Aproveitando a estreia de Bingo – O Rei das Manhãs nos cinemas nessa quinta-feira, vamos relembrar um outro filme recheado de palhaços… :D
No dia 05 de Fevereiro de 1996, mais precisamente às 15h15, a história da TV brasileira era mudada. Estreava na programação da Rede Bandeirantes de Televisão (até então O CANAL DO ESPORTE), o Cine Trash, ou então “O TERROOOOOOR DAS TAAAAAAARDE”, como bem dizia seu host infernal, Zé do Caixão, que chegou exibindo Halloween 4: O Retorno de Michael Myers (rebatizado para Halloween 4 – O Dia das Bruxas).
Mas foi apenas no dia 21 seguinte, uma segunda-feira, que o televisivo diário famoso por reunir o crème de la crème do que há de pior no cinema lixoso de horror, transmitiu pela primeira vez para nossos lares o mais icônico filme sobre BUFÕES já realizado na sétima arte: Palhaços Assassinos do Espaço Sideral.
Com o título encurtado para Palhaços Assassinos, essa pérola saudosista escrita, produzida e dirigida pelos irmãos Chiodo marcou TODA uma geração quando VOCÊ, VOCÊ E TOOOOODOS VOCÊ chegava da escola, corria pra fazer o dever de casa, preparava seu leite com Quick de morango, passava Cremutcho nas bisnaguinhas Seven Boys e ficava vidrado na telinha da Band enquanto o coveiro eternizado por José Mojica Marins rogava A PRAAAAAAGA DO DIA.
Pense o quão insólito isso seria nos dias de hoje: uma sessão de terror bagaceira que não economizava em mortes, gore e nudez, sendo exibida durante a tarde, de segunda à sexta. Mais marginal e anárquico, impossível! Mais um dos motivos pelos quais a gente reforça que a televisão no Brasil dos anos 90 é digna de estudo.
Pois bem: Palhaços Assassinos do Espaço Sideral é a EPÍTOME DA GALHOFA ultrajante do terrir, aquele terror maroto misturado com comédia, no qual um clã de terríveis arlequins alienígenas aterrissa na pacata cidade de Crescent Cover, no interior americano, e monta seu picadeiro nave-mãe apenas para capturar alguns humanos para transformá-los em sua colheita de algodão-doce e se alimentar de seus fluidos vitais.
Tipo... sério. :D
Isso, é claro, sem nenhum peso na consciência de matar alguns pobres diabos terráqueos no caminho, se valendo de todo tipo de traquitana e truques circenses mortais, como metralhadoras de pipoca, bolas gigantes tipo aquelas da DIC, sombras de dinossauro projetadas na parede que ganham vida e engolem as vítimas, cachorros farejadores feitos de balões, línguas de sogra que estrangulam policiais e, óbvio, marretas gigantes.
A zueira sem limites dos irmãos Chiodo conseguiu ainda chegar ao absurdo de viajar tanto na maionese que um dos personagens afirma que os palhaços alienígenas visitaram a Terra milhões de anos antes e são, na verdade, os antigos astronautas. Imagina a cara do Erich von Däniken ao ouvir isso? Teorias afirmam ainda que o sol do planeta deles está morrendo e os seres estão em busca de um novo lar, que talvez NÓS mesmos tenhamos sido criados pelos palhaços e sejamos seus experimentos ou que simplesmente eles tavam de rolê pela galáxia e pararam na Terra para fazer um lanchinho. Fato é que a verdade nós nunca saberemos, já que em nenhum momento a fita tenta explicar suas origens e motivações.
A produção é um escracho só, que acertadamente não se leva a sério desde seu título, passando pela música-tema, escrita e gravada pela banda punk The Dickies, e pelos personagens propositalmente bisonhos. Por isso muita gente julga o filme como trash do mais baixo nível — mas não é bem por aí não. Afinal, a produção teve impressionantes DOIS milhões de dólares de orçamento e quase toda essa verba foi gasta nos efeitos especiais e de maquiagem, feitos com muito esmero e, diacho, são bem interessantes para a época, temos de admitir. Já vimos muuuuuita coisa pior, inclusive nos dias de hoje.
Os irmãos Stephen e Charles Chiodo manjavam do riscado e foram os responsáveis, por exemplo, pelo design e efeitos especiais dos critters, as simpáticas e carnívoras bolas de pelos alienígenas de Criaturas, outro saudoso sci-fi B dos anos 80. Então vemos toda sua expertise com protéticos, látex e até mesmo o vilão final, Jojo, o Klownzilla, que originalmente seria feito em animação stop motion, mas acabou interpretado pelo próprio Charles, pau pra toda obra, usando uma roupa de borracha.
Distribuído, vejam só, pela MGM, Palhaços Assassinos do Espaço Sideral não foi um big hit nas bilheterias, mas tornou-se cult ao ganhar espaço no VHS, como muitas destas produções naqueles idos e, claro, aqui no Brasil Varonil, graças às suas QUATRO reprises durante a curta existência do Cine Trash, entre fevereiro e outubro de 1996.
Por muito tempo, uma sequência foi ventilada pelos Chiodo. Chegou até a ganhar uma data de lançamento inicial, cravada para 2012, que não se tornou realidade, e no ano passado para ser mais preciso, Stephen falou em entrevista ao podcast do Adam Green, The Movie Crypt, sobre a ideia de uma sequência / remake (que ele chamou de “requel”) em desenvolvimento, com uma nova turma experimentando o fenômeno da invasão dos palhaços espaciais, tendo de se unir aos personagens do original, e assim descobriremos o que aconteceu com eles nos últimos quase 30 anos. Tinha até um título cravado: Killer Klowns From Outer Space in 3D.
Na mesma prosa, surgiu a possibilidade de tudo isso virar uma série para a TV. Mas pelo próprio teor da conversa, não dá para saber se alguma coisa ali é verdade, ou só os irmãos fazendo PALHAÇADA com os fãs. “É uma trilogia em quatro partes”, soltou ele. OI? ;)
O que importa de verdade é que Palhaços Assassinos do Espaço Sideral é o divertido retrato de um tempo bom que não volta nunca mais. Para sorte dos COULROFÓBICOS.