Nova equipe dos Maiores Heróis da Terra, que estreia em outubro e será liderada pelo Gavião Arqueiro, terá uma pegada BEM diferente, lutando contra ameaças sem superpoderes
E eis que, dentro da nova edição do chamado Marvel NOW!, teremos MAIS uma equipe de Vingadores, que não poderia ser MAIS diferente dos USAvengers, a trupe patriótica liderada pelo mutante brasileiro Mancha Solar. Já dá pra sacar o clima pelo nome do novo gibi, que chega a partir de outubro. Trata-se de Occupy Avengers.
Depois do que aconteceu no terceiro número de Civil War II, temos Clint Barton, o Gavião Arqueiro, tentando entender seu papel na vida. Considerado um traidor pela comunidade dos super-heróis, ele se tornou uma espécie de ídolo para as pessoas comuns, um Davi capaz de derrubar um Golias. Eis que então ele resolve reunir um time de caras e minas, todos sem superpoderes, para lidar com as ameaças comuns, do dia a dia, aquelas que AFLIGEM as pessoas nas ruas e para as quais os Vingadores “normais”, com seu olhar voltado para invasões alienígenas e guerreiros de outras dimensões, não dariam muita bola.
“O líder da equipe vai, basicamente, representar os explorados e oprimidos”, explica o roteirista David F. Walker, em entrevista ao Comic Book Resources. “Ou, na falta de um termo melhor, os 99% da população que se relacionam diretamente com o Occupy [movimento contra a desigualdade cujo objetivo é promover a justiça social e econômica e novas formas de democracia]. As pessoas que são pisoteadas, que não podem se defender e não se sentem protegidas por causa de coisas como interesses corporativos ou a corrupção na política”.
Saem Galactus, Krang, Ultron, Thanos, skrulls e krees e entram no lugar os ricaços interioranos que roubam energia da população carente ou os industriais sem escrúpulos que jogam lixo tóxico no suprimento de água da cidade, por exemplo.
A arte dos quatro primeiros números ficará a cargo de Carlos Pacheco e, a partir do quinto número, quem assume é Gabriel Hernandez Walta, saído diretamente do título do Visão. É esta a equipe que evita, a todo custo, comparações com o premiado título solo do Gavião escrito por Matt Fraction. “É claro que existem similaridades, mas uma das principais diferenças é que lá as coisas aconteciam ao redor do apartamento do Clint, com seus vizinhos como coadjuvantes. Aqui ele vai cair na estrada, viajando pela América”.
Impossível deixar de lembrar, não apenas por se tratar de um herói arqueiro mas também pela ambientação meio “Robin Hood road movie”, da brilhante fase da dupla Dennis O’Neil e Neal Adams na década de 1970, na qual o Arqueiro Verde e seu amigão Lanterna Verde caíam na estrada e conheciam de perto os REAIS problemas da América.
Os criminosos que os Vingadores versão Occupy enfrentarão não serão apenas aqueles que a gente conhece desde sempre, embora um ou outro possa (e até deva) aparecer eventualmente. O roteirista conta que quer experimentar coisas diferentes. “O universo da Marvel tem personagens como o Rei do Crime, o Capuz e diversos outros mafiosos sempre na cidade de Nova York. Mas quem é o rei do crime em Des Moines, Iowa? E o que ele (ou ela) estaria fazendo para atrair a atenção dos Occupy Avengers para que eles cheguem e resolvam limpar a cidade? É divertido pensar em coisas assim”.
Embora grande parte do título seja focada em Barton, uma equipe de heróis também será formada no gibi. Sem deuses, mutantes ou inumanos, mas com um bando de sujeitos e sujeitas como o próprio Gavião Arqueiro: devidamente lutando contra seus demônios interiores, encarando uma certa dose de problemas pessoais. O primeiro integrante, além do cara do arco e flecha, já foi revelado: Red Wolf. O índio norte-americano que chutava bundas nos IDOS de 1800 e que acabou sendo transportado no tempo, chegando à nossa época, onde continua chutando bundas, mas tentando se adaptar a uma realidade BEM diferente da sua, com smartphones e internet. Pense, por exemplo, num Capitão América nativo. Meio isso.
“Não teremos novos personagens nesta formação. Todos são rostos bem conhecidos e estabelecidos no atual Universo Marvel. E alguns deles são as últimas pessoas que você imaginaria ver num time como este”, revela Walker.
Mas uma coisa ele faz questão de garantir: sim, esta será uma equipe bem diversa. Mas, ao mesmo tempo em que o escritor quer evitar o pecado de um grupo de personagens formado apenas por homens brancos, a intenção não é apelar para a diversidade apenas pela diversidade. “Isso também não faria sentido. Os personagens têm que combinar com a proposta. Seria muito fácil dizer ‘vou usar a Misty Knight porque precisamos de uma mulher negra fodona’. Mas não farei isso porque ela não combina com o que estamos planejando: uma história sobre pessoas em busca de redenção ou tentando encontrar seu lugar no mundo”.
O roteirista conta ainda que a intenção é adaptar esta dose de realidade para o formato dos gibis, o que significa que eles têm um número limitado de páginas para contar as suas histórias. Portanto ele não se engana, deixando claro que sabe bem que não dá pra resolver os problemas da vida real em meras 20 páginas — e que parte de seu trabalho é meio que realizar os desejos de seus leitores. “Muito dos gibis de super-heróis é sobre isso: tentar encontrar justiça ou igualdade onde você não acha na vida real. Esta é a parte escapismo da coisa. Os problemas são similares aos nossos, mas não existem respostas simples”, explica. E ainda completa: “Estou tentando manter os pés no chão, mais calcados na realidade, este lugar no qual nem sempre a gente se dá bem e é bem-sucedido”.
De qualquer maneira, Occupy Avengers tem o objetivo de mostrar como os heróis Marvel podem ser inspiradores em lugares bem mais perto de nossas próprias casas, fazendo até mesmo a gente sentir algo como “ei, eu posso fazer isso aí”. Não que o “isso aí” signifique necessariamente pegar um arco, um bocado de flechas e sair atirando na bandidagem. “Acho que é uma parada mais ‘como eu posso fazer da minha comunidade um lugar melhor’, né?”, opina Walker.
Maluco, se já tinha gente dizendo que a Marvel tinha se tornado uma editora de “esquerda” e que estava vendida para os “social justice warriors”, imagina só o que vai acontecer agora? :D