Há tempos um anime não divertia tanto | JUDAO.com.br

Saído de um webcomic independente, o ONE-PUNCH MAN virou mangá digital e acaba de virar anime – fácil, fácil um dos mais divertidos dos últimos anos

Há muitos anos, as animações japonesas não vinham conseguindo me atrair como deveriam – afinal, como fanático por cultura pop, em princípio eu seria um alvo certeiro para as produções da Terra do Sol Nascente. Vamos tirar o trabalho do Miyazaki desta equação porque aí é covardia, né? Estou falando de outra coisa, mais diversão pop descompromissada e menos poesia em forma de desenho animado.

Sou apaixonado por Akira, vamos lá. Era vidrado em Zillion. E já fui daqueles moleques viciados em Cavaleiros do Zodíaco, tive meu momento de pirar em Yu Yu Hakusho, surtei com Neon Genesis Evangelion, vi muito Sailor Moon e Guerreiras Mágicas de Rayearth com a irmãzinha mais nova de uma antiga namorada. Até Inuyasha e Shurato, que nunca foram lá tão populares por aqui, eu vi.

Mas aí, certo dia...parei. Sei lá o que diabos aconteceu. E nem foi por falta de tentar encontrar um vício novo. Experimentei Naruto, Death Note, Bleach, Fullmetal Alchemist, Hellsing, Samurai X... Nada me pegou. Aliás, admito que peguei até uma pequena birra. Comecei a achar tudo meio chato, repetitivo, cheio de fórmulas.

Isso até aparecer um sujeitinho careca, de olhos vazios e um sorriso pequeno e tímido, trajando um uniforme de super-herói meio ridículo e que não inspira nenhuma confiança. Mas quando o bicho pega, basta apenas um soco. Isso mesmo. Um único soco. E ele detona meio quarteirão numa explosão surpreendente. Ele é Saitama – no caso, o One-Punch Man, nova animação do estúdio Madhouse que começou a ser exibida no começo de outubro no Japão.

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Não aguentava mais todos os meus amigos falando sobre o quanto este desenho era bom. Curioso, li uma breve sinopse e “hum, olha, interessante até”. Vi um pequeno vídeo e me arrancou um sorriso. Tá bom, vai. Fui lá conferir o primeiro episódio, ainda sem muita esperança mas dando o benefício da dúvida. E meu cérebro explodiu. Vi o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto. Não consegui mais parar.

A saga deste super-herói pouco convencional começou em 2009, com um webcomic criado por um autor conhecido apenas pelo pseudônimo de ONE. Rapidamente, a parada se tornou um sucesso, ultrapassando a marca de 7,9 milhões de acessos em junho de 2012 – mesmo ano em que uma espécie de remake da série, no formato de mangá digital, foi parar no site da Shueisha, com ilustrações de Yusuke Murata (Eyeshield 21). Este ano, o sucesso foi tanto que One-Punch Man se tornou anime – aquele que o IGN cravou: “Se você está procurando a próxima grande coisa do mundo dos animes, é esta aqui”.

A bagaça se passa na metrópole fictícia de City Z, um lugar frequentemente visitado e detonado pelos monstrengos mais bizarros: gorilas cibernéticos, homens-garanguejo andando de cuecas por ali, mulheres-mosquito, golias que são metade automóvel (?) e metade gente... E pra combater esta galera, existe até uma associação de super-heróis, vejam vocês. Mas nem sempre estes heróis dão conta, sabe? E é aí que aparece este cara.

Usando uma roupa que é uma exagerada combinação de cores primárias, ele era apenas um cara comum, simples, sem muita vontade de viver. Mas que treinou, treinou e treinou. E se tornou tão forte e tão poderoso que com apenas UM soco detona qualquer inimigo (sacou o One-Punch Man?), espalhando tripas e miolos de monstros para todos os lados, sem muita sutileza ou suavidade. E não importa o quão grande eles sejam. Aliás, aqui, eles são enormes, exagerados, cheios de chifres, dentes afiados, com músculos saltando e veias pulsando. E vão ficando cada vez maiores e mais assustadores. Até que – BOOM! – tomam um único soco e viram uma poça de líquido colorido.

O mais divertido é que ninguém dá muito por Saitama, ninguém leva o coitado a sério. Com um jeitinho inocente e humilde, ele chega e é motivo de riso. O couro comendo e ele cruza um cenário de destruição tentando matar um inseto que esteva enchendo o seu saco enquanto regava seu cacto. Ou, no meio de uma luta, ele se lembra contrariado que perdeu a data da grande liquidação no seu supermercado favorito.

Na verdade, Saitama também anda meio sem levar suas lutas muito a sério. Afinal, ele sabe que pode resolver tudo com apenas um soco. E fica meio frustrado por nunca encontrar um desafio que faça bombar a adrenalina em seu peito, que lhe exija mais do que apenas um cruzado de direita no queixo.

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One-Punch Man tem muita ação, muita adrenalina, lutas impressionantes e de tirar o fôlego, com uma animação ágil e que mistura uma série de estilos – quando aparece o cyborg Genos, que está em busca de uma vingança pessoal e acaba encontrando em Saitama um mentor para ajudá-lo a se tornar ainda mais forte, a coisa fica ainda mais modernosa, radical, explosiva.

Só que basta apenas o homem careca de um soco só pintar na área para tudo descambar pro lado do humor rasgado. É uma espécie de sátira não apenas ao gênero dos super-heróis, mas também ao próprio universo dos animes. Ou alguém acha que o vilão da poluição se parecer com o Piccolo de Dragon Ball Z e o gigante da malhação suprema ser a cara de um dos grandalhões de Attack on Titan foram apenas coincidências? E detalhe: isso só no primeiro episódio! ;)

Pra mim, tudo funcionou. Rigorosamente tudo, incluindo a excelente – e pesada! – música de abertura, cortesia dos lendários integrantes do JAM Project. Saitama conseguiu uma proeza que Goku tentou durante anos e nunca conseguiu: chamar a minha atenção.

Agora tô aqui, tentando fazer uma matemática maluca para fazer One-Punch Man caber nos meus horários e na minha lista de séries para acompanhar semanalmente. Tá difícil. Mas pelo que vi nos primeiros episódios, vai valer a pena o esforço.