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Dez anos sem Sex and the City

Há exatos 10 anos ia ao ar nas televisões americanas o último episódio de Sex and the City, série baseada em um livro de Candance Bushnell, que acompanhava a vida de quatro amigas — Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda — em Nova York. Foram 6 temporadas, 94 episódios, incontáveis dramas e muitos homens. Era o fim de uma era.

Quando estreou em 1998, a série chamou atenção por ter quatro protagonistas e falar abertamente sobre o mundo das mulheres e o sexo envolvido em uma vida ativa de solteira. Ao mesmo tempo em que inovou e deu poder ao sexo feminino, criou e mostrou muitas ideias errôneas de um universo complexo demais para caber em seus 30 minutos semanais. Um exemplo claro disso é que as quatro mulheres representadas ali englobavam de alguma forma os estereótipos clássicos de mulheres dos anos 90: a romântica, a workaholic, a mulher masculinizada e a neurótica. Infelizmente os estereótipos também incluem os homens, que são categorizados e nomeados de acordo com suas ações – ou a falta delas.

Em uma entrevista para Jon Stewart em 1999, Sarah Jessica Parker comentou que os homens tinham uma reação interessante ao programa, e que – tirando os mais hostis – eles gostavam da ideia de ter uma janela para o mundo do sexo oposto e de saber como as mulheres conversavam sobre detalhes íntimos de um relacionamento. Além disso, ela comentou como muitas mulheres de Nova York se viam representadas no show e a paravam na rua para contar algum caso ou situação pela qual haviam passado e que viram na série.

Inúmeras dissertações e estudos foram feitos baseados nos seis anos em que a série ficou no ar. Um trabalho encontrou padrões nos relacionamentos amorosos representados, enquanto outro discute o poder da mulher e as influências que ela recebe durante a vida através dos meios de comunicação. Muitos mais mostram como a moda influencia a vida cotidiana — uma referência clássica do programa é Carrie e seus sapatos do estilista Manolo Blahnik, que custam 500 dólares.

Sex and the City

[three-fourth]Curiosamente, a personagem que mais se destaca não é Carrie Bradshaw, a colunista que narra os episódios, mas Samantha Jones, que polemizou (e se formos honestos, ainda polemiza) ao representar uma mulher com alta libido, um pensamento não-romântico e cheia de casos de uma noite com a maior quantidade de homens possível. O fato é, ela não quer amor, e sim um bom sexo. Kim Cattral, que interpreta Samantha, inclusive participou de um documentário chamado Inteligência Sexual (2005), que buscava explorar os mistérios e as origens do ~desejo. :D[/three-fourth][one-fourth last=”true”][text-box width=”100% title=”O show não pode parar”]
Depois do último episódio, Sex and the City continuou sua história. Já foram feitos dois filmes e um spin-off pra TV, The Carrie Diaries, com a versão adolescente de Carrie Bradshaw, interpretada por AnnaSophia Robb
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Faran Krentcil escreveu recentemente uma matéria para a revista ELLE intitulada “How I Learned Carrie Bradshaw Was Full of Sh*t” (algo como “Como eu descobri que Carrie Bradshaw era uma mentira”) no qual descreve bem o que a série – e sua protagonista – representou para uma boa parte de uma geração de mulheres: o sonho de morar em um apartamento em Manhattan, ter um emprego sensacional, comprar sapatos caros e de estilistas conhecidos, ter uma vida cheia de experiências únicas e sair com o maior número de caras até encontrar o amor da sua vida. Mas no fim, de acordo com a autora, Carrie finge ser independente e moderna, mas em sua essência ela é uma mulher totalmente passiva que não consegue encarar uma aventura e ainda precisa de um homem para se sentir segura.

O que de fato não tira o crédito da série em criar e mostrar mulheres reais e fictícias, pois não existem duas mulheres, com os mesmos pensamentos, jeitos e maneiras de ser. No fim, o que interessa de verdade é que esse foi o primeiro passo – essas seis temporadas de uma série sobre o sexo e a cidade -, que abriram a porta para tantas outras que vieram depois. E o mundo todo agradece.