Prometida desde o primeiro episódio da quarta temporada, a morte finalmente chegou. E agora, José?
SPOILER! Arrow, em seu começo, era sobre três amigos: Oliver, Tommy e Laurel. Eles cresceram juntos, viveram juntos, tiveram aventuras juntos e, em certo momento, a vida tratou por separá-los. Oliver passou cinco anos numa ilha deserta, considerado morto; Laurel seguiu a vida, com ódio e dor por ter perdido a irmã e o namorado no mesmo acidente (e enquanto a traíam); e Tommy passou a ter que conviver com o ódio do próprio pai e a culpa por ter se apaixonado pela namorada do falecido melhor amigo.
Ainda lá no começo dessa história conhecemos Diggle, que foi meio que como o D’Artagnan dessa história, apesar dele ser, naquele começo, ainda sobre Athos, Porthos e Aramis. Só que aí Tommy morreu no final da primeira temporada. E, agora, Laurel morreu no episódio de Arrow desta semana, Eleven-Fifty-Nine.
Esta quarta temporada de Arrow é sobre uma morte, apresentada numa cena “seis meses no futuro” no final do S04E01. Um mistério guardado a sete chaves, que nem Stephen Amell sabia. Em entrevistas, o ator contou que o roteiro omitia o nome que estava na lápide – apenas haviam contado, para ajudar na atuação, que era alguém muito próximo ao Oliver Queen.
A promessa foi cumprida: pra ser alguém mais próximo de Ollie, só se fosse a Felicity, mas já sabíamos que não era ela desde outro flashforward.
Como construção dramática, funcionou. Fizeram algo que foi prendendo quem assiste à série e, claro, brincaram com quem poderia morrer. A própria Felicity, por exemplo, ficou na “alça de mira”, levou uns tiros e ficou entre a vida e a morte. Porém, os roteiros souberam dosar esse mistério, sem se tornar algo pedante ou que atrapalhasse a história maior que tava sendo contada ali.
Porém, fica a dúvida: agora que cumpriu a missão de carregar na dramaticidade da temporada, a morte de Laurel terá realmente serventia para a história que será contada a partir de agora? Ser uma morte além de mais uma morte?
É aí que fica o desafio.
O primeiro reflexo disso está na morte por si só. Laurel não morreu como guerreira, como uma lutadora, como a Canário Negro. O vilão Damien Darhk a feriu gravemente, mas a heroína foi operada e, aparentemente, estava bem. Tudo pra dar tempo dela contar um segredo pro Oliver e, aí sim, sofrer uma embolia e morrer. Num leito de hospital.
Nesse caso, o roteiro poderia ser sido mais inteligente. Ela poderia ter morrido em luta, apenas ao lado do Arqueiro Verde, tendo todo aquele final dramático de “eu sempre vou te amar”, o segredo e pronto. Sem essa de tentar jogar pra cima e pra baixo as emoções do telespectador durante o episódio. Ainda assim deu pra se emocionar, principalmente ao ver a reação do Capitão Lance (o ótimo Paul Blackthorne) ao saber da morte da filha.
E aí, agora, teremos esse mistério, que, de acordo com a produtora executiva Wendy Mericle em entrevista coletiva, será revelado apenas na quinta temporada.
Não dá pra saber ainda o que vai rolar no quinto ano, mas uma coisa é certa: a morte da Canário Negro servirá de força para o Arqueiro Verde enfrentar Damien Darhk nestes últimos cinco episódios do quarto, caindo naquela história do Women in Refrigerators Syndrome.
Esse nome surgiu em 1999, num site criado por Gail Simone e outros fãs de quadrinhos que escancarava uma realidade: de que personagens femininas acabavam mortas, gravemente feridas ou sem poderes apenas para servirem de motivação para os protagonistas homens. “Women in Refrigerators” era uma referência direta ao que havia acontecido com Alex, namorada do Lanterna Verde Kyle Rayner nos anos 90, que acabou morta e colocada dentro de uma geladeira depois de poucas HQs, servindo a essa propósito de “escada” pro herói.
Se Laurel Lance morreu apenas pra “ficar na geladeira do Oliver”, é uma morte totalmente vazia.
“Nós começamos este ano com a promessa de uma morte, e quando nós trabalhamos o nosso caminho por meio de nossas diferentes opções criativas, percebemos que a única coisa que vai fazer mais barulho, indo para o final da temporada e na próxima, infelizmente seria [matar] a Laurel”, defendeu-se o produtor-executivo Marc Gugghenheim na entrevista. “Sabíamos que iria irritar muita gente. Nós não somos [cegos] para o shipping, e não estamos [cegos] para as controvérsias da internet ... Mas nós nunca tomamos decisões sobre a série, de forma criativa, por causa da internet”.
