O mistério do novo Quarteto Fantástico | JUDAO.com.br

Por que uma produção deste tamanho tem tão pouca informação revelada até o momento? O que a Fox tá fazendo, tentando cortar qualquer tipo de informação relacionada ao filme?

Duas grandes ausências puderam ser sentidas na Comic-Con de San Diego deste ano: o novo Star Wars e Quarteto Fantástico. No caso da saga espacial da família Skywalker, até dá para entender, já que a Disney está longe, muito longe, de ficar calada sobre o filme e, enquanto parece preparar um anúncio poderoso para ainda este ano, não são raras as informações a respeito que temos visto neste maravilhoso mundo da internet nos últimos meses.

Mas este novo Quarteto Fantástico, o reboot cinematográfico que a Fox está preparando, juro, não dá pra entender. A Comic-Con, em polvorosa para receber Os Vingadores, o Homem-Formiga, os Guardiões da Galáxia, Batman v Superman, as séries de TV do Flash e do Arqueiro Verde, Gotham – fala sério, teria clima mais propício para que a Fox mencionasse alguma coisa, por menor que fosse, sobre o filme? Mas nada. Nem uma imagem conceitual, nem um teaser-poster, nada. Absolutamente nada. Silêncio absoluto.

Neste final de semana, depois de algum tempo sem atualizar a sua conta no Twitter, o diretor Josh Trank voltou à ativa e surpreendeu os fãs com uma espécie de sessão de Q&A (perguntas e respostas). Além de confirmar que as filmagens já foram encerradas, o cineasta ainda disse que aquela imagem do visual do Coisa que vazou era mesmo real e comentou sobre a escolha de Michael B.Jordan para o papel de Tocha Humana (“Eu não quis fazer o Johnny negro. Quis que o Michael fosse o Johnny”) e de Toby Kebbell como Doutor Destino (“Me assustou”).

A tal imagem do Coisa que foi divulgada por ele naquela noite de sábado havia sido proibida pela Fox — o JUDÃO chegou a receber uma daquelas famosas cartas “cease & desist”, exigindo que a imagem fosse tirada do ar, a não ser que quiséssemos enfrentar um PROCESSINHO. Pelo bem da nossa saúde, resolvemos aceitar a ordem o pedido — mas, enfim, estava confirmado: aquele era mesmo o novo Coisa. Bom, quase.

Em Fevereiro desse ano, o /Film publicou uma sinopse do filme, que eles tinham obtido sabe-se lá como, mas YAY JOURNALISM. A Fox ficou ULTRAJADA com a história e ameaçou o site de processo e a porra toda (de uma maneira um pouco mais CONTUNDENTE do que em relação a essa imagem, até porque no caso da sinopse não daria pra configurar problemas de “copyright”). Na época, Josh Trank deu uma entrevista ao Badass Digest afirmando não entender o que tinha acontecido, porque aquela sinopse era absolutamente falsa. “Vocês vão ver o filme em Junho de 2015 e vão ver como aquela sinopse só tem uma coisa certa: personagens chamados Reed, Sue, Johnny e Ben”, disse o diretor.

OU SEJA: a Fox está completamente MALUCA com esse filme, a ponto de querer, literalmente, censurar qualquer coisa que se diga sobre a produção — verdade ou não. Havia, portanto, a dúvida em relação a imagem do Coisa, que terminou no exato momento em que o Josh Trank a publicou no seu twitter.

Essa não é a foto vazada dos bastidores mostrando o novo Coisa

Essa não é a foto vazada dos bastidores mostrando o novo Coisa

No dia seguinte, porém, as coisas que pareciam estar se encaminhando pra algum lugar mais legal, onde a gente começa a saber mais sobre o filme, ficaram completamente estranhas. Bizarras. Sem absolutamente nenhum sentido: a conta @josh_trank havia sido deletada, pouquíssimas horas depois da conversa do diretor com os fãs.

Alguns jornalistas gringos teoricamente bem informados afirmaram, categoricamente, que aquela conta não era oficial, que não era o Josh Trank REAL por trás daquela arroba, por trás daquelas respostas, por trás da confirmação de que aquele era mesmo o novo Coisa. E muitos seguiram a história, publicando que aquilo tudo era falso, que havia um IMPOSTOR por trás da conta que,

Essa mesma conta do Twitter tinha sido usada para negar os boatos de que a Fox teria em seus planos uma possibilidade do Doutor Destino ser interpretado por uma mulher – e todo mundo, todo o universo do entretenimento, repercutiu a “negativa” do diretor. Pra piorar, na mesma entrevista em que afirmou não entender qual era do jurídico da Fox e negar a sinopse do filme, Josh Trank CONFIRMOU que aquela era, sim, a sua conta oficial do Twitter. Devin Faraci, que conduziu a entrevista, chegou a aconselhar que ele fosse atrás de ter uma conta verificada, pra que tudo o que saísse de lá fosse tido como oficial de fato.

