Disney, Fox e a Lionsgate investem em uma nova forma de vender ingressos via internet. O motivo? Querem levar mais gente aos cinemas!
Cinquenta milhões de dólares. Foi isso que Disney, Fox e a Lionsgate gastaram pra, juntas, comprarem a Atom Tickets, na esperança de resolver um velho problema: levar mais gente pros cinemas. “CHACOALHAR este mercado será benéfico para todo mundo”, disse Kevin Mayer, chefe de estratégia da Disney, para o Wall Street Journal.
A Atom Tickets começou a operar em abril de 2015 em apenas três mercados dentro dos EUA, planejando um lançamento nacional no próximo verão do hemisfério norte. A ideia básica é ir além da venda normal de ingressos: via app, você seleciona qual filme quer ver, a sala e o horário e, assim, seus amigos são convidados a ver o filme com você. Ao invés de um ingresso, o cinema vende um bloco deles enquanto estimula as pessoas a irem juntas.
Caso o cinema concorde, é possível dar descontos progressivos de acordo com o número de pessoas que irão em cada grupo, por exemplo. Essa opção pode ser limitada em blockbusters com grande procura, ou depender do horário da sessão.
Se você pensar que ir ao cinema em BANDO é sempre mais divertido e que, atualmente, existe pouco estimulo pra isso, a ideia é genial. Pra você, pros cinemas e pra quem vende o ingresso, claro. “As pessoas possuem tantas opções em casa, então nós precisamos facilitar a experiência social de ir ao cinema”, comentou Jim Gianopulos, executivo-chefe da Fox. Não preciso nem explicar a quem ele tá se referindo, né?
Não para por aí: a ideia da Atom é também dar descontos para aquelas sessões mais vazias, filmes menos bombados, etc. Esse “preço variável” não é exatamente uma ideia nova, mas ela é bastante polêmica. Afinal, a iniciativa pode encher as salas que estariam às moscas, mas afetaria a margem dos cinemas em sessões problemáticas – mas sabemos que essa não é a única fonte de renda dos exibidores. Aquela sua adorada pipoca com bastante manteiga não é barata, né?
Com a Atom, os estúdios norte-americanos podem atacar uma importante parte do mercado que eles estão perdendo. De acordo com a Motion Picture Association of America, tem caído anualmente o número de pessoas entre 13 e 40 anos que vão aos cinemas – um grupo que representa 85% das pessoas que usaram o app nos mercados que a Atom tá testando. Outro detalhe é que, na terra de Bernie Sanders, apenas 15% da venda de TÍQUETES de cinema é feita online. Há um potencial enorme de crescimento aí.
Só que a vida não será fácil pra Atom e seus novos investidores. O mercado de venda online de ingressos de cinemas nos EUA é dominado pelo Fandango, empresa criada em 2000 e que possui acordos com as principais redes na terra do Tio Sam. No caso, a Atom terá que bater de frente com essa empresa, que desde 2007 faz parte do mesmo grupo da Universal.
O Fandango é outra que está procurando formas de ser inovadora não só para ampliar sua participação no mercado como um todo, mas também levar mais gente aos cinemas. Na última semana eles compraram o M-Go, um serviço de vídeo on-demmand que consegue ter diversos títulos no catálogo ANTES do lançamento em home video, e a intenção é oferecer isso JUNTO com a venda de ingressos — uma ideia até que tentadora, desde que o preço não seja proibitivo. Além disso, a empresa está negociando a compra da Flixster – que começou como uma rede social pra trocar ideias sobre filmes, gostos e informações sobre lançamentos. Quando o site foi comprado pela Time Warner, passou a agregar a venda de ingressos e, mais recentemente, a possibilidade de alugar, comprar e ver filmes diretamente na plataforma.
Se tudo isso der certo, o Fandango pode virar um sistema de filmes ANYWHERE sem precedentes.
Falando na Warner, o grupo tem participação no principal concorrente do Fandango: o MovieTickets.com, mas a empresa é muito menor. Algumas redes pequenas e salas independentes também investem em sistemas próprios para a venda de ingressos ou em parcerias com a TicketMaster, que é mais tradicional na área de shows, teatro e esportes.
A empresa mais tradicional, pra não dizer única, na venda de ingressos para cinemas por aqui é a Ingresso.com, que faz aquele esquema tradicional de venda para serem impressos em casa, usados via celular ou retirados na bilheteria — cobrando aquela deliciosa taxa de conveniência.
Apesar da crise do marasmo, os exibidores brasileiros não têm muito o que reclamar: o mercado de cinema cresceu 11,1% em 2015, com 172,9 milhões de espectadores, de acordo com a Ancine. Quer dizer, por “espectadores” leia-se “ingressos”, já que uma pessoa pode ir ao cinema mais de uma vez ao ano... Ou nem sequer ir, como estamos aprendendo com Os Dez Mandamentos. Ainda assim, vendemos bem menos entradas do que na França, que chegou na marca dos 206 milhões em 2015. Isso com uma população três vezes menor que a nossa — só que com mais do que o dobro de salas.
Um pouco de criatividade aqui poderia fazer bem no nosso País, assim como nos EUA. Nesse sentido, nos últimos meses estreou no Brasil o Primepass. Diferentemente do Atom, a ideia da iniciativa brasileira não é favorecer quem vai ao cinema em grupo, mas quem vai ao cinema sempre. São oferecidas assinaturas que permitem ir em qualquer sala disponível, devidamente identificadas pelo app do serviço, por um valor fixo por mês.
O curioso é que enquanto a Atom vai ter que suar um pouco para conseguir acordos com as cinco grandes redes de cinema dos EUA e Canadá, a Primepass foi pelo outro lado: não há acordo algum. O cartão deles é, simplesmente, um cartão de crédito normal. Só que quem “paga a fatura” é o serviço, cobrando do cliente apenas a tal assinatura mensal.
Tá, mas se os caras pagam mais para os exibidores do que arrecadam dos clientes, a conta não fecha, certo? Foi exatamente isso que questionamos. “Primepass é uma plataforma mais ampla, que inclui vários benefícios como streaming de musica e vídeo. Lançamos o acesso ilimitado ao cinema como novidade no mercado e para nos posicionar primeiro neste segmento. Os outros produtos adicionais são os que permitem bancar o passe de cinema no longo prazo”, respondeu Juan Balmacea, diretor de Operações da empresa.
De certa forma, isso soa um pouco parecido com que o Fandango está buscando lá nos EUA, e não à toa: em setembro do ano passado, o Ingresso.com foi vendido por cerca de R$ 280 milhões... Ao Fandango. :)
Antigamente, BEM antigamente, o cinema era algo pra passar a tarde ou a noite inteira. Tinha animação, curta, longa-metragem, cinejornal... Uma série de atrativos para fazer você gastar seu suado dinheiro por lá. Depois, passou a se pagar caro pra se ver um filme com a “experiência” da tela grande, 3D, conforto... Mas parece que, nessa época de internet e streaming ilimitado, essa era também está acabando. Os cinemas precisam oferecer MAIS, e é justamente isso que estão buscando.
Diria que o consumidor só tem a ganhar. ;)