O Matador: primeiro filme Brasileiro do Netflix é uma história nordestina | JUDAO.com.br

O primeiro filme brasileiro original do Netflix começa a ser gravado agora em Agosto – e a história remonta às origens do cangaço e também tem um pé na nossa literatura regional

Depois da primeira série original brasileira, 3%, o Netflix anunciou o seu primeiro filme 100% nacional, O Matador – seguindo, claro, aquela estratégia de ter o maior número possível de coisas próprias, pra diversos perfis de público. O longa-metragem, que já começa a ser gravado agora em Agosto, será dirigido por Marcelo Galvão (de Colegas).

O elenco já está praticamente completo. O ator português Diogo Morgado (de O Filho de Deus) será o protagonista, atuando ao lado de Marat Descartes (2 Coelhos), Nill Marcondes (A Frente Fria que a Chuva Traz), Deto Montenegro (Colegas), Maria de Medeiros (Pulp Fiction) e Etienne Chicot (O Código Da Vinci) e Mel Lisboa, entre outros. O enredo foi descrito pelo serviço de streaming como “um faroeste e acontece entre as décadas de 1910 e 1940”, que “conta a história de Cabeleira (Morgado), um temido matador do estado de Pernambuco”.

O Matador é baseado no livro O Cabeleira, escrito por Franklin Távora e publicado originalmente em 1876. O tal do Cabeleira é, na verdade, José Gomes – que realmente existiu. Nascido em 1751, ele é considerado por muitos como o precursor do cangaço brasileiro, ASSOMBRANDO a então capitania de Pernambuco (que, na época, compreendia também o que hoje é parte da Bahia e os estados de Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará) ao lado do pai.

O Matador, primeiro filme brasileiro do Netflix, é baseado no livro O Cabeleira, de Franklin Távora

Foi essa história que inspirou Távora a escrever o livro, quase um século após a morte do ~cangaceiro. No romance conhecemos o vilão, que tinha 22 anos e aterroriza os pequenos povoados de Pernambuco junto com o pai, Joaquim Gomes (que, no filme, será interpretado por Deto Montenegro). É aí que o grupo decide atacar a capital, Recife.

Cabeleira e seu bando pensavam que iam encontrar a vila totalmente deserta, com seus moradores trancados em casa com medo de assaltos. Só que eles não esperavam que o governador da época tivesse ordenado que todos os moradores acendessem velas em suas casas, saíssem pelas ruas para comemorar a abolição dos jesuítas, feita pelo papa Clemente XIV.

Quando uma pessoa no meio da multidão reconhece o Cabeleira, a confusão começa. Rola gritaria, correria, o pai do cangaceiro cortando garganta de inocente... E, claro, a polícia aparece pra prender os caras, que fogem se jogando no rio.

O livro, então, começa a alternar passado e presente para contar a história de Cabeleira. José era uma criança boa, filho de Joana, mas que foi ensinado desde pequeno a matar pequenos animais pelo pai. Aos 15 ele já cometia crimes e matava pessoas, começando pela Chica, companheira de Timóteo, que tinha uma loja e vendia o que era roubado por José e o pai.

A partir daí a história evoluiu não só pra contar todos os feitos do Cabeleira, mas também começa a explorar essa dualidade do personagem. Será que ele é realmente um cara bom que foi criado para ser malvado? E será que ele pode, de alguma forma, fazer o bem?

O Cabeleira, na arte de Eduardo Schloesser

O Cabeleira, na arte de Eduardo Schloesser

O Cabeleira, o romance, está em domínio público (se você quiser ler a obra completa, tá aqui, ó), o que é uma bela economia de direitos autorais. Até por isso, já rolou uma adaptação dessa história para a tela grande. Foi em 1962, no filme O Cabeleira, dirigido por Milton Amaral. Mais recentemente, em 2008, foi publicada uma versão em quadrinhos, feita por Hiroshi Maeda, Leandro Assis e Allan Alex.

A versão pro Netflix tem claras diferenças em relação ao original. Pra começar, se passa no início do século 20, o que ajuda a tornar a história mais interessante para o público de hoje e facilita a produção — afinal, muitas construções que já existiam nos anos 40 ainda estão de pé no Recife Antigo. Também haverá um desenvolvimento diferente, no qual o Cabeleira vai procurar o pai (que, na nova versão, será chamado Sete Orelhas, que encontrou José ainda bebê) e encontra uma Recife governada pelo TIRANO Monsieur Blanchard (interpretado pelo Etienne Chicot). Ou seja, lembra mais um enredo tradicional para um filme, além de justificar o uso de um elenco internacional, outro ponto em comum com outras produções do tipo bancadas pelo Netflix.

Como as gravações começam em breve, Diogo Morgado já está se preparando para ser o novo Cabeleira. No Facebook, o ator postou dois vídeos: um manuseando a famosa PEIXEIRA, e, no outro, montando em um cavalo. O único problema aí é que o ator é branco — enquanto o Cabeleira original é descrito no livro como sendo “mameluco”, ou seja, mestiço de branco com índio. Apesar da história ter sido atualizada para outro século, dá pra dizer que rolou um whitewashing aí...

O Matador será incorporado ao catálogo do Netflix nos mais de 190 países que o serviço está disponível. Só não há, ainda, uma data de estreia – mas é possível chutar algo como o segundo semestre de 2017.