Quando foi deletada, a conta não tinha aquele TIQUE provando que é oficial. E, aliás, você pode vê-la aqui, devidamente CACHEADA pelo Google. :)

O Twitter tem uma política que permite que os usuários da rede possam criar perfis que funcionam como sátira, mas deixa claro que é expressamente proibido se passar por alguém. Nesse caso, o próprio twitter informa que a tal conta foi desativada, e depois de um tempo verificando as informações. Mas, em relação ao @josh_trank, diz apenas que não existe. Nada além disso. Somando isso à rapidez com que aconteceu, podemos afirmar que ela foi deletada sumariamente por quem quer que a tenha criado.

Mais estranho do que isso é o silêncio da Fox – no caso de qualquer companhia do tamanho da empresa da raposa, o monitoramento de imprensa e redes sociais teria acionado a luz vermelha a partir do momento que todo mundo saiu publicando um monte de matérias a respeito das informações que Trank publicou na Twitter. E não demoraria até que o departamento de relações públicas fizesse algum tipo de declaração oficial a respeito. Mas até agora, nada. O silêncio continua. Ninguém veio à público dizer se aquele era o Josh, se não era... Ficou, basicamente, todo mundo no vácuo.

O Borbs ainda mandou mensagens para o twitter dos quatro atores, pedindo pra que eles confirmassem se @josh_trank era mesmo o diretor, mas, ÓBVIO, foi ignorado. :P

É engraçado que, depois do festejado anúncio de Trank como diretor (depois do excelente trabalho em Poder Sem Limites, que é uma forma inteligente e ousada de retratar o universo dos super-heróis) e do quadrinista Mark Millar como consultor, o filme do Quarteto vem se envolvendo em uma polêmica atrás da outra. Desde a escolha de Jordan, um ator negro, para viver o caucasiano loirinho Johnny Storm, até o anúncio de que a trama não se inspiraria em nenhuma história específica, passando pelo fato de que os quatro jovens atores principais dão a dica de que a inspiração será muito mais na versão ultimate (na qual Reed Richards é praticamente um pivete prodígio) do que na versão clássica de Stan Lee e Jack Kirby à história de que poderiam, ATÉ, substituir o diretor...tudo é motivo para polêmica a extensas e intermináveis sessões de #mimimi nos fóruns de fãs. Este novo Quarteto passa muito, mas muito longe de ser unanimidade.

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O elenco principal no Twitter de Kate Mara: filmagens acabaram?

Mas, mais engraçado ainda, é que além do elenco principal e do vilão, pouco ou quase nada se sabe sobre o filme. Não existe qualquer informação sobre a sinopse oficial – afinal, qual vai ser mesmo a história? Nenhum detalhe, nenhum spoiler mínimo chegou a vazar nas redes sociais? Neste novo universo dominado por celulares com câmeras de alta resolução, não vazou uma mísera foto? Ainda mais depois que Kate Mara (Susan Storm/Mulher Invisível) postou uma foto no Twitter com Miles Teller (Reed), Michael B. Jordan (Johnny) e Jamie Bell (Ben Grimm/O Coisa) agradecendo o trabalho ao lado deles e dizendo que as filmagens estão finalizadas.

MAS HEIN?! A única foto das filmagens é para dizer que elas acabaram e ainda é postada por uma das atrizes? Oi!? Não apareceu ninguém na janela?

Das duas uma: ou a equipe de comunicação que está trabalhando com este filme é boa o bastante para conseguir tapar qualquer buraco/vazamento ou então eles estão rodando The Fantastic Four em um estúdio na Coreia do Norte. Duvidamos, honestamente, que seja o caso — e também não conseguimos considerar exatamente BOA uma equipe de comunicação que se preocupa mais em evitar que se comunique qualquer coisa.

Atualmente, em termos de boatos, apenas as especulações sobre a presença do exército robótico do Doutor Destino, os Destinobôs, e a respeito dos tais planos futuros da Fox, com seu filme misterioso para 2018 – que poderia ser a sua versão particular dos Vingadores, colocando o Quarteto e os X-Men frente à frente (sim, sabemos que este último é um boato pra lá de exagerado).

Pensamentos sobre o futuro filme

Sem saber nada a respeito da trama, eu aceito que as pessoas critiquem as escolhas dos atores baseadas em seus trabalhos anteriores. Eu reclamei do Ben Affleck como Batman não porque ele não é parecido com o Bruce Wayne, mas sim porque vi outros filmes com ele e o acho um ator medíocre, mediano demais. Mas, Matt Damon tem razão, Batman não é Shakespeare e então estou disposto a dar o benefício da dúvida. O mesmo vale pro Jesse Einsenberg como Lex Luthor – eu pensava num Luthor mais velho e mais maquiavélico. O que me incomoda pacas é que, pelo menos nos últimos filmes dele que vi, o sujeito foi quase um clone do Michael Cera, interpretando no piloto automático. Mas, tudo bem, tenho minhas ressalvas, só que estou disposto a dar o benefício da dúvida. Agora… se você está criticando o ator apenas por uma foto, porque seus afiados instintos dizem, olhando para o sorriso do sujeito em uma foto de divulgação, que ele vai ser um fracasso, você está agindo exatamente como aqueles que criticaram a escolha do Hugh Jackman para o Wolverine (“ah, este ator australiano desconhecido e com cara de engomadinho?”) ou a escolha do Heath Ledger para o papel de Coringa (“ah, o cara que fez o cowboy gay? Vai ficar um lixo!”). E isso é o tipo de coisa que acho que beira o ridículo.

