Conversamos com o diretor Vicente Amorim, que depois de uma série de filmes mais “cabeça” foi rodar um thriller com personagens motoqueiros criados por Danilo Beyruth, o artista da Marvel
“Um thriller de alta voltagem sobre um grupo de motoqueiros que entra em território proibido e é seduzido a fazer uma trilha onde a beleza da paisagem vai sendo rapidamente substituída pelo medo e pela morte”. Você lê uma sinopse destas e aí complementa assistindo a um trailer como este que tá logo aí abaixo e, pimba!, claro que pensa na hora que se trata de um filme gringo. Ação, adrenalina violência, velocidade, estas paradas. Mas deixa a gente te contar: este aí é o Motorrad, longa 100% nacional que chega aos cinemas em Novembro de 2017.
“Estamos numa onda de filme de gênero no Brasil. A gente tá acordando pra isso. A gente sempre quis fazer – bom, EU pelo menos sempre quis fazer, e este é o meu sétimo longa”, conta Vicente Amorim, o diretor, que bateu um papo com o JUDÃO durante a Comic Con de SP. “A maior parte dos meus filmes são dramas sociais [Corações Sujos, Irmã Dulce, O Caminho das Nuvens], sendo que a minha formação toda enquanto jovem, adolescente, é totalmente nerd. Mas aí você acaba se afastando um pouco disso. Não vou fazer, não dá pra fazer. Você não conseguia nem quem acreditasse nisso”.
A gente sabe, cara. Ô como a gente sabe.
Estamos numa onda de filme de gênero no Brasil. A gente tá acordando pra isso. A gente sempre quis fazer (...). Você não conseguia nem quem acreditasse nisso
Segundo ele, existe toda uma geração mais nova de cineastas que têm uma GANA de filmar e também têm estas referências de filmes blockbuster, séries de TV, quadrinhos, videogames. Uma galera apaixonada por este nosso mundinho de cultura pop e que agora finalmente consegue realizar os seus sonhos. “Houve um avanço da técnica de finalização, de produção, que permite fazer um filme como o Motorrad, que não sei se a gente conseguiria fazer há 10, talvez até 5 anos. Tem muitos planos ali que só com a miniaturização das câmeras é que a gente conseguiu transformar em realidade”.
Mas embora diga que este não é um filme 100% focado no público mais nerd, ele sabe que a galera que consome este tipo de produto cultural vai se divertir um bocado. “Tem muitas inspirações, pra galera como a gente ir matando ao longo do filme. Claro que não é um filme só de referência, mas tá ali, é o que a gente vê, o que a gente gosta, o que a gente vive”, explica. Road Rash, por exemplo? “Vocês mataram parte da charada, claro”, diz ele, abrindo um sorrisão. E ainda conta um segredo: a forma como Motorrad foi filmado acabou sendo feita para emular o frame rate dos joguinhos estilo videogame. “E claro que os personagens, a dinâmica entre eles, a gente também bebe um pouco desta fonte. Não é sobre isso, mas é uma fonte de inspiração, sem dúvida”.
Bem resumidamente, segundo o próprio Vicente conta, esta é a história de um grupo que sai pra fazer uma trilha. No meio do caminho, eles encontram uma garota, digamos, diferente, que os chama para fazer uma aventura igualmente diferente, mais legal do que eles tinham planejado. Eles topam, mas pra chegar neste lugar, digamos que precisam violar algumas regras. E a partir daí, tudo começa a dar errado. “É muito uma história deles sendo perseguidos pelos próprios medos e por estes personagens que são os guardiões deste território que eles invadiram. E também é sobre eles se digladiarem entre si a partir do momento que entram em crise”. A treta está devidamente instalada.
Rodado ao longo de cinco semanas na Serra da Canastra (MG), Motorrad tem uma paisagem ao mesmo tempo linda e desolada, que faz parte da trama. “É quase como se aquelas pedras tivessem vida”, explica o cineasta. Além do ambiente, existem outros personagens que são bastante vivos ao longo desta história: as motos. A escolha não foi APENAS porque motos são muito legais, tem um critério narrativo aí também. “Para que o medo se instale de uma forma mais feroz, o isolamento é muito importante. Como você pega uma galera e isola completamente? De carro? Navio? Não, de moto, né. Você entra num território que você só chegaria de moto ou a pé. Aliás, tem territórios que você não alcançaria nem a pé”, explica. “Além, é claro, das perseguições, da velocidade”.
A ideia do filme surgiu há cerca de três anos, com um motoqueiro chamado Tuba, que por acaso é o produtor do filme, LG Tubaldini Jr. O cara é do tipo aventureiro, que faz trilha e tudo. Logo ele pensou que dava pra fazer um filme sobre isso, um thriller. Sentou, escreveu, começou a construir o projeto. E aí, em determinado momento ele pensou: preciso de um cara que entregue esta história, que ajude a desenvolver tudo no formato correto pra quem consome este tipo de produção de ação com um pouco de terror. “Nisso ele foi muito inteligente”, afirma Amorim. “E por isso ele chegou, antes mesmo até da minha entrada no projeto, lá no Danilo”. O tal Danilo, no caso, é o quadrinista Danilo Beyruth, responsável por criar os personagens do filme – e que, vejam só, hoje é o desenhista oficial do Ghost Rider na Marvel, curiosamente na versão Robbie Reyes, aquele que trocou uma moto por um carro.
“O que o Danilo fez, e que é uma coisa que quase não tem no cinema brasileiro, foi o character design, que você tem pra caramba em filme gringo”, conta o diretor. Mas ele se derrete em elogios ao autor do Necronauta quando diz que, mais do que apenas criar os personagens, o Danilo ajudou com o argumento, trabalhando de cabo a rabo em Motorrad. “Posso dizer tranquilamente que ele é coautor do projeto. Quem tem melhores referências para este mundo do que o Danilo? Ele fez toda uma consultoria nerd, digamos assim”, brinca.
Enquanto andávamos pelos corredores do evento pra conversar com o Vicente, a gente falou algumas vezes o nome do filme, Motorrad, Motorrad, e da repetição surgiu a palavra... Motörhead (não minta, temos certeza que isso também passou pela sua cabeça). Será? Bom, perguntamos pro diretor, claro. “Sou fã! Eat the Rich!”, empolga-se ele, relembrando da canção lançada pela banda do saudoso Lemmy em 1987, justamente para a comédia inglesa de humor negro que tem o mesmo nome. Mas apesar da música (e principalmente o rock) ter um papel importante no filme, o nome não tem uma ligação direta com o power trio britânico. “Motorrad quer dizer ‘moto’ em alemão. E claro que serve também como uma uma espécie de sigla pra ‘moto radical’, qualquer coisa assim”.
Tudo bem. Mas que vamos ficar com a nossa versão na cabeça, ah, isso vamos. Vai que a gente deu a ideia que faltava para a música tema do filme...? ;)