Nova imagem de Batman vs. Superman já mostra que o grande vilão Darkseid está no horizonte… Mas você sabe quem é ele? E quem é essa galera de Nova Gênese e Apokolips, que deve ter um espaço especial no futuro filme da Liga da Justiça?
Batman VS. Superman: A Origem da Justiça terá Lex Luthor, Apocalypse, Mulher-Maravilha, além de, claro, Batman VERSUS Superman. Tá bom ou quer mais?
Na última edição da revista Empire , na matéria gigante dedicada ao filme de Zack Snyder, uma foto mostrava o Batman encarando um gigantesco ÔMEGA desenhado no solo e, ao longe, uma cidade destruída.
Vai, espero um segundo pra você responder o que esse Ω representa...
ISSO! Um doce pra você que respondeu Darkseid.
Daí a dizer que “OMG, Darkseid vai estar em Batman vs. Superman, GENTE!” é caminho beeeem mais longo. Não que ele não possa fazer uma aparição, uma ponta, alguém citar o nome dele ou aparecer numa cena pós-créditos, mas o buraco é mais embaixo... E atende pelo nome de Liga da Justiça e, de LAMBUJA, ainda traz toda uma mitologia que vai além de uma simples 24ª letra do alfabeto grego que, no sistema numérico deles, tem o valor de 600...
Jack Kirby é um nome que, quase que imediatamente, identificamos com a Marvel Comics. Afinal, ele é o co-criador de personagens icônicos como Capitão América, Thor, Quarteto Fantástico, Hulk e tantos outros. Ao lado de Stan Lee, o quadrinista formou a dupla Lennon-McCartney das HQs, incluindo uma pitada a mais de polêmica. Acontece que Kirby se encheu da Casa das Ideias. Já havia um certo estranhamento há algum tempo, mas isso piorou em 1970, quando a Marvel ofereceu um novo contrato para o cara. Era um documento que trazia diversas retaliações caso Kirby entrasse na Justiça contra a Casa das Ideias.
Descontente, Jack Kirby já estava negociando uma ida para DC Comics. Dizem que esse processo levou quase dois anos, com a mudança concretizada no final de 1970. Era como se John Lennon saísse dos Beatles, fosse pros Rolling Stones e, inicialmente, tocasse banjo na nova banda pra não tirar o emprego de ninguém — um dos pedidos do Kirby é que a DC desse para ele um dos títulos de menor vendagem da editora, um que estivesse pra ser cancelado. Assim foi: Kirby assumiu o roteiro e a arte de Superman’s Pal Jimmy Olsen a partir da edição 133, de outubro de 1970.
Jimmy Olsen, a revista, era o começo de um projeto ambicioso: o Quarto Mundo, uma metasérie de HQs interconectadas, com toda uma nova mitologia criada e desenvolvida por Jack Kirby. Outros três novos gibis foram lançados em fevereiro do ano seguinte: Forever People, Mister Miracle e New Gods. Conceitos que, anos antes, ele tinha pensado em aplicar com gibi do Thor, mas a ideia não foi concretizada.
A primeira aparição de um dos personagens dessa nova mitologia foi na edição 134 de Superman’s Pal Jimmy Olsen, quando é revelado que Morgan Edge está recebendo ordens de um vilão mais poderoso por um monitor. O nome do cara? Darkseid. Ele apareceria novamente poucos meses depois, com o corpo completo, em Forever People #1.
Jack Kirby sabia construir um enredo como ninguém, inclusive usando o suspense para apresentar os vilões aos poucos. De qualquer forma, eventualmente foi estabelecido que Nova Gênese, daqueles deuses guiados pela bondade e a moralidade, e Apokolips, dos maléficos e cruéis, eram planetas irmãos criados depois da destruição de Urgrund, o lar dos “velhos” deuses – e que os habitantes desses dois lugares possuíam grandes poderes por conta da proximidade com a “Fonte”. O quadrinista nunca contou quem habitava o antigo planeta, mas SUBENTENDE-SE que eram os deuses da mitologia clássica.