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Vamos esquecer? :)

Vamos lembrar dos dois filmes originais? Chris Evans, nosso atual Capitão América, encarnou um Tocha Humana perfeito, jovial e piadista como nos gibis. Embora a maquiagem tenha ficado meio ridícula, tipo borracha amassada, o Coisa de Michael Chiklis também funciona bem e tem a personalidade “durão de bom coração” bem adequada. E mesmo o Reed Richards de Ioan Gruffudd, embora não seja tão genialmente irritante quanto o dos quadrinhos, tudo bem, ainda funciona. O lance pegou mesmo na Sue Richards de Jessica Alba (mais chatonilda do que maternal, o que faria mais sentido) e principalmente na tenebrosa visão do Doutor Destino de Julian McMahon – que não é um ditador genial tentando dominar o mundo, mas sim um riquinho recalcado com dor de cotovelo porque perdeu a garota para o CDF da turma. No geral, no entanto, entre erros e acertos, até que o diretor Tim Story foi bastante fiel aos gibis. E por isso o resultado ficou bom? Não. O resultado foi um par de histórias pueris e que em nada acrescentaram à trajetória da família superpoderosa da Marvel Comics. Tudo depende, portanto, de um bom roteiro. X-Men: Primeira Classe é um excelente exemplo. E Primeira Classe está longe de ser um primor de fidelidade aos quadrinhos originais. Mas sabe captar o mais importante: o espírito da HQ original.

O Quarteto em sua versão Ultimate

O Quarteto em sua versão Ultimate

Faz todo o sentido que Reed seja vivido por Miles Teller porque o jovem gênio é, na versão ultimate, o mais jovem integrante da equipe, um menino-prodígio. Kate Mara também é uma escolha adequada porque Sue é uma garota ainda, pensando nesta versão ultimate. Mas uma garota quase tão inteligente quanto Reed e que, em muitas ocasiões, assume a posição de liderança do time. Na versão ultimate, antes de se tornar o Coisa, Ben Grimm não é um grandalhão do tipo caminhoneiro, mas sim um cara maior e mais velho (mas não necessariamente uma massa de músculos) que é amigo do jovem gênio antes de ambos entrarem no projeto cientifico do Edifício Baxter que os apresenta a Sue. Então, Jamie Bell também funciona – considerando ainda que, assim que ele se tornar o gigante de pedra, sabe-se que ele será totalmente CGI via captura de movimentos, como foi o Hulk de Mark Ruffalo em Os Vingadores. Esqueça viagem de foguete e raios cósmicos em uma missão para bater a Rússia. Aqui, eles ganham os poderes depois de um experimento no que parece ser a Zona Negativa.

Ah, você deve estar se focando na seleção de Michael B. Jordan para ser Johnny Storm/Tocha Humana, certo? Especialmente porque ele é negro, e não porque é um bom ator? Hum. Bom, olha só, eu geralmente não tenho nada contra estas inversões étnicas caso a cor da pele não seja um elemento definidor do personagem. Em nada me incomodou o Rei do Crime de Michael Clarke Duncan em Demolidor porque, honestamente, tanto faz ele ser branco ou negro. O mesmo vale pro Perry White de Laurence Fishburne em Homem de Aço. Isso não muda o personagem. Mudaria, por exemplo, se o Pantera Negra ou o Luke Cage fossem brancos, porque o fato de ambos serem negros têm muito a ver com a personalidade dos personagens. Para Johnny Storm, honestamente, em nada impacta ele ser negro ou branco, tanto faz.

Teríamos um problema, porém, se fizessem com ele o que fizeram com a Jessica Alba nos filmes originais: clareia a pele, lente de contato azul... Aí, não.

Eu acho que os quatro atores são boas revelações. Merecem atenção. E confio no diretor – ainda mais porque, insisto, ele provou que sabe lidar com o gênero “jovens super-heróis” em um filme como Poder Sem Limites. Não me importa que o estúdio seja a Marvel ou a Fox. Me importa que seja um bom filme. E bons filmes são feitos de bons roteiros, bons diretores, bons atores. Até agora, aparentemente, eles acertaram em dois itens da lista. Vejamos se acertam no terceiro. No caso deste filme, aliás, temos ainda um quarto item: o vilão. Que vai ser o Doutor Destino. Eis que as minhas preces começam desde já. Porque eles vão se basear na versão ultimate do Quarteto e, nesta versão, o Destino é uma BOSTA, bem menos interessante do que a sua versão do Universo 616. Se eu tenho um pé atrás com este filme, este é o único.