Três adjetivos que não costumam aparecer ao mesmo tempo, mas que o teaser de O Rastro juntou sem lá muito esforço
“Grande”, “brasileiro” e “de terror” são três expressões que não costumam aparecer juntas quando falamos de filmes. Quer dizer, não é que não costumam... Nunca tinha acontecido. Mas basta dar play abaixo no teaser de O Rastro, exibido primeiro durante a comic con de São Paulo, pra perceber que as coisas talvez tenham mudado um pouco. E que, cada dia mais, estão mudando.
“Tem de diversificar” afirmou André Pereira, produtor e roteirista do filme, sobre o fato de ter escolhido justamente um evento de cultura pop pra lançar um filme nacional — o que também, até outro dia, meio que não combinava. É um processo que faz parte da internacionalização do filme, que contou com diversos consultores gringos pra ajudar nos mais diversos processos de produção do filme, INCLUSIVE no teaser, produzido pela Zealot, empresa especializada em trailers (tipo Nerve, Westworld, Jogo da Imitação, Carol, entre outros). “Isso ajuda a vencer a barreira do preconceito”, afirma André. “Nós mandamos o material pra lá e eles montaram, fizeram o design de som e tudo mais”, conta Malu Miranda, também produtora de O Rastro. “A gente não sabe fazer esse tipo de filme tão bem, simplesmente porque não tem referência. (...) Os gringos tem muita vontade de ensinar os Brasileiros”.
A gente não sabe fazer esse tipo de filme tão bem, simplesmente porque não tem referência
O Rastro “parte de um princípio de realidade” de um hospital que está prestes a ser desativado. Rafael Cardoso interpreta João, um médico, que trabalha na secretaria de saúde e tem como missão justamente fechar o hospital. Na noite em que os últimos pacientes serão transferidos (leia a partir de agora com voz de narrador de trailer), uma menina de dez anos desaparece e, quanto mais João se aproxima da verdade, mais ele mergulha em um universo obscuro, que nunca deveria ser revelado.
Leandra Leal é a esposa de João, artista plástica, sua “âncora” em todo esse processo... E bom, é essencialmente isso o que sabemos, já que, aparentemente, outros detalhes além seriam spoiler. A Leandra inclusive evitou falar qualquer coisa sobre o filme por não tê-lo assistido ainda... INTERESSANTE: quão diferente será o resultado final em relação ao que foi filmado? :)
Gravado em seis semanas numa área que, olha só, estava sendo desativada do hospital Beneficência Portuguesa, no Rio (o mesmo hospital onde, olha só de novo, a produtora Malu Miranda e Leandra Leal nasceram, e outros membros da equipe têm uma ou outra história relacionada). É uma coisa que sempre me assusta em casos assim, de locações reais DEMAIS: e bichos, tipo ratos e baratas e...? “Tinha de tudo lá”, disse, como se tudo bem, o protagonista Rafael Cardoso. “Tinha até um enorme monte de bosta de morcego, que voavam por ali o tempo todo”. André Pereira contou até que tiveram de fazer algumas obras de contenção, pra poder gravar.
NOJINHO. :D
Híbrido de terror e suspense, André Pereira revela que queria produzir um filme de gênero mas, nesse específico, é muito fácil escorregar pro que já se está acostumado, como a “casa mal assombrada no interior”, ou qualquer coisa assim. Um hospital desativado — como na vida real — parecia ser algo bastante Brasileiro pra ele. “A gente fez um terror tropical. Por exemplo, nos filmes, normalmente quando há uma presença de espírito, ou fantasma, tudo fica frio, gelado. No nosso filme, tudo fica quente, os personagens começam a suar”, contou André.
É bom ver filmes como O Rastro e Motorrad colocando a cara pra bater num evento como a comic con. É ainda melhor vê-los sendo produzidos e lançados e fazendo barulho, se utilizando de quem manja dos paranauê pra aprender e fazer um filme de gênero, sim, mas um gênero um pouco mais próximo de nós, da nossa realidade.
Pra ficar perfeito, porém, quem define a solução é Leandra Leal: “falta sala de cinema. É simples assim”.
O Rastro, dirigido por JC Feyer, estreia em 30 de Março e ainda tem no elenco Felipe Camargo, Claudia Abreu e Jonas Bloch. :)