De certa forma, dá pra interpretar os Novos Deuses surgiram após a morte dos deuses de Argard no Ragnarok... Uma referência aos seus planos iniciais. :)
Tempos depois nasceu o filho do rei de Apokolips, Uxas. Com sede pelo poder, ele roubou a Força Ômega do irmão Drax, matando-o em seguida. Usando o novo poder em si mesmo, Uxas teve o corpo transformado em algo parecido com pedra e, a partir daí, assume um novo nome: Darkseid. O Ômega, claro, se tornou o seu símbolo.
Após disputa de sexo, lutas e envenenamentos que fazem Game of Thrones parecer ideia antiga (apesar de ser bem mais leve que a série da HBO...), Darkseid matou a própria mãe, Heggra, e assumiu o trono do planeta com mão de ferro. Junto dele surgiu todo um novo panteão de deuses malignos, como Desaad (inspirado, em nome, no Marques de Sade, além de ser o responsável pelas torturas), Vovó Bondade (responsável por criar os futuros guerreiros de Apokolips, pelos quais demonstra um amor brutal), Lobo da Estepe (titio do Darkseid), Glorioso Godfrey (que tem a habilidade de persuadir pessoas) e Grande Barda (uma das Fúrias Femininas, uma tropa de elite de Apokolips). Além deles, tem os filhos do tirano: Órion, Scott Free e Kalibak.
Scott é, na verdade, filho do Pai Celestial, o senhor de Nova Gênese, só que um troca-troca aconteceu há muitos anos, quando havia uma guerra devastadora entre os planetas. A ideia é que o príncipe de Apokolips fosse viver como parte da família real de Nova Gênese, enquanto o príncipe de Nova Gênese fosse passar a vida com a realeza de Apokolips. Isso, na teoria, botaria fim nas inimizades.
Scott foi criado pela Vovó Bondade, que, apesar do nome, era bem sádica. Eventualmente, o jovem se descobriu um grande escapista, fugiu de Apokolips e veio parar na Terra, indo morar num circo. Lá ele não só elevou as habilidades no escapismo, como acabou assumindo o nome de Senhor Milagre.
Órion, o verdadeiro filho de Darkseid, teve uma vida melhor. Criado diretamente pelo Pai Celestial, aprendeu a controlar seu ódio e raiva. Em Nova Gênese, Órion passou a fazer parte de um time de deuses com caras como Metron (maior cientista e inventor do planeta) e o Povo da Eternidade (Belos Sonhos, Grande Urso, Mark Moonrider, Serifan e Vykin, que podem se unir e formar o Homem-Infinito). Órion também se apaixonou pela Grande Barda, que foi integrar o time de mocinhos do universo.
Apesar das duas raças se odiarem, existiria um certo equilíbrio se não fosse por um antigo sonho de Darkseid: a Equação Anti-Vida, que permitiria a quem a obtivesse a força de vontade de qualquer raça. Basicamente, a tal equação faz com que a vontade das pessoas se torne a vontade de quem as controla. Foi por causa dessa equação que Darkseid começa a agir na Terra, cruzando o caminho de Jimmy Olsen e do Superman.
Jack Kirby propunha algo inimaginável até então, uma junção psicodélica do cotidiano das grandes cidades, das gangues, ficção científica, mitologia e realeza. Só que, por diversos motivos, a iniciativa não deu certo, não ao menos como era o planejamento do quadrinista. A DC acreditava que era necessário que seus personagens estivessem dentro de um certo padrão, por causa dos produtos licenciados – e o traço de Kirby para Superman e Jimmy Olsen estava bem longe disso. Por isso, os editores passaram a pedir que Al Plastino e, depois, Murphy Anderson retocassem os traços ou até, em alguns casos, refizessem completamente os rostos dos dois personagens.
Vale dizer que esse procedimento acontecia com outros artistas da casa, apesar de não ser algo tão comum. De qualquer forma, isso incomodava muito o Kirby.
