A assombrosa semelhança entre Graceland e o trabalho da banda de Nova York
OBRAS DO ACASO Com uma pequena coleção de clássicos ao longo dos anos 60 e 70, a dupla Simon and Garfunkel se separou logo após o lançamento do lindo Bridge Over Troubled Water, em 1970. Exceto ocasionais reencontros — com destaque pro show no Central Park em 1982 que virou um disco ao vivo — os músicos de Nova York seguiram suas carreiras separadamente.
E, como todo mundo sabe, Paul Simon construiu uma carreira solo mais sólida que a de Art Garfunkel. Porém, eu nunca tinha prestado atenção em Paul Simon. E, após uma rápida pesquisa, listei os álbuns mais proeminentes do agora senhor de 74 anos. Além da estreia homônima de 1972, lá estava Graceland, lançado em 1986. Corre pro Spotify e play!
Após um começo com tons de country music em The Boy in the Bubble, com algo parecido com uma tuba (seria uma tuba?) dialogando com o vocal delicado de Simon, o disco começa a parecer familiar a partir da estupenda Graceland, segunda faixa do disco. Aqui o clima caipira americano começa a ganhar um tempero diferente. Se a letra começa citando o delta do Mississipi, o andamento da música é mais quebrado do que se esperaria de uma canção country. Você pensa: “onde eu já ouvi isso?”.
Ao chegar na terceira musica, I Know What I Know, tive aquele momento de epifania: “Opa! Isso é Vampire Weekend!”
Sim, quando a banda lançou seu primeiro e homônimo disco, em 2008, muita gente apontou semelhanças com o Graceland de seu conterrâneo de Nova York Paul Simon. E, como um garoto da bolha citado na primeira canção de Graceland, eu não tinha tido contato com essa polêmica. Polêmica que, aliás, foi logo descartada por Simon, que mandou os críticos largarem do pé dos jovens vampiros.
Mas olha, a semelhança entre Graceland e o trabalho do Vampire Weekend é de fato assombrosa. Além do tom de voz de Simon e do vocalista Ezra Koenig serem bastante semelhantes, o motivo principal, é claro, é a influência da música pop africana em ambos os trabalhos. Simon gravou Graceland na África do Sul, em um projeto que já causava polêmica nos anos 80.
Quando ele foi ao país africano para gravar com músicos locais, a África do Sul vivia sob o nefasto regime do apartheid. Muitos artistas na época adotaram um boicote ao país e não gostaram nada da ideia de Simon. Essa matéria do Guardian conta bem essa história.
A polêmica musical, mais amena que a polêmica política, terminou numa boa. Koenig chegou até a gravar uma versão de uma música de Simon: Papa Hobo. Música esta que, estranhamente, não faz parte de Graceland e sim do disco Paul Simon, de 72.
Agora faça o seguinte: ouça abaixo a contagiante Diamonds On the Soles of Her Shoes. Feche os olhos e diz aí se você não acreditaria se te dissessem que é uma música perdida do primeiro disco do Vampire Weekend.
Caso você não conheça o Vampire Weekend (e provavelmente nem está lendo mais esse post porque, né?, foda-se), aí vai a referência.
E, abaixo, um vídeo de um cara que editou Crazy Love, do Paul Simon, com White Sky, do Vampire Weekend. Ficou meio tosco, na real. Mas vale a curiosidade.
E, se você como eu não sabia muito sobre Paul Simon mas curtiu conhecer, saiba que ele segue na ativa e lançou um discaço esse ano. Stranger to Stranger está disponível nos serviços de streaming e vale muito pena ser ouvido!
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