La Raza e o peso do sangue latino na abertura do Limp Bizkit | JUDAO.com.br

Retomando as atividades, os brasileiros do La Raza foram os convidados para a missão especial de abrir os trabalhos no show comemorativo da banda liderada por Fred Durst que rolou em SP nesta quinta (26)

Falando em termos práticos, em espanhol, o termo “La Raza” quer dizer raça, etnia, linhagem – e, muitas vezes, é utilizado na Espanha e na América Latina para se referir ao orgulho racial, de suas verdadeiras origens. “Temos muito orgulho de ser latinos, apesar de achar que há uma certa separação de leve do Brasil com o restante da América Latina em função da língua”, explica Alex “Panda” Palaia, o vocalista e líder do quinteto paulistano La Raza, em entrevista para o JUDÃO, ao justificar a escolha do nome. “Viajo sempre pra vários países da América Latina e a singularidade de cada país acaba tendo um impacto forte e bem bacana na pluralidade da identidade da banda e na questão do gingado, no groove”.

O line-up do La Raza parece transbordar o tal do groove mesmo – que, aliás, faz muito bem ao som dos caras, uma mistura de rock, soul, funk, hip hop e rock pesado, ecoando Red Hot Chili Peppers, Rage Against the Machine, Beastie Boys e Cypress Hill. Esta bem-vinda salada sonora teve a difícil missão de ser a banda de abertura dos americanos do Limp Bizkit em seu show especial de 20 anos de aniversário, que rolou nesta quinta, dia 26, no Espaço das Américas, em São Paulo.

Para quem está mais ligado ao underground paulistano, o nome dos caras pode de fato não parecer estranho, já que eles estiveram em plena atividade entre os anos de 2007 e 2010. Tocaram com CPM 22, Pitty, Dead Fish e até lançaram uma demo com 4 músicas que vendeu quase 2000 cópias apenas na banquinha de merchandising dos shows. “Chegamos a gravar um disco que não foi lançado e que acabou ficando arquivado por questões contratuais burocráticas com o selo/gravadora que ia lançar”, revela o cantor.

No final de 2010, a banda chegaria ao fim, alegando as já clássicas “divergências de ideias”. Para Alex, cada um estava num momento diferente de vida e aquela sinergia já não estava mais rolando da forma que um grupo precisa pra ter solidez. “Até que finalmente no meio do ano passado achei que seria um momento bacana tentar reorganizar esse velho sonho, chequei quem estava na pilha de retomar a missão e voltamos com uma nova versão que mescla antigos e novos integrantes”. Thiago Matricardi permaneceu nas baquetas e Rafael Bombeck, que era baixista, acabou indo pra guitarra. Do mundo do rap, veio o DJ Daimon, que até já tocou com o finado Sabotage. E Heitor Gomes, ex-Charlie Brown Jr e atual CPM 22, indicou o baixista Juninho, que complementou o time. “Agora é voltar pro corre daquele jeito, mais ligeiros, porém com a mesma disposição de quando paramos”.

Os planos para um primeiro disco, adiado desde a fatídica experiência com a gravadora anterior, voltaram a ficar de pé, mas o La Raza ainda está discutindo com calma qual a melhor forma e estratégia pra lançar o álbum. “Nós começamos a gravar o disco no estúdio Family Mob, na Lapa. Até o momento, as bateras já estão gravadas e o Rafael com o Juninho estão no processo das cordas. O que eu posso dizer é que vem disco pau dentro e que acreditamos pra caramba nele”, afirma Alex, confiante.

Mas, pra esquentar os motores, eles já liberaram uma primeira faixa inédita, /quem?, que está rolando nas rádios rock de SP (é, acredite, ainda tem gente que ouve rádio) e em plataformas digitais como Spotify e Deezer. O tema, exposição em redes sociais, é bastante atual e a abordagem da letra é bem critica. “Hoje todo mundo é /alguma coisa. Ou você é Facebook/Fulano, Twitter/Beltrano, Instagram/Ciclano. Por um lado é bacana, já que te possibilita se comunicar com pessoas de diferentes lugares e costumes, mas infelizmente onde todo mundo hoje tem essas ‘novas’ identidades, a grande maioria mostra tudo — inclusive e principalmente a FALTA de identidade”.