Também demorou um pouco para os leitores entenderem toda essa inovação. Eventualmente, as vendagens dos títulos do Quarto Mundo começaram a subir e a DC passou a pedir que Kirby trouxesse personagens diferentes que não tinham decolado em outros títulos, como o Desafiador, para participações especiais. O quadrinista não gostou nada da ideia e ficou no meio do caminho: não conseguia terminar aquela história, que era pra ter um começo, meio e um fim. Forever People e New Gods foram canceladas na edição 11, no final de 1972, deixando cliffhangers pendentes. Kirby já havia deixando Jimmy Olsen meses antes, enquanto Mister Miracle foi o título que durou mais, indo até 1974.
Em 1973, o quadrinista Jim Starlin ficou tão encantado pelas histórias do Quarto Mundo que resolveu criar um Darkseid para a Marvel chamar de seu. Era o Thanos.
Ainda na DC, Jack Kirby se envolveu com diversos outros títulos, mas sentia falta de uma liberdade criativa e editorial. Acabou retornando para a Marvel em 1976, mas deixou na DC todo uma vasta mitologia que, na mão de outros roteiristas, inspirou outras grandes sagas nas décadas seguintes. Nos anos 1980, a DC chamou Jack Kirby para finalizar aquelas histórias, mas vetou que o quadrinista matasse Darkseid e Órion no final, como era o plano dele.
Apesar de Darkseid e sua trupe terem aparecido, pela primeira vez, num gibi de um personagem secundário do Superman, eles são muito maiores do que isso. O Quarto Mundo é uma das maiores criações de Jack Kirby, e certamente a maior criação dele na DC.
Gastar Darkseid em Batman vs. Superman seria um desperdício de munição – mas faz total sentido sim trazer os primeiros detalhes dessa guerra maior agora, com os malvados de Apokolips agindo pelas sombras, preparando terreno para serem os maiores vilões dos filmes da Liga da Justiça.
Os elementos estão nos trailers, inclusive. Se sabe que BvS tem toda uma sequência de delírio do Batman, aquela na qual ele é desmascarado pelo Superman e que está nos trailers divulgados até aqui. Há outra sequência nos vídeos de divulgação, com a mesma fotografia do delírio, no qual o Batman aparece lutando com o que parecem ser vários Parademônios em volta. E sim, Parademônios são justamente os minions de Darkseid.
A tal foto do Ômega desenhado no chão segue essa mesma lógica da paleta de cores do delírio/sonho/pesadelo. Ou seja, a visão do Batman traz o perigo alien não só do Superman, mas também de Apokolips. Aliás, esses poços de fogo ao fundo indicam que a cidade ali atrás, mesmo que não seja real, é em Apokolips.
O Homem-Morcego não tem poderes, muito menos sonhos premonitórios. Por isso, é razoável achar que esses delírios possam ser causados por uma força maior. Afinal, ter pesadelo com algo que você conhece é uma coisa, mas VER outra que você ainda conhecerá já é mais difícil.
Há, entre os Novos Deuses, alguns personagens que poderiam fazer isso. Um deles é justamente o Glorioso Godfrey, que, no crossover Lendas, por exemplo, convence a população dos EUA a odiar suas lendas – ou seja, os super-heróis. Nos cinemas, não é difícil imaginar a vantagem que Godfrey ganharia com esses dois heróis lutando entre si e se matando.
Sim, eu sei que nós vimos Lex Luthor nos trailers, além de indícios de que o conflito entre Batman e Superman seria, de alguma forma, manipulado por ele e pelo Coringa. Mas os ASSECLAS de Darkseid poderiam estar por trás disso, da mesma forma que estavam por de trás do Morgan Edge naquelas primeiras histórias do Kirby.
Pode parecer rápido? Pode. Mas a DC precisa correr pra construir o Darkseid dos seus DC Filmes o quanto antes, se realmente quiser usá-los no filme da Liga da Justiça, que já estreia em 2017.
Uma trajetória que já começou.