Nem Miami nem Cuba, acabamos todos aqui
Nossas paixões nos guiam pela vida, que é o que acontece no intervalo entre uma paixão e outra. Numa noite como as últimas que vivemos, estamos apaixonados uns pelos outros, às vezes a ponto de nos repelir. Queremos ficar perto, mas também longe.
O fatos não ajudam muito, as frases de efeito também. O noticiário, então, torto e torpe, desvia nossos olhos de quem está do nosso lado, fisicamente e no pensamento.
Crescemos brincando com muitos dos que detestamos agora, conversamos longamente, nos confessamos, choramos e até já fizemos amor com alguns dos nossos rivais.
A verdade é que eles sempre estiveram ali. São como a infância, nunca se despediram de nós e nos contorcemos sempre que ela pulsa sem anúncio em nossos mequetrefes corações.
https://www.youtube.com/watch?v=mQH-O2p3M50
Quando um tempo sombrio parece se anunciar, é à nossa época mais tenra que nos agarramos. Correndo, puxando cabelo, enchendo o saco do cachorro e gritando, porque criança grita pra caralho.
Conforme os dias passam, nossa relação com a mudança começa a amadurecer. Nos tornamos adolescentes e começamos a ganhar alguma autonomia para lidar com aquilo. Não que a gente tenha uma noção muito precisa do que nos cerca, mas agimos mesmo assim.
A vida se encarrega de nos dar os safanões que nos faltam quando nossos coroas já não estão mais com a energia ou a paciência adequada, quando já não tem mais vó pra cuidar da gente na ausência deles, quando o medo do escuro é solitário.
Escrevo isso enquanto assisto de novo ao filmaço Una Noche, produção EUA/Cuba/UK. Solidão a três enquanto um futuro embargado é tudo que lhe resta um palmo à frente do nariz.
Sotaque cubano coisa linda, dá mesmo vontade de construir um bote metafísico e zarpar pra Miami ou Havana num momento como esse, quando tudo fica tão claro e tão confuso.
Enfim, ilhados estamos todos. Fiquemos por aqui, portanto. Juntos.