Quando ninguém esperava, eis que Warrel Dane faz o Sanctuary ressurgir das cinzas e entrega um álbum absolutamente memorável
Ah! O cheirinho de um encarte novinho em folha daquele CD recém-aberto. Esse pequeno prazer está ficando cada vez mais raro... Mas, deixando o papo de colecionador de lado, vamos ao que interessa – saber se o mais recente lançamento do Sanctuary se enquadra em mais um daqueles casos de bandas velhacas retomando suas atividades “por pedido um pedido ma$$ivo dos fãs”.
Antes de mais nada, um pouquinho de história. O Sanctuary foi uma icônica banda de heavy metal norte-americana fundada em Seattle no meio da década de 1980 por ninguém menos que o também icônico vocalista Warrel Dane, conhecido por ter forjado anos mais tarde o inesquecível Nevermore, ao lado do seu companheiro Jim Sheppard, baixista das duas bandas.
O antigo Sanctuary, descoberto por Dave Mustaine (Megadeth), lançou apenas dois álbuns de estúdio: Refuge Denied (1987) e Into the Mirror Black (1990), e encerrou as atividades pelos famosos problemas com gravadoras, etc, etc, tão comuns naquela época. Uma pena, pois hibernava ali uma grande potência da musica pesada – e mesmo com apenas dois discos, ainda assim foi o suficiente pra se criar uma legião considerável de seguidores, que ainda pareciam não aceitar que aquela banda tinha acabado. Eu mesmo pude presenciar esta dedicação aos caras em um show da banda no famoso festival alemão Wacken Open Air, em 2012, onde a banda realizou um dos seus aclamados shows de reunião.
Depois de praticamente um quarto de século, eis que a trupe resolve retomar as atividades, lançando The Year the Sun Died, um disco surpreendente não apenas pela capacidade de manter a sonoridade que rendeu ao grupo uma legião de seguidores, mas também por soar contemporânea e ainda pesada, muito pesada, com uma temática lírica característica principalmente das composições de Warrel Dane – o mundo entrando num colapso sem precedentes e a humanidade sucumbindo, como profetiza o parágrafo que antecede cada uma das onze faixas. Detalhe: o material vem todo recheado ainda com uma bela arte de Travis Smith, ilustrador conhecido por seu trabalho com bandas como Opeth, Nevermore, Demons & Wizards, Katatonia, Amorphis, entre outras.
Dentre as faixas, destaco a primeira, Arise and Purify, abrindo o disco com muito peso e distorção, com solos caprichados de guitarra e com Dane esbanjando boa forma vocal, com suas variações entre partes melódicas, ainda que agressivas, e momentos mais graves.
Uma sonoridade mais agressiva ainda e com pura velocidade caracteriza as ótimas Let The Serpent Follow Me, Question Existence Fading – uma das minhas favoritas imediatas – e Frozen, enquanto a coesão da cozinha da banda (baixo e bateria) cadencia predominantemente faixas como a espetacular Exitium (Anthem of the Living) e a semi balada I am Low.
Ainda são destaques The World is Wired, com uma pegada bem metal tradicional, e a ótima instrumental Ad Vitam Aeternam, que serve como uma rápida introdução para a composição que encerra o disco de forma magistral, a faixa que batiza o nome do disco.
Fica fácil concluir que o Sanctuary foi um dos felizes casos de bandas que retomam suas atividades depois de muito tempo, quando a banda era praticamente dada como morta. Acreditem, ainda são muito raros. E pelo visto, se continuar nesse caminho, ainda existe muita lenha para Dane queimar pela frente.
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Alex Estevam foi convidado pra escrever essa resenha. Fã de heavy metal desde sempre (há quem diga que ele nasceu batendo cabeça), já foi colaborador de sites como Whiplash e Território da Música. Além disso, é companheiro frequente do Cardim em shows – embora ambos admitam que estão ficando velhos para isso. :D