Como Gugghenheim deixa claro nessa mesma entrevista, todo mundo em Arrow – menos o Arqueiro Verde – pode morrer. Isso sempre foi muito claro. Só que a morte de Tommy no primeiro ano foi um ponto PIVOTAL na construção do protagonista, deixando de matar seus inimigos. Já a morte de Sara Lance, a primeira Canário, serviu para construir o plano mirabolante do Malcolm Merlyn, aquele que fez o Arqueiro enfrentar Ra’s Al Ghul. Também teve a morte fake do Roy Harper, mas naquele caso o ator tinha pedido pra sair da série e ainda serviu de trampolim para o Oliver finalmente assumir o manto de Arqueiro Verde.
E agora tem a Laurel. Certamente, deve ter pesado o fato de que a personagem nunca engrenou como os produtores queriam. Faltou química entre a atriz Katie Cassidy com Stephen Amell, tanto é que a Felicity ocupou esse espaço. Depois, tentaram outros subplots para a personagem, como quando ela odiava o Arqueiro, teve problemas com álcool ou foi lá reviver a irmã. Por fim, a transformam em Canário Negro, como nos quadrinhos, mas ela teve raras boas cenas de ação. Willa Holland, a Thea/Speedy, evoluiu muito mais nas coreografias no mesmo período.
No final, parece que Laurel Lance já havia cumprido toda a sua missão na série.
Como uma obra aberta, que rola semanalmente, Arrow ainda pode errar totalmente sobre essa morte. Como também pode acertar. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.
Uma das coisas importantes sobre o Arrowverse é que, há algum tempo, nem todo mundo que morre continua morto. Laurel pode voltar, seja via um universo paralelo, viagem no tempo ou até mesmo com o Poço de Lázaro (o de Nanda Parbat foi destruído, mas será o único?). “Nós reconhecemos que, através das três séries, que quando matamos um personagem, significa algo diferente agora”, disse Gughenheim. “Nós podemos fazer um episódio no qual Oliver Queen encontra a Laurel Lance da Terra-2 – que agora é uma possibilidade. Viagem no tempo é uma possibilidade. A série evoluiu, assim como a morte, então vou deixar pra vocês decidirem se o resultado é mais ou menos impactante”.
Já sabemos que a Laurel da Terra-2 dará as caras no episódio 22 da segunda temporada de The Flash, assim como teremos a personagem aparecendo na animação Vixen, que faz parte do mesmo universo. Saída pra futuros retornos também não faltam.
A sinopse do próximo episódio (que será exibido apenas em 27 de abril), Canary Cry, já fala em uma vigilante misteriosa que pode ser a Canário Negro. Porém, seria muito cedo para um retorno e a Katie já disse que gravou diversos flashbacks para o episódio. Será, provavelmente, apenas fumaça.
O caminho mais fácil para revivê-la parece passar pela Sara Lance, a atual Canário Branco de Legends of Tomorrow. Laurel sacrificou tudo para reviver a irmã, justo então imaginar que a Sara vai querer retribuir. Como Legends é sobre viagens no tempo e a Sara não estava presente no momento no qual a Canário Negro morre (é uma das regrinhas da série: você não pode viajar duas vezes pra mesma época), há essa possiblidade.
Uma das pistas está no nome do episódio: Eleven-Fifty-Nine. 11h59 não é só uma referência ao horário da morte da Laurel e também ao fato de faltar 1 minuto no “Relógio do Juízo Final”, mas também pode ser uma indicação de que é tudo uma questão de... tempo. Inclusive, já está garantindo que Sara irá descobrir sobre a morte em Legends, com participação do Paul Blackthorne.
Duas coisas tem realmente incomodado nessa temporada, ambas com F: Felicity e os Flashbacks. Ao invés de explorar o relacionamento entre Ollie e Felicity de outras formas, alheia ao Olicity e ao mimimi de quem quer algo igual aos quadrinhos, a série preferiu ir no caminho do “heróis não podem ter relacionamentos sérios” e já encheu o saco. Parece coisa de roteirista fraco do Homem-Aranha nos anos 90 e 2000. Pior: fizeram o mesmo em The Flash, tirando a personagem da Patty Spivot (uma das melhores coisas da segunda temporada) porque o Barry não poderia ficar “feliz” enquanto enfrenta o vilão Zoom.
Outro detalhe que fica claro agora é que deixaram a Felicity de lado pra dar espaço para um crescimento da Laurel e do relacionamento com o Oliver Queen nesses últimos episódios pré-morte. Sabe aquele personagem que sempre ganha destaque antes de vestir o paletó de madeira? Então.
Já os flasbacks estão chatos por (quase) toda a temporada, com enredo que pouco evolui e, até agora, tem servido apenas pra explicar de onde vieram os poderes do Darhk. Ao menos eles introduziram o Constantine no Arrowverse, no único flashback que efetivamente funcionou.
Apesar de alguns acertos, Arrow ainda tem muita coisa pra arrumar nesses últimos cinco episódios. Ou pra, pelo menos, justificar algumas das escolhas feitas durante o ano. Vamos ver...