O que Birdman nos diz sobre o Oscar | JUDAO.com.br

História e personagens de Alejandro González Iñárritu são muito mais sobre a indústria do que sobre seus produtos. E o Oscar, como vimos nesse domingo (22), é o exemplo mais claro disso.

Houve um tempo em que o Oscar, de fato, celebrava o cinema. Eu não sei se houve um tempo em que se celebrou os melhores de cada ano, mas um dia o Oscar foi, de fato, relevante para o cinema. Pra filmes e quem os faz ainda pode ser, mas entra ano e sai ano, o que temos é uma festa que todos vão lembrar não pelo que a Academia de Ciências Cinematográficas — e Hollywood, por tabela — gostaria que fosse.

Do ano passado, o que as pessoas mais se lembram é da selfie da Ellen DeGeneres, que inclusive ajudou a colocar a palavra na boca da sua mãe e da sua tia-avó. De outros anos, surgem os tombos da Jennifer Lawrence, SOBEM À CABEÇA a apresentação ESFUMAÇADA do James Franco e Anne Hathaway; a maioria das coberturas jornalísticas se dedica aos vestidos das meninas, às perguntas sobre a tensão da galera por estar entrando no Dolby Theatre e correndo o risco de ser premiado. O Oscar virou um programa de celebridades, ao invés de um sobre cinema.

No mesmo ano em que Liam Neeson, lendo o teleprompter escrito pelo roteirista da própria Academia, diz que talvez seja verdade que Hollywood faça muitos filmes baseados em “brinquedos, quadrinhos e best-sellers”, 19 dos 44 apresentadores já trabalharam ou estão com contratos assinados pra trabalhar em filmes baseados em histórias em quadrinhos — o que, aliás, aquela que foi eleita melhor animação também é.

No mesmo ano em que essencialmente WHITE PEOPLE recebeu indicações, um Mexicano acaba levando pra casa os principais prêmios e o Oscar até pareceu politizado — graças a todos os discursos, que não estão no roteiro e dizem o que a gente não devia, mas precisa ouvir todos os dias pra ver se muda alguma coisa, graças à apresentação de “Glory”, que fez muita gente se emocionar dentro do Dolby Theatre e em casa.

Alejandro González Iñárritu y sus niños ;D

Alejandro González Iñárritu y sus niños ;D

A Academia teve seus dias de glória. Hoje acaba vivendo com um enorme fantasma do passado tentando fazer com que ela entenda, de uma vez por todas, qual é o seu lugar no Mundo. Não é a arte, são os bilhões de dólares. Não são os carecas pelados, são as mulheres bem ou mal vestidas. Entra ano e sai ano, a Academia tenta fazer algo de relevante, mas acaba propositalmente causando alguns acidentes no meio do percurso. E quando a mídia bate, fica tão perdida que tenta atirar na cabeça e o máximo que atinge é o próprio nariz. Mas, pelo menos, recebe aplausos de pé.

Quando Alejandro González Iñárritu aponta um dedo com Birdman, ele não o faz pra mim, pra você ou pros atores que ali trabalharam e, se já não foram super-heróis nos cinemas, namoraram com a chance de ser um. Birdman aponta o dedo pra quem acha que o que é pop e mainstream não deve ser levado a sério. Pros Inácios Araújos e Rubens Ewalds Filhos da vida.

Riggan é a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Birdman, com seus quatro prêmios, é Hollywood. Ah, a ironia...

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