Todos da banda ainda são, duas décadas depois, grandes fãs do som do Limp Bizkit. “Lembro quando ouvi Nookie a primeira vez e a reação foi ‘Puta que pariu, é ISSO’, o encontro definitivo do hip hop mais moderno com o rock pesado alternativo”, diz, empolgadaço. “Discos como o Significant Other e o Chocolate Starfish são atemporais, não só musicalmente mas são cabulosos em termos de produção, dois puta trampos do Terry Date, que já trabalhou com Deftones, Slayer, Soulfly e outras bandas que escutamos bastante também”. Alex conta que, contrariando a crença geral de que o vocalista Fred Durst é basicamente um escroto, já teve a chance de encontrar pessoalmente com o cara em 2011 e 2013 e se surpreendeu. “Ele foi muito bacana e atencioso”.

Alex também não concorda com o que a imprensa especializada vem chamando de “morte do new metal (ou nu metal, como queira)”, o metal alternativo que flertava um bocado com o rap e foi uma verdadeira febre no começo dos anos 2000 e do qual o próprio Limp Bizkit foi um dos principais expoentes. “Acho que como todo movimento de grande expressão, o new metal teve o boom, o ápice e depois passou o auê. Mas não acho que morreu – se você considerar que bandas como Slipknot, Linkin Park, System Of A Down, Deftones, Korn e o próprio Limp Bizkit figuram por aí em destaque nos grandes festivais ao redor do mundo”. Mesmo, claro, que esta ainda pareça uma denominação bastante esquizofrênica – porque, vamos combinar aí, colocar Slipknot, Limp Bizkit e System of a Down dentro de uma mesma caixinha não faz sentido algum. ;)

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A banda não é apenas amiga de rappers brasileiros, como o Xis, mas também de gringos, como os sul-africanos do Die Antwoord, que este ano estiveram por aqui no Lollapalooza e acabaram fazendo um inusitado passeio pelo bairro do Capão Redondo, guiado pelo próprio Alex. “Eu conheço o tour manager deles já de outros carnavais, a grande lenda Guy Sykes (quem é fã de Pantera e assistia aos VHS dos caras manja bem quem é). E foi ele que me pediu pra levar eles pra fazer um rolê onde eles pudessem conhecer a verdadeira São Paulo na essência e na raiz. Levei eles pra dar um rolê pela Vila Madalena, fomos no Beco do Batman, reconhecido reduto do grafite em São Paulo onde o Ron Wood dos Stones tinha ido semanas antes”.

Chegando lá, o trio encontrou os artistas Rasta Reale e Wagner Rosa, grafiteiros que cederam um espaço pro Ninja pintar o mascote do Die Antwoord numa parede. O cara achou o máximo e a graça toda já estaria ali. Mas como, na noite anterior, a parceira de Ninja, Yo-Landi Vi$$er, tinha confessado que queria conhecer uma comunidade no Brasil, logo o passeio ganhou outros contornos. “Mostrei alguns vídeos dos Racionais MCs pra eles e os dois simplesmente piraram. Bati um papo com a Elaine, esposa do Mano Brown, que prontamente me ajudou a esquematizar essa visita”. Chegando lá, os sul-africanos foram recepcionados pelos rappers Big de Godoy e o Ylsão, nomes conhecidos do rap nacional e que fazem parte da família Racionais. “Demos um rolê pelo Capão, levamos o duo pra conhecer o estúdio onde os Racionais compõem as músicas deles e o espaço onde eles fornecem acesso à internet pra molecada da comunidade. Eles se sentiram em casa e totalmente à vontade. Tive até que insistir com eles que precisávamos ir embora!”.

Mas, para uma galera do rock que curte tanto esta cena do rap, será que eles sabem que La Raza também é o nome de uma banda de rap alternativo lá do Peru, uns caras que sumiram durante uns dez anos e depois reapareceram, com um som bem forte, cheio de misturas sonoras e com letras bem políticas? “Eu conheço, adoramos hip hop latino. Eu estarei por Lima nas próximas semanas, quem sabe não encontro os caras?”.

La Raza ao quadrado – olha a parceria aí. :D