante as crianças entenderem que uma briga entre seus pais não tem relação com elas”. Mônica disse que se emocionou especialmente por ser filha de pais separados e saber como é complicado viver essa situação. “É importante que a gente passe que os dois, apesar de qualquer desentendimento, vão te amar pro resto da vida”. Ela ainda adiantou que Força terá uma continuação, mas que ainda não sabe sobre a sinopse.
Mônica – Força, Mônica – Laços, Turma da Mônica… isso realmente pode bagunçar sua cabeça, né? “Meu pai fez um super trabalho na minha infância pra eu não ficar metida a besta”, contou. “Ele falava que a Mônica era uma personagem e que eu era uma inspiração, mas que não éramos iguais e eu deveria ter minha própria história”. Ela confessa que chegou a incorporar aquela persona dos quadrinhos e certa vez até tentou brigar com uma menina BEM maior que ela, mas acabou apanhando mais do que batendo. “Hoje eu sinto mesmo muito orgulho de ter essa Mônica inspirada na minha infância… e a minha filha se parece muito com ela também! É brava e quer bater em todo mundo!”, disse, rindo bastante. <3
Sendo a “cultura pop Brasileira que deu certo”, não é nenhum exagero dizer que, essencialmente, toda a comic con e suas experiências só aconteçam por conta da Turma da Mônica — curiosamente, justamente o que a impede de circular pela feira, já que ela não consegue sair do próprio estande sem ser parada pra tirar zilhares de fotos. Mas, recomendou que tanto na ALAMEDA DOS ARTISTAS quanto em qualquer outro lugar e momento, todo mundo procure artistas que falem sobre discriminação. “Tem muita gente legal falando sobre racismo, mulheres falando sobre ser mulher… Eu amo. E nesse ano veio muita artista pra cá! Na primeira CCXP tinha só homens, quase. Isso tá mudando, ainda bem.”
Por falar nisso... E a Turma do Morro, hein, Mônica? “Eu curti muito as ilustrações. E gostamos de ver que a turminha está em todos os lugares do Brasil!” contou, afirmando que, assim como seu pai, pensa que a Turma da Mônica já pertence ao público brasileiro inteiro e não só a eles. “E mesmo que originalmente não esteja representada de um jeito, tem gente que vai lá e faz, com seu jeito, seu estilo. E eu gostaria de ler uma historinha dessas pra ver qual conteúdo seria!”
No final de tudo, perguntei POR QUE precisamos prestar atenção na MSP em 2019. Ela sorriu e me disse: “O painel foi é CURTO pra tantas novidades que temos por aqui. Novos filmes, personagens, Graphics MSP. E, ó...essa história de transformar eles em live-action deu certo e a gente quer ver mais!”
Agradeci, desliguei o gravador. “Eu queria muito ter tido um Donas da Rua quando eu era pequena”, confessei. Ela riu pra mim e disse: “Claro, né? Eu entendo. A Mônica, se fosse menino, seria corajosa. Mas, sendo menina, ela é briguenta, histérica, mandona… mas vamos trabalhar sempre pra mudar isso. Né?”. É sim! É sim!