O Homem-Aranha dos anos 90 não está exatamente de volta, não | JUDAO.com.br

Não é AQUELE Cabeça-de-Teia que você estava esperando que aparece nas páginas de Spider-Man: Renew Your Vows

Eu sou cria do Homem-Aranha dos anos 90, confesso. Pela TV, acompanhei a série animada da época, que fez um bom trabalho recontando quase que toda a carreira do Escalador de Paredes. Pelos gibis, conheci um Peter Parker mais velho, casado, pronto para ter um filho – que ele teve! Foi uma época confusa, Saga do Clone e tal, mas foi o suficiente para me apaixonar pelo personagem e buscar tudo o que havia sido feito antes com o herói.

Só que aquele Homem-Aranha que eu conheci não existe mais. Normal, tudo muda, não é?

Aproveitando a confusão de universos paralelos na nova versão de Secret Wars, que juntou diversas Terras diferentes em um único Mundo Bélico, a Marvel resolveu que era hora satisfazer aqueles fãs noventistas como eu, ressuscitando o Aranha casado com a Mary Jane e continuando aquelas aventuras. Eis que surge Spider-Man: Renew Your Vows, uma minissérie que teve a primeira edição publicada nos EUA na última semana e que prometia voltar para aquele contexto do personagem.

UMA GRANDE MENTIRA. Não que o resultado final seja ruim, é até que interessante, mas a promessa não foi cumprida.

Pra começar, a HQ (que é assinada por Dan Slott, atual roteitrista de Amazing Spider-Man, com arte do Adam Kubert) não é exatamente sobre aquele Homem-Aranha dos anos 90. Logo de cara, nos pequenos detalhes, dá pra notar que é uma Terra distante daquela – começando pelo fato da filha de Pete e MJ se chamar Annie, e não May (que, bom, pode ter existido e sido sequestrada, como na versão original, vai saber, enquanto a Annie pode ser a menina que surgiu como uma faísca do futuro que nunca aconteceu durante Um Dia a Mais), nos uniformes dos Vingadores (Capitão América e Homem de Ferro estão com visuais bem distantes dos usados na época e hoje em dia) e, claro, no rumo que a HQ acaba tomando.

Renew Your Vows

Renew Yours Vows começa bem respeitoso ao Aranha de 20 anos atrás: solitário, que não age bem em equipe, se esforça pra arrumar até a bagunça dos outros e chega em casa pra passar um tempo com a família enquanto recarrega o fluído de teia. As coisas começam a realmente ficar estranhas quando ele descobre que uma série de heróis sem poderes estão aparecendo mortos, enquanto outros superpoderosos estão sumindo. Ao aparecer na Mansão dos Vingadores pra buscar auxilio, o Cabeça-de-Teia descobre que algo grande está acontecendo e os Vingadores precisam dele – incluindo um convite para fazer parte da equipe, abrir mão da identidade secreta e morar com toda a família na mansão.

Apesar dos problemas, tudo parece lindo, né? Só que duas coisas acontecem nesse momento: um novo supervilão, chamado Regent, se revela por trás dos sumiços (e por ter ~sugado os poderes de todos os X-Men), enquanto uma grande fuga rola na prisão da Ilha Ryker. Pete então lembra que um dos prisioneiros é justamente o Venom e, adivinhando que ele iria atrás da família dele, não ajuda os novos companheiros e volta pra casa.

Na luta, ao ver a filha ameaçada, o Homem-Aranha mata o Venom. E, ali perto, os Vingadores são mortos por Regent.

Como fica claro, Dan Slott tenta construir, ao velho estilo das histórias What if..., que a decisão ideal foi mesmo sumir com a pequena May Parker nos anos 90 e, na década passada, separar MJ e Peter Parker – já que isso teria evitado um Homem-Aranha mais fraco, que vê na responsabilidade de cuidar da família algo maior do que a responsabilidade de salvar o mundo. Não precisava ser assim, afinal esse é apenas um dos enredos possíveis quando se tem um Homem-Aranha casado e com filhos. Poderia ser algo que tocasse melhor os fãs mais velhos, aqueles que cresceram lendo o personagem e hoje são casados e com filhos, e não um Homem-Aranha que mata o inimigo e, automaticamente, deixa de ser o Homem-Aranha.

Homem-Aranha

Claro, a HQ não acaba aí. Isso tudo aconteceu no passado, como fica claro nos quadros finais. Não perdemos nada: o Homem-Aranha se acovardou e foi ver a filha crescer, abandonando o uniforme vermelho e azul. Só que Regent ainda está aí e, bom, o nosso herói não continuará parado por muito tempo...

No final, a minissérie em 5 partes pode ter um ótimo resultado – inclusive, sabemos não só que o Homem-Aranha vai voltar, como a própria Annie Parker vai ter uma identidade secreta pra chamar de sua. Mas não adianta nos enganar, Marvel. Esse não era o Homem-Aranha que estávamos pedindo. E provavelmente nem será o definitivo, como dizem alguns rumores, após o final de Secret Wars...

Bom, ao menos tá tudo claro agora. Podemos curtir a minissérie sem nenhuma amarra com os desejos e sonhos de voltar ao passado. Até porque é pra frente que se anda, não é? ;)