Franquia quer que esqueçamos o passado, mas não para de nos levar de volta pra onde (e como) tudo começou
Em Exterminador do Futuro: Gênesis, o T-800 de Arnold Schwarzenegger volta até 1973 pra salvar a então pequena Sarah Connor de algum outro Exterminador que explodiu sua casa e matou seus pais. Não penso que seja possível dizer que ele a CRIOU, mas nos 11 anos que viveram juntos eles se desenvolveram e evoluíram o suficiente pra ela chamá-lo de PAPI, enquanto ele aprende que, bom, cumprimentar um humano e sorrir poderia facilitar um pouco as coisas — por mais que ele não consiga entender a razão.
É, claro, um sorriso forçado, vazio, que, com o carisma do Schwarzenegger, quase parece que tem algum sentimento por trás, quase da a impressão de que ele tá fazendo aquilo porque quer, e não porque sabe que alguém vai gostar. Exatamente como Exterminador do Futuro: Gênesis.
Gênesis tem dois GRANDES problemas: o primeiro e o segundo filme da franquia. Nem digo isso por conta do que James Cameron fez lá atrás — que costumamos chamar de cinema e/ou ficção científica — em relação ao que aconteceu agora em 2015 (e que em nada lembra cinema e/ou ficção científica), não. Gênesis tem, mesmo, daddy issues.
Muito por culpa do roteiro, fraquíssimo, Gênesis se utiliza o tempo todo de referências aos primeiros filmes pra tentar contar a sua própria história — mesmo que, pra isso, seja necessário seguir uma outra linha do tempo. Por exemplo, o começo do filme é quase uma refilmagem do original, de 1984; a diferença fica no fato de que agora censuraram a bunda e o schnitzel do Schwarzenegger, um dos policiais que perseguem Kyle Reese é um T-1000, e que Sarah Connor o salva com a clássica “come with me if you wanna live”.
Porém, ao contrário do que faz X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, Gênesis não usa essas mudanças pra resolver problemas do passado e seguir em frente. Além de ficar o tempo todo retornando através de referências, fica andando no mesmo círculo que todas as sequências ficaram: o eterno envio de robôs cada vez mais evoluídos pra acabar com Sarah Connor ou John Connor e garantir que tudo dê certo com a Skynet, o que nunca dá. Aí de 1997 vamos pra 2004, agora 2017... Daqui a pouco chegamos em 2029 e vai acontecer o quê?
Como se não bastasse fugir da ideia de ser cinema e/ou uma história boa de ficção científica e ficar parado na exata mesma ideia que James Cameron teve há quase 25 anos (literalmente em alguns casos), Exterminador do Futuro: Gênesis não representa nenhum tipo de evolução de efeitos especiais, um marco na carreira de Cameron, além dos próprios T-800 e T-1000. Não há, novamente, nada de novo ou de impressionante — e, sinceramente, a impressão que dá é a de que o metal líquido de 1991 é muito melhor que o de 2015.
E a recriação do Schwarzenegger de 1984 já tinha rolado em O Exterminador do Futuro: A Salvação, então...
Jai Courtney tem tanto carisma quanto Dunga, Geraldo Alckmin e Cigano Igor. Matt Smith tem, somando tudo, incluindo a repetição da mesma cena umas 20 vezes, uns 8 segundos de tela (ainda que seu papel seja importante... teoricamente). Emilia Clarke lembra a Linda Hamilton de 1984 o suficiente, mas aquela Sarah Connor passou 11 anos com um robô treinando pra salvar o mundo, o que alguém deve ter esquecido de colocar no roteiro, tirando toda a badassness NECESSÁRIA para a personagem. Ela, com aquela carinha linda e aqueles olhões azuis, funciona no máximo como a filhota em perigo do T-800 que, por sua vez, funciona de qualquer maneira por conta de um Schwarzenegger feliz por estar de volta. Ele quaaaase deixa um sorriso de verdade escapar, no fim do filme, o que você não vai conseguir segurar. Pelo menos até você se lembrar que Exterminador do Futuro: Gênesis realmente fez uma espécie de Entrando numa Fria, só porque sim.
Quem também funciona — e aqui nem é surpresa — é J.K Simmons. Não vou contar nada além disso pra não fazer como o marketing da Paramount que entregou um dos dois únicos momentos que te surpreendem de alguma maneira nesse filme nos trailers, por mais que Schwarzenegger tenha dito o contrário. Eu teria me assustado quando o T-800 atira no John Connor... Mas até ISSO especificamente foi mostrado antes. ¯\_(ツ)_/¯
Exterminador do Futuro: Gênesis tem robôs, tem explosões, tem Dr. Who e tem Khaleesi, além de, bom, ser Exterminador do Futuro e ter esse monte de referência pra galera se empolgar só porque encontrou. Sei que isso deve satisfazer muita gente (só ver o sucesso de Jurassic World), mas se a gente parar pra pensar por um único segundo que Gênesis serve pra, entre outras coisas, apagar da história o que James Cameron fez lá atrás...
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