O nosso adeus a Oliver Queen | JUDAO.com.br

O episódio que encerra de vez a série que lançou o Arrowverse foi pura emoção

SPOILER! E enfim aconteceu. O Arrowverse deu a volta em torno de si mesmo e, depois de se reinventar e se integrar de corpo e alma pela primeira vez graças ao crossover Crise nas Infinitas Terras, ele recomeça dando fim àquela série que foi a semente de tudo: Arrow.

Sim, eles fizeram a sua própria Crise mas, diferente do que acontece nos gibis, o foco definitivamente não estava no Flash, na Supergirl ou mesmo no Superman. Quem protagonizou a parada foi mesmo Oliver Queen, que começou a sua trajetória como assassino, depois se tornou vigilante, se encontrou como herói, enfim assumiu a faceta de Arqueiro Verde e depois descobriu que precisaria se tornar algo mais. O Espectro, talvez? Não. Mais ainda do que uma entidade sobrenatural do tipo Vigia. “Uma pessoa melhor”, como disse Diggle.

De maneira bastante inteligente e respeitosa, os roteiristas e produtores não tentaram, neste episódio que colocou um ponto final, nesta terça-feira (28), na oitava e última temporada da série, sequer inventar um final feliz. O sabor da narrativa foi bastante agridoce. Oliver morreu MESMO, não foi ressuscitado num passe de mágica, não teve viagem no tempo e nem poço de Lázaro. Só o que restou foi a sua lembrança e o impacto que ele causou não apenas nas vidas de quem permanece para a série derivada Green Arrow and The Canaries, suas amigas, sua filha no futuro, mas também de tantos e tantos personagens que foram trazidos do túmulo graças ao reboot da Terra Prime que o sacrifício do Arqueiro Verde causou.

O episódio tem apenas UMA cena de ação, uma sequência forte, violenta, que homenageia o estilo mais cru da série lá do primeiríssimo ano. E se foca, dali pra frente, em falar mais alto tocando na emoção, no amor, na amizade. A palavra-chave é LEGADO.

Porque se a Crise foi uma declaração de amor pra DC e pros leitores de seus gibis, o final de Arrow foi um gigantesco EU TE AMO pro elenco, pra equipe e, claro, pra quem acompanhou com o coração na ponta da flecha esta série durante estes oito anos. Tipo eu.

O Arqueiro Verde é o meu herói favorito da DC, nunca neguei isso pra ninguém. Logo, assim que soube que Arrow ia acontecer, confesso que pirei e meus pés saíram do chão. No fim, tá bom, podem reclamar, eu sei, aquele nunca foi o Arqueiro Verde clássico das HQs, o esquerdista revolucionário, o social justice warrior, o sujeito que metia o dedo na cara do Batman e do Gavião Negro sem medo de levar uma rasteira, que arrastou o Lanterna Verde pelas estradas da América para lhe mostrar o racismo na terra do Tio Sam.

Eu concordo. Queria? Queria sim. Mas aquele era, de alguma forma, o Arqueiro Verde SIM. Isso não dá pra negar.

Absolutamente inspirado no Oliver Queen mais brutal e até “realista” de Mike Grell na fase Caçadores, aquele Arqueiro que primeiro foi apenas o Capuz e se recusava a ter um codinome heroico era, isso sim, no máximo um herói improvável. E nisso, ele se parecia pra caralho com todo e qualquer Arqueiro Verde dos gibis. Um herói que não queria ser herói, que não tinha poderes, que não tinha estirpe, pedigree. Herói vira-lata.

Quando botou os pés em Star City, ainda chamada de Starling City, tudo que ele queria era vingança. Era movido pela violência, pelo desejo de sangue. Começou a descobrir objetivos mais nobres, praticou a empatia, evoluiu, tornou-se herói mesmo, do jeito que a gente conhece. Mas foi só quando percebeu que precisava não apenas admitir seus demônios mas também aprender a conviver com eles, que não iriam embora assim tão fácil, ah, só aí é que Oliver Queen conseguiu se tornar algo maior.

Entre bons episódios, episódios tenebrosos e outros memoráveis, eu aprendi muito com este Oliver da TV. Me emputeci, me emocionei, gritei, vibrei. Era fã, de verdade, podem julgar, não ligo. Torci por Olicity, depois desejei como nunca que aquilo tivesse um fim. Eu tava ali. Pra valer. E a transformação do sujeito aconteceu junto com a minha própria. É justo, portanto, que ela também chegue ao fim em um dos anos mais decisivos da minha própria vida. Ponto de virada pra ele, ponto de virada pra mim. Bateu pesado.

Além disso, gostem vocês ou não, Stephen Amell encarnou o tipo com perfeição. Mais do que um homem lindo e gostoso, o ator tinha carisma de sobra por baixo de suas limitadas expressões faciais, a raiva que por vezes parecia tristeza ou, quem sabe, alegria. Soube ser humano o suficiente para admitir suas próprias imperfeições, tal qual o próprio personagem, e abriu suas redes sociais pra falar e também pra ouvir muito. Um verdadeiro queridão, foi ele quem sustentou o interesse por Arrow mesmo em seus momentos de baixa — que, entre nós, foram muitos (fora as ótimas segunda e quinta temporadas, dá pra ser verdadeiro e admitir que o negócio foi de muitos altos e baixos).

Para eles, Oliver e Stephen, todos os meus aplausos.

E aí, pra completar o tom emocional deste despedida, John Diggle, o personagem que foi um coração imenso em forma de Espartano, que foi o principal guia na jornada de Oliver, seu amigo, irmão, é quem faz um discurso lindíssimo no funeral do personagem. Ao mesmo tempo, descobrimos que ele, Lyla e os filhos estão se mudando para Metrópolis, o que pode possibilitar que, neste universo coeso, ambos apareçam na vindoura e já confirmada série de Lois e Clark. E em pleno movimento de mudança, algo cai do céu e pega John em cheio. Um meteoro, talvez? Não parece... Uma caixa, talvez? Guardando algo com um brilho verde fluindo de dentro. Um anel?

Pois sim, se descobrimos que o padrasto de Diggle se chamava General Stewart, sinal de que o sobrenome está à sua disposição — e daí pra ele se tornar o John Stewart dos gibis como todo mundo pedia, faltava só um presente vindo de Oa. Pode ter sido apenas um pequeno easter egg, mais uma homenagem aos fãs e um tributo ao personagem que foi praticamente tão protagonista quanto Oliver. Mas pode ser um sinal de que o futuro reserva novas chances ao gigante gentil.

Sei lá se, em algum momento, o CW vai tirar Amell da manga — afinal, é uma série de séries de heróis, a pseudociência permite tudo que a imaginação puder inventar. Participação especial como inteligência artificial na série futurista da filhota, aparição em crossover, flashback, doppelgänger vindo de outras Terras do multiverso, versão do Arqueiro Verde nas outras séries do time Berlanti, finalmente dar uma chance do Kevin Smith roteirizar/dirigir o personagem que escreveu tão bem nos gibis? Sei lá. Pode ser qualquer coisa. Tá tudo bem. Ou quase.

Porque concordar eu não concordaria. Deixa o Oliver como está. Sério. Acabou, o fim foi bastante digno. Tal qual aparentemente está acontecendo no MCU, é hora do DCTU (ou algo assim) se dedicar a explorar outras histórias e dar espaço para outros jovens heróis, inspirados em sua marca de heroísmo. Porque é isso que o Arqueiro Verde iria querer, afinal de contas.