O Primeiro Homem é Damien Chazelle até demais | JUDAO.com.br

O filme, baseado na biografia de Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na lua, é muito menos um filme sobre a história do engenheiro astronauta e mais “o novo de Damien Chazelle”

Todo mundo sabe que Neil Armstrong foi o primeiro homem a pisar na Lua, mas nem todo mundo conhece a história de vida do engenheiro e primeiro civil a voar pelo espaço — o que é até óbvio. Mas, ao mesmo tempo, não é nada difícil de saber como ele chegou até o comando da Apollo 11, seja por um artigo na Wikipedia, seja pelo livro O Primeiro Homem: A Vida de Neil Armstrong, escrito por James R. Hansen e publicado em 2005.

Sim, O Primeiro Homem, o filme que estreia essa semana aqui no Brasil, é uma adaptação desse mesmo livro e, portanto, conta a história de Neil Armstrong, desde o início dos anos 60, a ida e quase não volta da Gemini 8, até o retorno da Apollo 11. Mas, sendo dirigido por Damien Chazelle, o filme também conta a história do cinema do diretor.

Com um personagem sem nenhuma relação com o jazz, o diretor de Whiplash e La La Land se focou em pequenas obsessões e a ideia de desistir jamais de Armstrong, interpretado muito bem por Ryan Gosling, pra transformar essa história em algo que qualquer um que assista saiba exatamente quem foi que dirigiu.

É, muito mais que um filme sobre Neil Armstrong, um filme do Damien Chazelle.

O diretor usa toda sua técnica — que, como vimos em La La Land, poderia até ser usada como aula de como fazer o que, ainda que isso não necessariamente seja algo realmente bom — pra trazer aqueles personagens para dentro do seu cinema. A câmera é grudada na cara dos personagens pela maior parte do tempo, transformando o que poderia ser apenas uma história simples em uma história simples contada através de um olhar muito, muito próximo (literalmente inclusive).

Funciona muito bem nos momentos de tensão, quando, não fosse por sua calma, treinamento e capacidade de cálculo, ele teria sido incinerado na atmosfera da Terra. Assistir a isso tudo olhando diretamente a Ryan Gosling é realmente emocionante, de uma maneira até diferente do que estamos acostumados.

Mas, no resto do filme, há muito pouco espaço pra respirar e isso acaba cansando um pouco. 2h20 depois, você percebe que se cansou bem mais do que deveria.

É, muito mais que um filme sobre Neil Armstrong, um filme do Damien Chazelle

O Primeiro Homem é um filme muito bom. Mesmo. Eu não conhecia a maior parte das coisas que Armstrong passou antes de entrar naquele módulo lunar e consegui SENTIR o que foi apresentado de novo. Mas, tanto quanto um bom filme, é Damien Chazelle demais. Gosto do cinema que ele faz, de verdade. Não é à toa que se tornou o mais jovem ganhador de um Oscar, com 32 anos. A questão é que não é o cinema que precisa de mais Damien Chazelle, e sim Damien Chazelle que precisa mais de cinema.

Soltar um pouco mão, respirar um pouco mais fundo, admirar mais as coisas de maneira mais afastada — absolutamente tudo o que O Primeiro Homem não faz. Dessa vez não machucou, mas já deu sinais de desgaste.