Título brasileiro, que acaba de ser bancado via financiamento coletivo, é ficção científica com cenários, naves, armas e equipamentos desenvolvidos de uma forma bem diferente das HQs tradicionais
À primeira vista, você pode pensar que Onodata é uma história em quadrinhos comum, como qualquer outra independente que está buscando seu lugar ao Sol. Mas basta ver o time responsável por sua concepção para entender que a engrenagem da parada funciona de um jeito bem mais curioso. Tem roteirista, desenhista, colorista? Tem. Mas ainda tem mais dois modeladores em 3D e um capista que também fez o concept art dos personagens.
“Onodata é uma HQ de ficção científica e muita ação que está sendo desenvolvida há anos”, explica Yves Briquet, roteirista, criador do projeto e da Draconian Comics, empresa especializada em storytelling que assina a obra.
Fã de ficção científica desde que se entende por gente, alucinado por séries como como Battlestar Galactica e Stargate Universe e games como Mass Effect e Half Life, ele diz que sempre gostou de histórias intensas e imersivas. “Há tempos sonhava em criar algo que misturasse um pouco dessa experiência entre raças alienígenas de uma forma mais íntima e violenta. Gosto muito de estudar sobre exoplanetas e passo horas do meu dia imaginando como seria o processo evolutivo de outros organismos em um ambiente diferente do nosso”, conta ele.
“Por exemplo, o que seria a variação de uma espécie de aracnídeo, caso se tornasse a raça dominante e eventualmente sapiente? Que tipo de sociedade seria formada a partir disso? Foi sobre questionamentos como esses que comecei a conceber o universo de Onodata”.
A trama da primeira edição, que foi inteiramente financiada via Catarse, conta a história de Meliére, Cricket e Onodata, o mascote do grupo, e sobre como encontram Urk Mag´orr, membro de uma raça genocida que está sendo levado sob custódia por um cargueiro do Conselho. Mas a intenção é, depois, dar continuidade a este universo, transformando-o “numa verdadeira saga”.
Com capa e artes conceituais de Ed Anderson (Evil Within), desenhos de Romi Carlos (Madbox) e cores de Salvatore Aiala (Zorro, Red Sonja, Vampirella), o primeiro número de Onodata terá 26 páginas de história, mais conteúdo extra com ilustradores convidados, totalizando 44 páginas em formato americano. O lançamento tá previsto pra fevereiro de 2016.
O principal diferencial da obra é mesmo a modelagem dos cenários, naves, armas e equipamentos toda feita em 3D pelos americanos Adam Conolly e Andy Miller, ambos especializados na temática sci fi. “Muitos artistas já usam softwares 3D como base de perspectiva, por exemplo, para a criação de cenas”, diz Yves. “Mas no nosso caso todo o detalhamento do cenário e das armas é feito no próprio 3D”.
Ele diz que a escolha de misturar 3D e o traço tradicional (que, pelo menos na teoria, poderia dar conta da questão de detalhamento e volume) teve um motivo prático: a leitura de quadrinhos no formato digital, nos celulares e tablets da vida.
“Existe um modo de navegação chamado Guided View, que basicamente amplia o quadro para a tela inteira, ocultando o resto da página. Dessa forma, é como se cada quadro fosse uma página em si”, afirma, fazendo referência ao formato que é marca registrada do ComiXology. “Nossa intenção é que tanto o leitor da obra impressa quanto do digital tenham uma experiência de imersão em cada quadro, com uma percepção quase tangível de profundidade e riqueza de detalhes em cada cena, algo que eu acredito que o 3D proporciona naturalmente”.
Yves explica ainda que, terminada a parte de colorização, eles ainda investem em mais processo de acabamento, algo que também foge aos moldes tradicionais de quadrinhos. “Utilizamos ferramentas de efeitos especiais que são muito comuns no cinema para acrescentar alguns detalhes às cenas como partículas, distorções óticas, filtros de lente e efeitos de luminosidade.”
Os planos são ousados o bastante para garantir que um de seus objetivos, a longo prazo, é o mercado internacional. “Mas é só uma vontade, não existe nada certo ainda”. Yves conta que, em 2013, o time da Draconian lançou Mascate, um aplicativo grátis de motion comic com áudio, um thriller de ação que chegou a atrair a atenção de um diretor de cinema de Hollywood, Brandon Camp (de O Amor Acontece, com a Jennifer Aniston). “Temos essa percepção de que a forma diferente como estamos concebendo os projetos atrai bastante atenção, mas tudo isso é embrionário e só vai ganhar vida se o projeto der certo primeiro aqui no Brasil”.
Além disso, eles têm vontade de transformar Onodata também em uma HQ digital animada e, quem sabe, numa animação propriamente dita. “Ter esse acervo 3D certamente facilitará essa migração entre mídias”, aposta. “Somos um grupo pequeno de pessoas tentando desenvolver produtos diferentes e com muita qualidade, o que nos consome bastante tempo pois não temos uma equipe dedicada a isso nem investidores. Estamos todos batalhando para fazer isso dar certo, mas quem vai realmente determinar o futuro desses projetos é o público”.
A única coisa que ele acha é que talvez a obra talvez enfrente barreiras, no mundinho digital, por causa do roteiro violento. “Para você ter uma ideia, o Mascate, nosso projeto anterior, foi banido duas vezes da Apple Store por conta das cenas violentas. O Onodata certamente passará por alguns problemas semelhantes”.